28.7.14

Perdidos e não achados



«Para onde quer que nos voltemos, os sinais de que Portugal é hoje um país à deriva são manifestos. Com a saída da troika tornou-se ainda mais evidente que o Governo não tinha qualquer agenda que não fosse fazer a dobragem para português, por vezes com erros dolosos de tradução, das exigências dos nossos credores. Confundindo os efeitos com as causas, a austeridade falhou. Depois de três anos de destruição da economia, do emprego, dos direitos sociais, depois de a própria troika, através do FMI e da Comissão Europeia, ter admitido erros de concepção no memorando (algo que o Governo nunca fez com seriedade e de forma escrita), o País mergulha em cheio num novo turbilhão, que destrói ainda mais a confiança no sistema financeiro. As causas da doença prevalecem sempre sobre os seus sintomas. Se o Governo emudece, deixando-se humilhar (e ao País) no processo da adesão da Guiné Equatorial à CPLP, ou sacudindo os ombros perante o que parecem ser graves erros de gestão na TAP, do lado da oposição, o debate interno no PS desnuda um abismo entre o excesso de pompa retórica e a escassez de ideias alternativas operacionais. Ser oposição de esquerda não dispensa, antes exige o esforço de pensar. É verdade que ainda não temos petardos a rebentar nas ruas, como na I República, mas há algo de profundamente violento no modo como o improviso, a ausência de conhecimento e reflexão, ou a pura sanha destruidora (veja-se a "política de ciência", desenhada com bazuca), tomaram conta dos destinos do País. Estamos no deserto, sem bússola. As nações também podem morrer de sede. Quando lhes falta a promessa líquida do futuro.»

Viriato Soromenho-Marques

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