10.10.14

Educação: nada «esclarificado»



«Depois do famoso pedido de desculpas – seguido de várias promessas –, o ministro da Educação veio agora dizer que não prometeu aos professores a manutenção do lugar. "Disse 'mantêm-se'. Não disse 'manter-se-ão'". O Governo entrou na fase "não leram as letras pequeninas" – é muito comum acontecer quando fazemos negócio com gente sem escrúpulos. Perante as justificações do exigente Crato, penso que é possível os alunos usarem os mesmos estratagemas semânticos quando responderem nos exames: "Eu disse que Fernando Pessoa tinha, pelo menos, um heterónimo".

Depois de ter errado na fórmula matemática de colocação dos professores, Crato começa, também, a tropeçar no português. Na sua aparição na televisão, Crato disse que vinha "esclarificar" a situação... Esclarificar é uma mistura de esclarecer com clarificar, que dá uma substância esponjosa, e pouco consistente, como se viu pelas justificações do ministro. Posso garantir que não fiquei nada esclarificado. Aliás, fiquei envergurioso: que fica ali entre o envergonhado e o furioso. As desculpas do ministro dão vergonha alheia e enfurecem porque são feitas como se aquelas pessoas e famílias (que tinham começado uma vida nova, há três semanas, e agora viram todos os seus planos destruídos) fossem mesas de escola ou estojos de química. "Vão lá buscar a família Saraiva a Beja, que afinal eles eram para ir para o depósito em Cinfães." (...)

Quem devia pedir a demissão de Crato eram os mesmos que dentro do Governo quiseram a demissão de Relvas. Na verdade, mais vale tirar o curso como tirou o Relvas do que apanhar um professor desonesto como o Crato. Nada como acabar com mitos de honestidade e competência. Não estou a falar do Zeinal, mas do Crato. Faltava pôr o Medina nas finanças (outra vez).»

João Quadros

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