7.11.14

Nem capitalistas temos



«Existem muitos milionários em Portugal. Mas as nossas maiores fortunas derivam do retalho, do comércio de artigos de mercearia ou de rolhas. E isso não faz um capitalista. Da mesma maneira que os ingleses dizem que são precisas três gerações para fazer um lorde, também um capitalista não se cria de um dia para o outro. Até há algumas semanas, Portugal só tinha um verdadeiro grupo capitalista. A família Espírito Santo era o nosso equivalente dos Rothschild ou dos Rockefeller. Tinham bastante menos dinheiro, mas o mesmo estilo, a mesma forma de exercer e manipular o poder, a mesma visão de domínio absoluto. Faliram. Não sobrou nada comparável. (...)

O caso da PT é sintomático. A PT não é só uma empresa de telecomunicações. É a mais destacada fonte de inovação no nosso país. (...) Num momento em que se perdem tantos talentos, que emigram ou ficam no desemprego, esta será a machadada final na oportunidade de, enquanto comunidade, fazermos parte do mundo. Caminhamos para uma condição absolutamente periférica. Uma espécie de "interior" da Europa. Pobre, desqualificado, sem capacidade de investir no futuro.

Que o Governo não reaja é normal já que, desde o início, assumiu como missão a defesa do interesse dos nossos credores e não os do país. (...)

Mas que a sociedade também não reaja é mais grave. Mostra o estado de adormecimento a que se chegou. Vendeu-se a EDP, a REN, a ANA, a Fidelidade, os escombros do BES, segue a PT e depois a TAP. Tudo a estrangeiros. E os portugueses resignam-se. A maioria dos países, com os quais nos queremos sempre comparar, não o permitiria. (...) Sem mais nada para vender, sem verdadeiro capitalismo, estamos destinados à condição de empregados dos outros. Somos os Moedas e os Manuel Pinhos dos donos disto tudo.»

Leonel Moura

1 comments:

Victor Nogueira disse...

Bem, por esta ordem de raciocínios os banqeiros, que nada produzem, não são capitalistas ? E Bill Gates mais o dono do facebook, não são capitalistas ? Nem o Carlos Slim e o Henry Ford I, que começaram do nada ? O "Kapital" português é mais patriótico, nacionalista e não apropriador da mais-valia ou d"democrático" e "altruísta" que o capital doutro qualquer país ? Mas, o "Kapital" já não ultrapassou a fase da acumulação nacional para se tornar ... transnacional, "desmaterializando-se" em bits ?