19.12.14

Procrastinar



«Olhando para trás, para o início de 2014, o que me apetece dizer é que este foi um ano perdido. O Governo deixou muito por fazer e, nos últimos meses, as indecisões, os atrasos e a falta de capacidade de concretização tornaram-se regra. É como se a ideologia reinante fosse a procrastinação – não faças hoje o que não te apetece que aconteça amanhã. (...)

Este é, sobretudo, o ano daquilo que não aconteceu – mesmo que alguns episódios laterais, como o caso da corrupção nos vistos gold, a queda do BES e de Ricardo Salgado e a detenção de José Sócrates possam parecer indícios de mudança. Lamento muito ter opinião contrária – tudo isto foram distracções, areia lançada para a ventoinha de forma a tornar a visão menos clara e fazer esquecer a falta de mudanças de fundo. Nada do que se passou faz mudar o regime, embora até possa ser justo que algumas coisas tenham acontecido. (...)

Este é o ano em que se completam quatro décadas sobre a mudança de regime, em 1974. Seria curioso estudar quanto dessas décadas foi tempo perdido, agora que temos quase tanto tempo de democracia como de ditadura. Hoje, finalmente, começamos a ter uma ideia de que, em termos de país, a nossa mudança foi fraca, pouco produtiva e que gerou muita corrupção e um sistema político-partidário mais do que suspeito. Não é um bom retrato de quem entra nos quarentas.»

Manuel Falcão
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