5.7.14

Tesouros guardados a sete chaves (3)



Concluo a série, começada aqui e depois continuada, sobre os locais em que teria muita pena de não ter estado. Ou, pela positiva, monumentos ou paisagens que me marcaram especialmente e que guardo a sete chaves na arca dos tesouros. Haveria mais, muitos mais...


Glaciar Mendenhall, Juneau, Alasca, EUA


  
Estação do Caminho de Ferro, Maputo, Moçambique


 
Tortuguero, Costa Rica


 
Elefantes do Orfanato de Pinnawela, Sri Lanka



Lago Inle, Birmânia



Ilha do Pico, Portugal



Praça da Cidade Velha, Praga, República Checa



Les Deux Magots, Paris, França



 Central Park, Nova Iorque, EUA



Praça Florians, Garmisch, Alemanha
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Lido por aí (69)

Ler para crer



Lê-se a notícia e não é fácil acreditar: na proposta de municipalização das escolas, que o Ministério da educação está a negociar com autarcas, foi incluído um «factor de eficiência» que «premeia as câmaras que trabalhem com um número de docentes inferior ao tido como necessário para o respectivo universo escolar». Ou seja: se foi definido que determinada população estudantil deve ter 400 docentes ao seu serviço, a autarquia pode deliberar que fique apenas com 380 (é estabelecido um tecto máximo de 5% para a redução). Se o fizer, receberá 250.000 euros correspondentes a 50% do que o ministério poupa por não serem contratados – ou serem despedidos – 20 professores.

Aparentemente, a operação será julgada a posteriori e os resultados dos alunos não podem piorar, sem que se perceba exactamente o que se passa se tal acontecer: fica o ministério com 100% da poupança? Julgo que sim... E os alunos? Who cares!

Gostava muito de saber em que sistema de gestão por objectivos se inspirou o governo para mais esta ideia peregrina. Eu que levei décadas a ser avaliada, e a avaliar outros (quando ainda quase ninguém sabia sequer do que se falava, neste canto europeu que não ia em modernices), segundo planos de desempenho que criticávamos por os considerarmos sempre limitados ou inatingíveis, curvo-me perante esta prova de genialidade que hoje conheço. É de homem! E coitados dos nossos filhos ou dos nossos netos... 
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«Ganhar tempo»



Gustavo Cardoso, no Público de hoje:

«Se ganhar tempo é o que passámos o tempo a fazer nos últimos três anos na Europa então, em Portugal, estamos mesmo “lixados com um F grande” ou, pelo menos, é isso que se depreende do relatório apresentado na quarta-feira pela OCDE “Grandes desafios de política dos próximos 50 anos, um novo rumo a tomar”.

“Ganhar tempo” é a expressão que costumamos utilizar para definir a não acção ou o interregno em que se acha que devemos esperar até chegar o momento certo, porque o sucesso do empreendimento não depende de nós. “Ganhar tempo” é um instrumento político, mas não pode ser a norma do exercício político.

Onde se observa hoje o “ganhar tempo”? Observa-se no BCE, ao inundar a Europa com euros (embora por via indirecta). Observa-se na gestão dos próprios bancos, ao elegerem-se a si mesmos como principal destinatário da ajuda e não as empresas nacionais. Observa-se nas lutas partidárias, centradas nas imagens dos candidatos e não na discussão de ideias ou programas de acção. Observa-se nas diferentes governações dos últimos três anos em todos os países do euro, ao apostar no gerir o que temos e não arriscar em fazer novo. (...)

Os tempos que se avizinham não são tempos de "ganhar tempo", mas sim tempos de escolher governar e mudar.

Para os estados nacionais há também duas opções claras no que respeita à justiça social. A primeira opção para os estados é seguir o actual caminho de incapacidade de controlar a mobilidade e, portanto, deixar de taxar as maiores empresas e os trabalhadores de maiores rendimentos. Isto é, aqueles que são mais móveis internacionalmente e menos enquadráveis pela fiscalidade nacional. (...)

A alternativa é menos fácil, mas é tanto possível quanto mais justa. Uma cooperação regional e, progressivamente alargada, ao nível das taxas base de imposto praticadas para empresas com potencial de internacionalização e para trabalhadores especializados de elevada mobilidade.

E, por fim, algo que a OCDE não quer encarar como solução mas que cada vez mais surge como inevitável, pelo menos no caso português, uma maior taxação do património financeiro individual ou empresarial acima de, pelo menos, um milhão de euros e dos rendimentos salariais dos ultra-ricos, incluindo complementos salariais. (...)

Só resta fazer a pergunta-chave aos diferentes protagonistas que se estão a alinhar para as eleições legislativas de 2015 e comparar respostas: vens para governar ou para ganhar tempo?»

(Link acessível para alguns.) 
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Foi mais ou menos isto


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4.7.14

O rato e o anjo



Há um rato para cada português

Dos jornais

Anjo guardum
pra cada um

Da província

Um rato e um anjo de guarda
para cada.

Anjo defende o acto
mau,
a fazer ou a sofrer.

Rato celebra contrato?
Qual!

Rato rói,
até na orelha.
Anjo dói
de outra maneira.

Mas eis que, nestes enredos,
há dois a mais, um a menos.

Cai ao anjo a pena,
ao rato o pelame.
Um regressa ao seu enxame,
o outro à sua caverna.

E o português, desanjado,
já se vê desratizado.
Chora.

Alexandre O'Neill
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Lido por aí (68)

Carlos Kátia do Carmo Guerreiro



Tivesse Kátia Guerreiro sido galardoada com um berlinde em Alguidares de Baixo ou de Cima e a página da Presidência da República publicaria um louvor e marcaria talvez uma sessão para lhe atribuir uma comenda, nos cinco minutos que se seguissem ao anúncio do prémio.

Mas, três dias depois de se ter sabido que Carlos do Carmo ganhou um Grammy, nada consta nos anais de Belém. Note-se que, há seis anos, quando a mesma pessoa ganhou o Prémio Goya para a Melhor Canção Original, atribuído ao «Fado da Saudade», a Presidência felicitou-o, considerando que o galardão «honrava a música portuguesa».

Mas... entretanto, desde 2011, Carlos do Carmo tem sido crítico em relação à actuação de Cavaco Silva como presidente da República. É isto motivo para este silêncio? Obviamente que não, para alguém não tacanho nem mesquinho!

Duas notas:

1 – Cavaco Silva (ainda!) é presidente de todos os portugueses e Carlos do Carmo, criticando-o, não fez mais do que exercitar o seu direito à liberdade de expressão. O Tribunal Europeu de Direitos do Homem (que já condenou 13 vezes Portugal por violar o exercício desse direito) insiste em afirmar que «a grande questão na liberdade de expressão é que deve permitir a circulação de informações tanto correctas como erradas, tanto inteligentes como estúpidas, tanto bonitas como feias, tanto agradáveis como incómodas». Entendido?

2 – Deu-me um gozo especial ver Cavaco nas cerimónias em honra de Sophia, no Panteão, com Miguel Sousa Tavares na primeira fila. Ele que o tratou de «palhaço» e teve por isso um processo, arquivado pelo Ministério Público precisamente por ser considerado «que essas declarações se enquadram no direito à liberdade de expressão».

Se pelo menos fosse verdade, se Cavaco fosse palhaço, talvez nos divertisse, não? 
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Alfredo Barroso e as não-alianças de António Costa



Os meses de luta interna em que António José Seguro colocou o PS começam a ser, já são, dias e noites de facas longas. A procissão ainda vai no adro e nem é fácil imaginar o que ainda estará para vir.

Ontem, Alfredo Barroso, fundador do PS e signatário de um texto de apoio à candidatura de António Costa, publicou no Facebook um texto demolidor que fica aqui na íntegra.

A meu ver, aborda o problema essencial a que o presidente da CML não pode continuar a fugir: a questão das alianças. Dizer que «o PS é "um partido que se dirige a todos os portugueses"» não colhe, não significa nada. Até o POUS de Carmelinda Pereira dirá o mesmo e com toda a razão.

DISCUTIR O ESSENCIAL 

Aquilo a que António Costa chama, com desprezo, a «teoria do pisca-pisca», para se furtar à discussão, dentro do PS, de uma política de alianças, é, no mínimo, uma deselegância em relação àqueles que, como eu, acham que esse é um debate incontornável, face ao estado a que o partido chegou.

Mas a «fanfarronice» de António Costa (que mais parece um «sound bite» no pior estilo de Paulo Portas) é, sobretudo, uma simplificação grosseira daquilo que está em causa.

Porque não se trata propriamente de saber com que partido ou partidos o PS se coligará, caso não obtenha maioria absoluta nas próximas eleições legislativas.

Trata-se, isso sim, de saber em que condições estará o PS disposto a negociar, com os partidos à sua esquerda, uma plataforma mínima de entendimento – que não passa necessariamente por uma coligação de governo – e que deve ter em vista, fundamentalmente, a viabilização e sustentabilidade de um futuro governo do PS ancorado à esquerda.

Esta inusitada atitude de António Costa não augura, em meu entender, nada de bom.

É mesmo caso para perguntar que novas «teorias» António Costa irá inventar, para se furtar ao debate da questão do Tratado Orçamental, da questão da renegociação e/ou reestruturação da dívida, da questão das privatizações e da questão da promiscuidade entre o PS e os negócios? Será a «teoria do gato asseado», que tapa com areia as suas necessidades? Ou a «teoria da vassoura», que empurra para baixo do tapete tudo o que é desagradável?

Isto, para já nem falar de outras questões importantes que os militantes do PS têm todo o direito de ver debatidas e esclarecidas pelos candidatos às eleições primárias (completamente anti-estatutárias, diga-se de passagem!) marcadas para o próximo dia 28 de Setembro (raio de data!).

> Se o que está em causa é apenas o «combate dos chefes», independentemente das ideias e das políticas que cada um propõe, e se o objectivo é tão-só criar condições para o PS voltar ao poder, custe o que custar, e distribuir cargos e privilégios pelos «barões» - então já cá não está quem, como eu, andou, afinal, a falar para o boneco.

Se nada de essencial é para discutir porque não é oportuno, afasto-me já em bicos de pés para não perturbar o sono das hostes… 
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3.7.14

Lido por aí (67)

A garagem mais cara do mundo



Ricardo Araújo Pereira, na Visão de hoje, bem a propósito da notícia, agora oficial, que «confirma o fim dos voos charter para Beja, que estavam previstos até Outubro»:

«Mais um motivo de orgulho para o nosso país, já tão rico em recordes: a garagem mais cara do mundo fica em Portugal. Chama-se Aeroporto Internacional do Alentejo, e fica em Beja. (...)

O processo de construção da estupenda garagem cumpriu todos os trâmites da burocracia clássica portuguesa. Houve atrasos na construção, na certificação e na inauguração. Entre o fim da construção e a inauguração passou tanto tempo que o aeroporto teve de ser submetido a obras.»

Na íntegra, AQUI.
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Vejo e nem «m'acredito»!



Dizem que foi «um equívoco». Está tudo grosso, é o que é! 
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A austeridade comeu o peru



Vai-se tornando tão fastidioso insistir linearmente nas consequências nefastas da acção deste governo, que nada melhor que recorrer a imagens fortes, como Fernando Sobral o faz hoje, no Negócios.

«António Teixeira de Vasconcellos, grande jornalista do século XIX, foi um mestre da ironia. Falido, devia a toda a gente. Um dia um credor descobriu-o em casa a comer um enorme peru. Não conteve o desaforo: "Então V. Exª não me paga e come peru?"

Ao que Vasconcellos terá respondido: "Oh, homem, que quer! O peru morreu de fome". Portugal assemelha-se demasiado a um peru: morre de fome e o Governo proclama que está musculado e espadaúdo.

O fogo-de-artifício organizado pelo Governo para celebrar mais uma descida da taxa de desemprego, o que levou Passos Coelho a dizer, sem se rir, que "agora apostamos tudo no crescimento e no emprego", mostra a fundação intelectual do regime. (...) Triste peru: a taxa de desemprego desceu, mas os empregos a tempo inteiro evaporaram-se. (...)

Portugal está a tornar-se um país pobre e velho. E agora o Governo acena com políticas de emprego e com um piscar de olhos ao talento de estrangeiros que queiram descobrir aqui um El Dorado. É tarde. A austeridade comeu o peru. E agora só restam ossos.» 
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2.7.14

Tesouros guardados a sete chaves (2)



Continuo a série, ontem iniciada, sobre os locais em que teria muita pena de não ter estado. Ou, pela positiva, monumentos ou paisagens que me marcaram especialmente e que guardo a sete chaves na arca dos tesouros.

 
Grande Palácio, Bangkok, Tailândia



Livraria El Ateneo, Buenos Aires, Argentina



Rio Li, Guilin, China



Nova Orleães, EUA



Cusco, Peru



Lagoa Chaxa, deserto Atacama (4.200m de altitude), Chile



Praça Durbar, Patan, Nepal



Bergen, Noruega


 
Cartagena de Índias, Colômbia



Museu Hermitage, S. Petersburgo, Rússia
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Este problema é de todos nós


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Europa e Portugal como laboratórios



«Talvez seja cedo para anunciar que nos vamos aproximando do fim deste episódio liberal conservador. Da sua insensibilidade social, da sua crença cega na 'infalibilidade' dos mercados, na utopia da possibilidade da liberdade absoluta, no acreditar que a satisfação do interesse geral é resultado da soma da dos componentes individuais da sociedade. (...)

Aqueles que tomaram conta das políticas económicas em Portugal ainda vão pugnar pelas suas ideias que, pelos resultados, se têm mostrado estar erradas; não porque aos seus argumentos falte rigor e elegância, como afirmou Keynes e, implicitamente, todos os que foram desenvolvendo as suas teorias ao longo dos tempos, mas porque partem de pressupostos falsos e reduzem a realidade a um preconceito, a um caso especial: daí a ideia de que só há desemprego voluntário e as suas preocupação privatizadoras, sem cuidar das consequências traduzidas em destruição de emprego, em empobrecimento, na redução à expressão mínima do 'estado social', num crescimento anémico, num aumento incomportável da dívida pública.

O seu pensamento único é incompatível com o nível de civilização, cosmopolitismo e sofisticação agora atingidos. A Europa e Portugal não podem continuar a ser o laboratório destas velhas-novas teorias que aqui têm vindo a ser experimentadas. O futuro não os vai poder tolerar por mais tempo porque estes tempos estão a ser dramaticamente nefastos.»

(O link pode só funcionar mais tarde.)
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Sophia, antifascista



Os jornais e as redes sociais estão hoje inundadas por biografias e poemas de Sophia de Mello Breyner, por ocasião do 10º aniversário da sua morte e, sobretudo, porque o seu corpo será transladado esta tarde para o Panteão.

Poucos a recordam como resistente à ditadura, que foi durante décadas, até ao 25 de Abril. Nunca recusou uma presença, uma assinatura, uma voz, normalmente integrada no universo dos chamados «católicos progressistas».

Ligada durante décadas ao Centro Nacional de Cultura e à sua direcção, foi candidata pela oposição (CEUD) às eleições legislativas de 1969 e, um ano antes, escreveu um poema que muitos cantam mas poucos sabem ser de sua autoria: a Cantata da Paz, «estreada» por Francisco Fanhais numa Vigília contra a guerra colonial, na passagem do ano de 1968 para 1969 (onde Sophia esteve obviamente presente).



Vale a pena ouvi-la, em 1968, no início do marcelismo, sobre as condições de vida em Portugal, em entrevista que deu juntamente com o marido, Francisco Sousa Tavares:


Sophia passava bem sem ir para o Panteão – detesto a ideia e o que ela simboliza. Mas, já que vai, que estas memórias da resistência sigam com ela. 
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Se não têm pão, comam brioches



O IVA do pão com chouriço, com nozes, passas ou torresmos locais está mais baixo.

Esta gente, se não existisse, tinha de ser inventada!
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1.7.14

Tesouros guardados a sete chaves (1)



A propósito de uma votação no portal de viagens TripAdvisor, em que foram escolhidas «as 25 atracções turísticas mais populares do mundo», geraram-se conversas várias no Facebook, cada um contou os locais que conhecia, discutiram-se escolhas.

Eu conheço 16 das 25 listadas, não sei se são «as atracções turísticas mais populares do mundo» (julgo que não, de todo), mas decidi identificar os locais em que teria muita pena de não ter estado. Ou, pela positiva, monumentos ou paisagens que me marcaram especialmente e que guardo a sete chaves na arca dos tesouros.

Ficam aqui 10, amanhã haverá mais. A ordem não significa hierarquia de preferência: não sou capaz de a estabelecer...


Perito Moreno, El Calafate, Argentina


 
Dunas de Sossuslei, deserto da Namíbia



 Samarcanda, Uzbequistão



Machu Picchu, Peru



Vale da Morte, deserto de Atacama, Chile



Catedral da Sagrada Família, Barcelona, Espanha



Pagode de Shwedagon, Yangon, Birmânia



Ta Prohm, Angkor, Siem Reap, Camboja



Igreja de S. Jorge, Lalibela, Etiópia



Mosteiro de Takshang («ninho do tigre»), Paro, Butão
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Lido por aí (66)


@João Abel Manta

* How will capitalism end? (Wolfgang Streeck)

* Del Sur al Norte: crisis de la deuda y programas de ajuste (Éric Toussaint)

* Mia Couto(entrevista) (Marta Lança)
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