12.1.15

Europa: voo de Ícaro?




«Há muitos políticos europeus que poderiam ser comparados com Mr. Bean. Com uma suave diferença: Mr. Bean tem a vantagem de não necessitar de abrir a boca para nos fazer rir.

O que se está a passar com as pressões sobre os gregos poderia ser uma comédia. Mas, na realidade, está a assistir-se a uma tragédia. Caminha-se para um final triste, com a destruição ou a loucura da Zona Euro e da própria União Europeia. Fala-se, inocentemente, da Grécia como se ela fosse um abcesso fácil de extirpar. Que não deixaria sequelas no resto de uma Europa que se julga sã.

Esse discurso é escutado em Portugal com a inocência de quem gosta de estar distraído. O artigo do economista-chefe da "Economist Intelligence Unit" de há alguns dias é contundente: o ponto de ruptura está a ser atingido e, depois da Grécia, Portugal e Itália serão atingidos pelo "tsunami". Quando a Europa começa a voar sobre o vulcão da deflação parece evidente que a aspirina da austeridade total perdeu a validade. E que a pressão financeira está a atirar os países periféricos do Sul para a implosão. O Centro da Europa, incapaz de ler o verdadeiro significado do massacre no "Charlie Hebdo", não pensa nas implicações estratégicas do que se está a passar nas suas fronteiras do Sul. Bruxelas continua sem perceber que a fronteira da muralha que afasta os emigrantes de África e que é a zona de tampão face ao caos no Médio Oriente (da Síria, à Líbia e ao Iraque) é mais do que um problema financeiro. A Europa ou quer ser um todo, ou não será. E parece não querer ser. A ruptura entre o Sul e o Norte é cada vez mais visível: com austeridade e sem empregos para distribuir o sistema político italiano está à beira da explosão final. O desemprego dos jovens é já de 43,9% (face a um total de 13,4%). Da depressão ao colapso social há apenas um fugaz voo de Ícaro. Como contraste, na Alemanha o desemprego caiu para 5%. É preciso mais evidências para se perceber que esta união monetária é inviável e está à beira do abismo? Porque as sociedades não vão conseguir aguentar.»

Fernando Sobral

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