11.1.15

Paris – «mixed feelings»



Não acompanhei as televisões na cobertura de toda a manifestação de Paris, esta tarde, mas vi o suficiente para não me sentir confortável.

Pareceu-me, sem dúvida e antes de mais, uma gigantesca acção de marketing, uma tentativa de «resolver» por um grande impacto uma questão muito complexa que ninguém sabe, verdadeiramente, como pode e deve ser abordada. A presença de dezenas de responsáveis políticos, sobretudo europeus, não mudará o dia de amanhã, por mais decisões, administrativas e autoritárias, que sejam tomadas.

A Europa está tão impotente para se defender de ataques terríveis, como aquele a que agora reagimos, para viver o quotidiano com a complexidade das comunidades que a compõem, como para lutar contra a prepotência dos mercados ou para manter o estado social que com tanto esforço conseguiu construir durante décadas.

Quero com isto dizer que nada tem mérito, que não iria, hoje, para as ruas de Paris? Teria lá estado, certamente. Que alinho com os talibãs cá do sítio, que não se cansam de proclamar que tudo isto é fruto do imperialismo capitalista, ou mesmo que «a comoção burguesa é selectiva e de classe, não é para todos. Comove a burguesia o facto do crime ser em Paris»? (Poupem-me...) Nem pouco mais ou menos, obviamente. Apenas que o futuro próximo será muito duro e complicado e que não vale a pena tentar tapar o Sol com triunfalismos e com a peneira – mesmo que esta se materialize em marchas de alguns (poucos) milhões de pessoas. 
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