24.3.15

1962, o Dia do Estudante e uma geração que vai desaparecendo



O dia 24 de Março de 1962, os que o antecederam e todos os que se seguiram constituíram um marco importante na luta contra o fascismo no início da sua penúltima década e forjaram a vida de uma geração de estudantes, que vai naturalmente desaparecendo, mas que se reuniu em massa há três anos para assinalar o cinquentenário dos acontecimentos.

Em jeito de homenagem, retomo um comentário de José Medeiros Ferreira, um dos grandes activistas de 62 (era então Vice-Presidente da Pró-Associação da Faculdade de Letras de Lisboa ), que participou nas comemorações de 2012 e que morreu há um ano. Neste vídeo, fala da ruptura entre a Universidade e o regime, que a Crise Académica significou, e relata alguns episódios relacionados com a proibição do Dia do Estudante.


(Em A Crise Académica de 62, Fundação Mário Soares, 2007)

Há poucos meses, deixou-nos Manuel Lucena, também ainda presente no encontro de 2012, ele que foi o redactor de serviço de grande parte dos comunicados relacionados com a Crise Académica. (Para já não falar de Vítor Wengorovious e de muitos outros que partiram antes.)

Republico um texto que Manuel António Pina escreveu há três anos e que foi divulgado no Jornal de Notícias:.

50 anos depois

Colette Magny cantou-os chamando-lhes "les gens de la moyenne": "Os estudantes manifestaram-se,/ foram seviciados pela Polícia/ (..) em Lisboa, Portugal". Foi a 24 de Março de 1962, em plena ditadura, quando a Polícia de Choque atacou com grande violência estudantes que se manifestavam em Lisboa, dando origem à primeira das "crises académicas" (a segunda seria sete anos depois, em Coimbra) que abalaram os alicerces do regime salazarista.
Escreveu Marx que a História acontece como tragédia e se repete como farsa. 50 anos passados sobre esse episódio (e 38 anos sobre o 25 de Abril...), a Polícia de Choque mudou de nome para Corpo de Intervenção mas não parece ter mudado de métodos: violência e recurso a agentes provocadores para a justificar. E a ditadura é hoje uma farsa formalmente democrática - um "caos com urnas eleitorais", diria Borges - em que é suposto existirem direito à greve e à manifestação.
Quem viu na TV a imagem de um homem ensanguentado gritando "Liberdade! Liberdade!" em direcção à tropa do dr. Miguel Macedo que, como em 24 de Novembro último, espancou selvaticamente jovens que, em vez de acatarem o conselho do primeiro-ministro e emigrarem, se manifestaram na quinta-feira em Lisboa, não pode deixar de descobrir afinidades (até nas agressões a jornalistas e nos comunicados oficiais falando de "ordem e segurança" e culpando as vítimas) com o que aconteceu há 50 anos. E de inquietar-se.



Les étudiants ont manifesté, / Par la police, ont subi des sévices. / Ils étaient à Lisbonne, au Portugal. / Mais, cette fois, c’était leur chair, c’etait leur sang. / Les bourgeois de la ville ont renié publiquement / 40 années de gouvernement.

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P.S. – Clicando na etiqueta «CRISE 1962», tem-se acesso a uma longa lista de textos publicados neste blogue. 
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