19.5.15

A mini-feijoada



«O país já não tem dinheiro para mega-feijoadas para comemorar qualquer coisa. Por isso, nestes tempos de austeridade, os líderes políticos contentam-se com mini-feijoadas. Foi esse o cenário do jantar comemorativo de um ano "sem troika" e de assinatura da coligação entre PSD e CDS. (...) Não conseguiram abrir uma garrafa de espumante para celebrar a saída do "lixo" carimbado pelas agências de "rating" na testa do País, porque quatro anos depois continuamos no latão da reciclagem.

Mas enfim, não se pode ter tudo, mesmo com políticos transformados em mágicos. Compreende-se o clima de festa dos partidos da coligação: nada está perdido. E a derrota não é certa. Assim é possível fazer um fogo-de-artifício à volta de canas virtuais. Repare-se num dos "sucessos" do Governo. Apesar de acreditar que controlou a dívida pública, ela era pouco mais de 93% do PIB em 2010 e agora está perto dos 129%. Nada mau como medalha de boa acção do Governo. O desemprego é o que se sabe. Centenas de milhares de portugueses emigraram e deixaram de assombrar as contas e o Governo ainda exulta com a "descida gradual" dos sem-emprego, após ter conseguido taxas recorde neste sector. Como vitória deve ser apenas moral. (...)

Cada político empanturra-se com o prato de que mais gosta. Mas transformar uns feijões mal cozidos numa feijoada pode causar uma indigestão.»

Fernando Sobral

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