4.7.15

NÃO!



«NÃO, eles não gostam de referendos. Só gostam dos que mandam repetir (como quando os dinamarqueses rejeitaram Maastricht, em 1992 – lembram-se da fúria de Cavaco? –, ou quando os irlandeses rejeitaram, em 2001, o Tratado de Nice, e o de Lisboa, em 2008, – fúria de Sócrates e de Durão). (...)

NÃO, a UE é tudo menos uma estrutura democrática. Ninguém elege a Comissão Europeia ou os governadores do Banco Central – e, contudo, as nossas vidas quotidianas, como trabalhadores activos ou desempregados, jovens à procura da autonomia, pensionistas de hoje ou de amanhã, em tudo dependem de decisões tomadas por gente sobre cuja escolha ninguém nos pede opinião. O processo de integração europeia tem sido, desde sempre, o mais forte motor da desdemocratização das escolhas económicas. Quando se fala da UE e da política económica que ela impõe repete-se, sem despudor algum, que há questões que não devem ser submetidas ao debate popular. E agora, que a eurocracia tem todos os canhões apontados contra o primeiro governo europeu a mostrar alguma vontade para “responder com democracia” a “esta austeridade descarnada e autocrática” (Tsipras, 26.6.2015), os dirigentes da UE perderam a compostura. (...)

NÃO, esta não é sequer uma discussão entre quem protege as pensões gregas e quem protege as ainda mais baixas pensões portuguesas ou eslovacas, como se tem dito. A Grécia mal viu todos aqueles milhões que se transferiram do BCE e do FMI para Atenas e, em fracções de segundo, dali para a banca privada europeia, a francesa, a alemã ou a própria grega. (...)

E NÃO, nada disto ajudou a reduzir a dívida, que não cessa de crescer, na Grécia como em Portugal. É o próprio FMI que admite que ela é “insustentável”, que deveria ser reestruturada e, mesmo assim, “permaneceria demasiado alta durante décadas” (Guardian, 2.7.2015). Quem criou esta situação sabia bem o queria: a austeridade como regime, como sistema de governo das relações sociais, políticas e económicas na era da “hegemonia do mercado ilimitado” a que se tem chamado eufemisticamente a globalização. (...)

NÃO sei o que sairá do referendo de amanhã. Mas sei que a “Grécia devia votar Não e que o governo grego devia preparar-se, se necessário, para sair do euro. (…) É tempo de pôr fim a esta irracionalidade.” (Paul Krugman, NYT, 29.6.2015)»  

Manuel Loff

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