26.8.15

A maratona das privatizações



«Marco António Costa, no seu estilo monotonamente áspero, conseguiu tirar do bolso a ideia que o espírito governamental é de "maratonista". Como ideia embalsamada é louvável, mas tem o aroma estragado. (...)

É incompreensível esta fúria, a um mês das eleições, para despachar contra tudo e contra todos um serviço público ao primeiro turista que passe defronte do Ministério da Economia. António Pires de Lima poderia tê-lo feito antes, com tempo e transparência total. Fazer tudo a correr, diminuindo inclusivamente os prazos, e enviando cartinhas perfumadas a dezenas de entidades para ver se alguma avança, não causa apenas estupefacção. Causa um arrepio na espinha.

Pior: o Ministério da Economia diz ir fazer um "ajuste directo", como se o único objectivo fosse encontrar alguém que tome conta da ocorrência. Sem que haja transparência total na decisão do Estado, sem ouvir a autarquia do Porto, ignorando os prazos decentes para se decidir com juízo e recato. Fala Marco António Costa de maratonas? António Pires de Lima corrige-o com acções: corre, sabe-se lá para onde, com os pulmões a saltar-lhe pela boca. O Ministério da Economia diz ainda que a urgência é ditada pelo "interesse público". Como momento de humor era melhor terem contratado John Cleese. Sempre levaríamos a piada a sério. Assim percebem-se melhor as palavras de Marco António Costa: no dicionário consultado pelo Governo uma maratona é uma prova de 100 metros. Sem barreiras.»

Fernando Sobral

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