3.8.15

CGD – O braço armado do Estado



«Durante muitas décadas, a Caixa Geral de Depósitos foi o amigo número um do Estado. O seu braço armado, em tempos de tempestade, e o refúgio perfeito para os que tinham deixado de ter lugar no Governo ou no Parlamento.

Quando o rei D. Luís a criou em 1876, para "incitar o espírito da economia", talvez se imaginasse já que viria a transformar-se no banco do Estado. Salazar transformou-a num instrumento da sua política económica. Mas, sobretudo, pela sua pujança e peso na sociedade portuguesa, a CGD foi sempre o palco perfeito para se observar o teatro político e as motivações que mudam consoante o rumo do vento. (...)

A CGD simboliza o Estado português e a força que ainda julga ter. Se imagem mais poderosa não existisse, bastava olhar para a sua sede: a caixa-forte do Estado português, agora que a emissão de moeda é decidida lá fora.

O actual Governo, que convive mal, por razões ideológicas, com empresas do Estado, já privatizou quase tudo. Como símbolo, só resta a CGD. O "fastio" com que Passos Coelho encarou o facto de a CGD ainda não ter reembolsado ao Estado a ajuda pública que recebeu, é um sinal eloquente de que velhos fantasmas regressam como convicções. A administração de José de Matos foi, com uma frase, colocada entre a espada e a parede. Sairá, pelo fim do mandato. Mas a questão é que Passos, sem mais nada para privatizar (excepto as águas), poderá estar a recuperar o seu velho sonho (transferir a CGD para o sector privado), como dizia há muitos anos. É uma opção. Mas então o Estado ficará sem o seu último Robocop.» 

Fernando Sobral

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