22.8.15

Uma Europa sem destino?



«Enquanto em Portugal se discute o número de empregos que um Governo pode criar nos próximos anos, apesar de estarmos amarrados às decisões do "núcleo duro" da União Europeia e do BCE para darmos qualquer tímido passo (...) e quem tem mais dotes para ser Presidente da República, ninguém parece ter a noção que a Europa continua a equilibrar-se no abismo.

A crise chinesa é um choque eléctrico para uma Alemanha que já julgava poder dispensar as suas zonas privilegiadas de consumidores europeus, as do Sul. Quando os chineses substituírem os carros importados da Alemanha e outros produtos "made in Berlim" por cópias suas, então é que a economia alemã despertará para a verdadeira austeridade. Esta política "zombie" da Europa é visível neste pavoroso "terceiro resgate" à Grécia onde se vai aplicar a mesma medicina (com mais quebra do PIB e do emprego) a uma economia exangue. O que se espera: que o doente se extinga de vez? (...)

Às vezes apetece recuperar as palavras do poeta Paul Valéry, escritas em 1919: "Irá a Europa tornar-se o que é na realidade - os seja, um pequeno promontório no continente asiático? Ou continuará a ser o que parece - uma parte eleita do globo terrestre, a pérola da esfera, o cérebro de um vasto corpo?".

A questão hoje é que a Europa não sabe o que quer ser: nem política, nem económica, nem cultural, nem militarmente. É uma aristocrata que se vai arruinando sem visão de futuro. Por enquanto a maioria ainda parece estar disposta a fazer todos os esforços para ficar no euro (veja-se os gregos), mas até onde irão os limites do sacrifício em nome de um paradigma que não existe? Faz-se austeridade sem fim para equilibrar as finanças públicas e tentar reduzir a dívida, o que é normal. E o resto? O que há para além disso? A Europa unida não era para ser uma força vibrante de futuro, a esperança numa vida melhor? Nada disso parece estar à vista.»

Fernando Sobral

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