2.9.15

Os palhaços



«Depois do sucesso do palhaço Tiririca na política brasileira, quatro anos depois, em 2014, surgiram no Brasil outros candidatos que seguiam a mesma linha ideológica: o candidato Mortadela dizia, depois de tirar o fato de palhaço, que "agora é a sério" e o auto-proclamado Tiririca do Norte afirmava que "é melhor ser um palhaço político do que ser um político palhaço".

Ou seja, antes de Durão Barroso ter vindo elucidar os jovens social-democratas que está preocupado por Donald Trump liderar as sondagens entre os republicanos nos EUA, insinuando que ele é um "palhaço", ainda que não "profissional" como Beppe Grillo, já o panorama político estava cheio de profissionais da gargalhada. Até Eça de Queiroz, falando da política portuguesa do seu tempo, escrevia: "A única crítica é a gargalhada! Nós bem o sabemos: a gargalhada nem é um raciocínio, nem um sentimento; não cria nada, destrói tudo, não responde por coisa alguma. E no entanto é o único comentário do mundo político em Portugal. Um Governo decreta? Gargalhada. Reprime? Gargalhada. Cai? Gargalhada". É ténue a linha que separa hoje alguns políticos de alguns palhaços: talvez a competência, quiçá o profissionalismo, por vezes a qualidade do humor. Mas, por certo, o que os divide são os interesses.

O problema de muita da política actual é que é impossível de levar a sério: as suas piadas já não causam riso ou, mesmo, uma singela gargalhada. Um palhaço profissional chega a uma certa altura em que uma piada está gasta. E muda-a. Alguns políticos da nova geração não têm capacidade para isso: repetem a mesma piada até nem eles próprios acharem graça ao que estão a dizer. E em Portugal não faltam exemplos. Nem na Europa.»

Fernando Sobral

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