22.12.15

O dinheiro tem cheiro


«Portugal tem descoberto, nos últimos anos, que, pelo contrário, o dinheiro tem aromas de difícil remoção. Sentiu isso com o BPN, com o BPP e com o BES. Está agora a entender-se que o Banif não foi, em tempo próprio, sujeito a uma lavagem com sabão macaco. E que agora aí está, para que os portugueses paguem mais uma máquina de lavar roupa suja por mãos invisíveis.

Não deveria ser uma sina. Mas começam a ser demasiadas ilusões estilhaçadas para um país tão pequeno. (…)

As eleições não podem explicar tudo. Ou podem? Passos Coelho, Maria Luís Albuquerque e Carlos Costa não podem simplesmente dizer que Alice vivia no país das maravilhas do Banif e que, por isso, ficaram extasiados com o néon das suas cores.

Vendido por um preço qualquer, a situação a que chegou o Banif representa a falência de um modelo ideológico que acreditava que a auto-regulação era a solução para todos os problemas. Agora, nem Hércules limparia tudo o que ficou escondido debaixo da cama de interesses que não são muito claros.

Pode ter sido uma questão de romantismo medieval a inacção dos responsáveis do anterior Governo e do BdP até há pouco tempo. Só que o dinheiro, nesta era em que é escasso, sai caro aos portugueses e tem cheiro. Como mostra o FMI, quando, abrindo o coração, diz que a reestruturação da dívida deixou de ser um assunto tabu. O Banif foi vendido em saldo. Quase oferecido. Só que o assunto não morre aqui. O banco vive. As culpas não podem morrer solteiras.»

Fernando Sobral

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