7.1.16

Portugal a cores



«Numa campanha digna da televisão a preto e branco, o candidato presidencial Edgar Silva tirou da cartola uma das frases que a marcarão: "O país não precisa de um Cavaco Silva a cores." Falava de Marcelo, claro, numa altura em que o tempo começa a ser curto para aqueles que necessitam de convocar o candidato favorito para uma segunda volta. É esse o jogo de Sampaio da Nóvoa e Maria de Belém, à espera que o seu discurso demasiado táctico tenha como resultado aquilo com que fazem os habitantes do deserto: olham para o céu à espera de uma chuva que os venha salvar. Para isso precisam de destruir os rivais importunos, coisa que não têm feito com precisão letal, para defrontar um Marcelo que parece exorcizar a direita. A retórica tem sido medíocre, mas o problema é que a campanha revela como o rei vai nu. (…)

Vivemos um tempo de fim de impasse e estamos na véspera de rupturas importantes. Depois de quatro anos de austeridade que transformaram o país numa comédia triste dos "jornais de actualidades" dos anos 1930 e 1940, o país precisa realmente de trocar o preto e branco pelas cores. E aí a frase de Edgar Silva diz mais do que o simples remoque a Marcelo e a Cavaco. Portugal precisa de colorir o seu futuro, com sonhos no meio da realidade da dívida que o cerca.»

Fernando Sobral

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