6.3.16

A social-democracia de Passos Coelho



«Pedro Passos Coelho, segundo dizem os jornais e as televisões, converteu-se à social-democracia. Profissão de fé nova, após quatro anos de pretenso liberalismo, tem a ver com duas coisas: continuar a ser líder do PSD e reconquistar o "centro" que, segundo alguns, lhe poderá permitir reconquistar o poder. Tudo isso é um logro: Passos Coelho só terá qualquer hipótese de voltar a S. Bento se António Costa falhar no próximo ano. De outra forma o PSD procurará outra solução. (…) O bombom da moção é o PSD preferir a defesa "da economia social de mercado, onde a realização dos direitos sociais vem progressivamente associada às condições materiais objectivas que o progresso económico propicia". Ou seja, Passos Coelho não considera que tem uma ideia social-democrata que deve moldar a economia dentro de um princípio de "contrato social" que esteve na sua génese. Não: a social-democracia nasce do "progresso económico". Ou seja, a economia submete a ideologia. Assim sendo, Passos Coelho não é social-democrata: é um gestor da sociedade. Um tecnocrata que, por acaso, está na política. (…)

O propósito da social-democracia era proteger a classe média, a sua fonte de juventude. Mas a globalização financeira dos anos 80 e o neo-liberalismo inverteram as lógicas: o mundo deixaria de estar dividido entre ricos e pobres, mas entre os que trabalham e investem e os "parasitas". Esse conceito foi central na política de Passos Coelho durante quatro anos e onde se assistiu à destruição da classe média, base do equilíbrio da sociedade, da democracia e da social-democracia. Ou seja, o "centro" que Passos Coelho diz agora querer recuperar foi o que andou selvaticamente a destruir durante quatro anos. Por isso mesmo a sua moção é uma mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma. Tudo acaba por se reconduzir a uma pressa enorme para que António Costa caia e ele seja, mesmo sem eleições, recolocado em S. Bento. Coisa em que, pelos vistos, só ele acredita. Porque sem eleições dificilmente Passos voltará a S. Bento. E, para isso acontecer, é necessário que António Costa caia. E que, depois, isso aconteça em tempo útil para o PSD ainda manter Passos como líder.»

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