14.3.16

CDS, cuidados paliativos e morte assistida



João Semedo no Público de hoje: 

«Sobre cuidados paliativos, defendi no Parlamento dois projetos apresentados pelo Bloco de Esquerda, o primeiro em 2012 e o outro em 2014, ambos recomendando ao governo a instalação de uma unidade de cuidados paliativos para crianças e adolescentes na cidade do Porto. (…)

A ideia foi recusada, os votos do PSD e do CDS/PP chumbaram-na duas vezes. Em 2012, votaram contra, pura e simplesmente. Mas, em 2014, não querendo repetir a triste figura que fizeram dois anos antes, apresentaram um projeto em que recomendavam ao governo – ao seu governo – “que reforce o estudo e devidas respostas no âmbito dos Cuidados Paliativos Pediátricos e que implemente as medidas necessárias à disponibilização efectiva desses cuidados no nosso país”.

O projeto acabou por ser aprovado por unanimidade, confirmando que a defesa de cuidados paliativos não é um exclusivo da direita e, muito menos, do CDS. Apesar disso, nada foi feito, mas, enfim, a ideia também não era essa. De facto a direita não pretendia que o governo fizesse fosse o que fosse, era mesmo só para fingir alguma preocupação e apagar a iniciativa da oposição.

É por isso extraordinário o que se passou agora no congresso do CDS/PP com a apresentação, por iniciativa, entre outros, de Isabel Galriça Neto, Pedro Mota Soares e Teresa Caeiro, de uma moção reclamando o alargamento da rede nacional de cuidados paliativos. O descaramento não tem limite: saíram do governo há pouco mais de três meses, no Parlamento votaram contra a criação de novas unidades e já estão a reclamar do novo governo o que eles não fizeram durante quatro anos. “Bem prega frei Tomás, faz o que ele diz e não o que ele faz”...(…)

A moção não traz nada de novo, é mais do mesmo: os cuidados paliativos eliminam a dor e o sofrimento, são o garante de uma morte digna e, portanto, não é necessário despenalizar a morte assistida, basta alargar a rede e tudo fica resolvido.

Como sabemos, nada disto é certo, bem pelo contrário, está entre a crença e a publicidade enganosa. Os cuidados paliativos não são 100% eficazes, não se aplicam em muitas situações de fim de vida, sofrimento ou dependência, arrastam o doente para um estado vegetativo e, imagine-se o sacrilégio, a sedação paliativa acaba por antecipar a morte do doente, como têm vindo a reconhecer todos os profissionais que a praticam.

Defendo o crescimento da rede de cuidados paliativos e a despenalização e regulamentação da morte assistida. Não são respostas que se excluam ou que sejam alternativas. São respostas diferentes e legítimas, ambas necessárias para os difíceis momentos do fim de vida.»
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