29.3.16

O milagre de Carlos Costa



«Apolo, o deus grego, depois de matar a serpente que vivia na cidade de Delfos, apoderou-se da sua sabedoria. Desde então reis e simples mortais rumavam a Delfos para que Apolo lhes dissesse qual iria ser o seu futuro.

A Europa de hoje assemelha-se a esse mundo de profecias. Mario Draghi é o Apolo dos tempos modernos e o BCE, o Delfos que todos veneram. Não será por acaso que virá a uma reunião do Conselho de Estado. Embora se possa esperar que oiça em vez de apenas dizer. Carlos Costa, mais recatado, é o Apolo que nos calhou. Mas as suas palavras são mais débeis do que as de Draghi. E as suas mãos não têm os poderes mágicos de Midas. Pelo contrário, especializou-se em transformar em chumbo o que tem tocado, seja o BES ou o Banif. É certo que aprendeu com Apolo e com as pitonisas: as suas palavras são sempre ambíguas e admitem todo o tipo de interpretações. (…)

O que espanta é a sua capacidade para se manter à tona de água, quando, a acreditar nas cartas de sucessivos ministros das Finanças, conseguiu "surpreender" todos com as suas decisões. Talvez Carlos Costa se julgue um sucessor de Apolo. E, sabe-se, os deuses nunca se enganam. O que acontece é que os comuns mortais, simples deputados ou efémeros ministros, não sabem interpretar a sua vontade. Cada homem é o seu estilo. E o de Carlos Costa é elíptico. Os seus silêncios são mais importantes do que as suas palavras. O problema é que, olhando para o sector financeiro português, e para os destroços criados nos últimos anos, os silêncios de Carlos Costa tiveram consequências. Na confiança dos cidadãos. Na economia. Nos défices. Há explicações que convencem todos. Ou ninguém. Vamos escutar agora, pela última vez, a explicação dos milagres de Carlos Costa.»

Fernando Sobral

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