27.4.16

Destinos



José Pacheco Pereira no Público de 25.04.2016:

«Não sou muito da escola dos “projectos nacionais”, que regularmente pergunta qual é o destino nacional, ou que critica o défice desse “projecto”. Entendo que, na maioria das vezes, se trata de uma espécie de redacção mais ou menos laboriosa sobre o “destino” de Portugal, de que não resulta senão uma série de desejos ideológicos ou truísmos vulgares. Para além do mais, sempre pensei que a história não só não tem direcção, como é, na sua essência, imprevisível e, por isso mesmo é, na melhor das hipóteses, inútil.

Mas percebo a tentação de o fazer. Há momentos em que uma espécie de estagnação parece atingir-nos e em que apetece perguntar: mas para onde é que isto vai? quando parece que não vai para lado nenhum. Tenho consciência de que a melhor resposta é “sei lá!”, fugindo da infeliz tentativa de responder à pergunta doutra maneira. Mas, no fundo, para que servem as tentações que não seja para nelas cair…

A gente olha para o nosso país - e eu olho para a minha “pátria amada” – e vê como essa estagnação antecede uma tempestade, e não gosta do que vê. E não gosta do que se espera. (…)

A questão da “Europa”, não a Europa, mas aquilo a que hoje chamamos Europa, é a mais grave que Portugal defronta. Começa porque a soberania nacional está seriamente diminuída em aspectos cruciais para a independência de um país. O nosso parlamento está castrado de poderes orçamentais e muito do governo do país é feito de fora, pelo BCE e pela Comissão Europeia, em particular pelo Eurogrupo.

Esta governação alheia, muito para além de qualquer legislação europeia em vigor, assente em práticas abusivas cada vez mais consentidas sem contestação, atenta, como se viu no caso da banca, contra o interesse nacional. A “Europa” actua como um governo federal que não foi eleito por ninguém, que assumiu poderes nos países mais débeis como a Grécia e Portugal e não toca num cabelo dos poderosos. Não é pelos resgates, nem pela dívida, está muito para além disso. (…)

Não podemos continuar nesta economia de mediocridade, moldada por uma ideologia que serve apenas os poderosos e que escarnece dos mais fracos. Os que não tem offshores, não desbarataram milhares de milhões de euros, não pediram milhões à banca para a deixar “mal parada”, mas estão condenados pela “Europa” a pagar estes custos. Por isso repito: com a “Europa” como ela é hoje, não vamos lá.» 
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