6.5.16

Do riso e do esquecimento



«Passos está atento à alegria de Marcelo da mesma forma que o ex-PR, Aníbal Cavaco Silva, dava atenção ao sorriso das vacas. No fundo, são pessoas que estão sem nada para fazer.

O Doutor Pedro Passos Coelho precisa de ocupar o tempo. Tem de começar a fazer qualquer coisa que tem boa idade para isso. Até a Maria Luís arranjou emprego e sabemos bem como ela era especialista em acabar com ele. O Doutor Coelho não pode continuar assim, deprimido, sem aceitar a realidade. Aposto que ainda nem devolveu as chaves de São Bento. Anda com um pin a fingir que é PM, ganha ordenado de vice-PM e é líder da oposição, mas pouco fala. Nada faz sentido na vida do Pedro. O PM não é ele, o antigo vice-PM jamais conseguiria viver com aquele ordenado e o líder da oposição é Cristas. É natural que Passos cobice a felicidade dos outros.

Neste momento, a vida de Passos é um profundo aborrecimento. Pedro já pensou em ir de auscultadores para a Assembleia, mas até Charles Aznavour lhe soa feliz a entoar "Que c'est triste Venise". Consta que até deixou de fazer papos de anjo para os vizinhos e que deixou de cantar no duche. (…)

Todas as manhãs, um Passos deprimido acorda sedento de más notícias - "Diz-me que os juros subiram! Diz-me que Tozé Seguro pegou fogo à sede do BE! Diz-me que houve um terramoto e morreram todos menos eu!" - É terrível. Ninguém aguenta ter como profissão ficar sentado numa bancada, a ouvir a voz de professora primária de Cristas e as gargalhadas do Doutor Rebelo de Sousa, com um pin enferrujado, de boca calada, deixando passar o tempo lentamente, até às autárquicas, na esperança de acordar um dia com uma notícia de uma grande desgraça nacional.»

João Quadros

1 comments:

Vitorino Queiroz disse...

Visita às brumas da memória, ao riso e ao esquecimento, ou: "rien ne va plus", cher Monsieur Passos em Volta ("em volta" de quê ? De si mesmo, da sua memória e do seu esquecimento). Manuel Vitorino de Queiroz