2.7.16

Schäuble e as trevas no meio do caos



«Se a Floresta Negra foi o berço do nascimento do relógio de cuco, que nos trouxe as horas certas, Wolfgang Schäuble é a voz das trevas. A frase assassina sobre Portugal, sobre a eventual necessidade de um novo resgate, mostra como a miopia do que resta da Europa sem o Reino Unido permanece. (…) A dívida, já se sabe, é impagável. O défice pode ser controlado. Mas se essa é a única política da Europa (para lá da vontade de castigar quem não é da família do PPE ou não é "grande" como a França), para que serve a UE? Só para ser um mercado e ter uma moeda única? (…)

Além disso, a UE nunca teve uma política de defesa uniforme. Destruiu com isso economias, incapazes de pagar o serviço da dívida, como a Grécia ou Portugal. Criou uma legião de desempregados por toda a Europa. E foi empurrando as grandes economias do Sul (Itália e Espanha) para um beco. Agora o caos parece ser a norma. A pergunta impõe-se: vale a pena fazer parte desta Europa pouco democrática onde a única lei é a defesa do euro que interessa à Alemanha?

O problema é que este divórcio (o Brexit) nasceu da miopia de Bruxelas que fez desta Europa apenas um mundo de burocratas e de defesa do euro e de um mercado único que separa mais do que une. Onde o poder democrático de cada país foi achincalhado, como se viu continuamente na Grécia. Os líderes europeus estão convictos de que a Europa sobreviverá à saída do Reino Unido. Talvez sim. Talvez não. Mas o Brexit é o prelúdio da gradual desintegração do projecto europeu. Schäuble é apenas o incendiário de serviço à causa.»

Fernando Sobral

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