25.9.16

O grande caos líbio



«A Líbia tornou-se a grande aposta das acções do Daesh. E o Ocidente, depois dos erros cometidos quando derrubou Kadhafi, continua a cometê-los em série.

No meio das tentativas de garantir alguma paz para a Síria, as atenções ocidentais perderam algum foco no que se passa na Líbia. Mas o que se vai observando, entre as tentativas de criar um governo unificado e as acções do Daesh (que têm tentado, até com algum sucesso, ocupar instalações ligadas à produção de petróleo), é que a política da Europa tem sido um completo desastre nos últimos anos no país com vista para o Mediterrâneo. No dia a seguir à sua resignação como deputado, o antigo primeiro-ministro britânico, David Cameron, foi confrontado com o relatório da comissão de negócios estrangeiros do Reino Unido sobre a sua acção na Líbia. E não é simpático o que lá se diz. Refere que o argumento da "responsabilidade para proteger" foi utilizado como cobertura para o derrube do regime de Kadhafi, que o "iminente uso da força" pelas tropas do líder líbio contra as populações de Benghazi foi exacerbado, que a "inteligência" foi inadequada e que a Grã-Bretanha seguiu a política bélica de França sem a tentar influenciar. (…)

Nos bastidores fala-se entretanto que a ideia de França, da Grã-Bretanha e de Itália seria dividir a Líbia em três zonas de influência. É certo que os principais responsáveis pela intervenção na Líbia, Cameron e Sarkozy, já não estão no poder, mas o apoio que ambos os países dão a Haftar e as agendas próprias do Egipto e dos Emirados Árabes Unidos na Líbia não deixam de contribuir para a confusão reinante. E sabe-se que a Líbia continua a ser uma das fontes de onde partem os migrantes rumo à Europa. Ou seja, a política ocidental, sobretudo da Europa, relativamente à Líbia continua a ser um desastre visível.» 

Fernando Sobral

1 comments:

Niet disse...

Berlusconi,Aznar e Villepin para lá dos serviços secretos ingleses e franceses tentaram " salvar " Kadahfi das reviravoltas sucessivas do cenário de guerra civil em que a Libia se debateu em 2011/12. E essa salvação, segundo narra Bernard-Henri Lévy, consistia na proposta de evacuação para o exilio do chefe libio,com a opção quer para o Zimbawuè quer para o Egipto...Kadaphi caiu na ratoeira de se ter deslocado a Paris, onde Sarkozy confirmou os detalhes de degenerescência psiquica e politica fornecidos pelo antigo chefe da secreta libia que tinha fugido para Paris, uns meses antes.E depois, Sarko e Cameron convenceram Hillary Clinton a dar luz verde aos bombardeamentos...soi-disant conjuntos...e o " regime " do coronel caiu como um castelo de cartas, com a aprovação sucessiva da União Africana, da Liga Árabe e da ONU. Todas estas nuances e subtilezas tactico-estratégicas são muito importantes. Niet