26.12.16

Geringonçando



«A máquina está suficientemente bem oleada para que pouco mais oiçamos, em público, do que um ou outro arrufo sem grande significado. (…)

Hoje colamos nomes e rostos a esse esforço contínuo de concertação de posições políticas. Não é algo a que a política portuguesa estivesse habituada, pelo menos não nesta escala e entre partidos com posições tão afastadas em áreas-chave como a Europa ou a política de defesa, mas o diabo é que a coisa está a funcionar.

Já lá vão dois Orçamentos aprovados sem grande sobressalto, mais de um ano de governação sem qualquer ameaça séria à sobrevivência política do governo, mas há uma sombra que subsiste. É a mesma para o país e para a geringonça e, em boa verdade, pouco ou nada depende da vontade de socialistas, bloquistas, comunistas ou verdes. Continuamos descontraidamente estendidos, de pés esticados sobre uma mesa, em cima da bomba-relógio da dívida.

Por muitas voltas que Costa e Centeno deem, por muito lustro que consigam puxar ao défice público, o facto é que o ratio da dívida em relação ao PIB tem aumentado. É uma espécie de bola de ferro, pesadíssima, amarrada às pernas. Às do governo e às nossas. O serviço da dívida há de continuar a condicionar o crescimento da economia e a criação de emprego, o investimento e a confiança dos mercados. Teremos sempre o santo Draghi em quem confiar, mas nem um BCE hiperativo pode garantir, para lá de qualquer dúvida, uma travessia tranquila de 2017.»

Paulo Tavares

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