28.5.16

Morte assistida



Para as agendas.
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Dica (306)



Especialistas do FMI criticam agenda neoliberal. (Jorge Nascimento Rodrigues) 

«Três altos quadros do Fundo verificaram que duas das principais receitas neoliberais aumentaram o risco de crises financeiras e a desigualdade gerando um ciclo negativo que prejudicou significativamente o nível e a duração do crescimento económico.» 
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Estivadores sobre o acordo



Todos por todos vencemos uma batalha, mas sabemos bem que todos por todos faltam muitas mais.

Porque os acordos só se festejam quando se concretizam e porque outros estivadores dos outros portos do país e trabalhadores dos mais variados sectores continuam sujeitos à violência dos patrões, mantemos o chamado para que no dia 16 de Junho nos somemos numa manifestação, às 18h, do Cais do Sodré à Assembleia da República.

Cumpriremos com a nossa palavra, como sempre o fizemos, mas queremos celebrar o acordo assinado hoje num dia que seja também um marco na luta contra a precariedade, com o braço dado com a parte do país que se levantou ao nosso lado em defesa dos nossos direitos e em defesa do porto de Lisboa.

O tempo das vidas precárias, sem segurança, com salários de miséria e sem dignidade tem que acabar. A vitória, para ser vitória, tem que ser nossa além das palavras. A vitória, para ser vitória, tem que ser de todos.

À Luta!

Sindicato dos Estivadores no Facebook 
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Mais oportuno é difícil

28.05.1926 – Nos 90 anos da sinistra «Revolução Nacional»



Recordo-a quase todos os anos, não só para preservar a memória, mas porque deixou marcas que ainda hoje sofremos na pele – conscientemente ou nem por isso.

Em 1926, um dia terrível e decisivo na nossa História marcou o fim da 1ª República e esteve na origem do Estado Novo. Todos os anos havia comemorações, mas duas ficaram na memória.

Foi num outro 28 de Maio, mais concretamente em 1936, no 10º aniversário da «Revolução Nacional», que Salazar proferiu um discurso que viria a ficar tristemente célebre: «Não discutimos a pátria...»



Ainda num outro aniversário – no 40º, em 1966 – o chefe do governo, então com 77 anos, viajou pela primeira vez de avião até ao Porto (entre os outros passageiros, acompanhado pela governanta) para assistir às celebrações que tiveram lugar em Braga.



Não se ouve, neste vídeo, uma frase do discurso que deixou o país suspenso: «Eis um belo momento para pôr ponto nos trinta e oito anos que levo feitos de amargura no Governo». Mas Salazar continuou: «Só não me permito a mim próprio nem o gesto nem o propósito, porque, no estado de desvairo em que se encontra o mundo, tal acto seria tido como seguro sinal de alteração da política seguida em defesa da integridade da pátria».

E ficou – até que uma cadeira cumpriu a sua missão histórica.

[Republicação]
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27.5.16

Um par de óculos que se tornou obra de arte



Ler AQUI.
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Dica (305)




«Há quem sugira que os estivadores não estão interessados em negociar. Nada mais falso. O Sindicato aceitou baixar a massa salarial global do porto de Lisboa em montantes na ordem dos 2 milhões de euros anuais, por exemplo acabando com a regra da prioridade na colocação em trabalho suplementar dos trabalhadores mais antigos – com salários mais elevados – que encarecia o custo do trabalho. Mas os operadores exigiram, para além disso, uma redução de 50% dos salários para os novos trabalhadores. O Sindicato propôs a passagem gradual a efetivos de 70 precários. Mas os operadores recusaram. Afinal, quem é que não quer negociar?» 
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Paris, 15 de Maio




Praça da República, Nuit Debout.
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Casamento, para que te quero?



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As toupeiras também têm coração



«Um espião português foi detido, em Roma, por suspeita de estar a vender segredos a um funcionário dos serviços de informações da Rússia.

A primeira pergunta que me ocorre é: será que isto conta como exportações? Pode haver aqui um mercado a explorar. A quanto estará o barril do segredo?

Eu sou péssimo a guardar segredos. Nota-se logo que estou a esconder alguma coisa. Mesmo que essa coisa não tenha nada a ver com a pessoa que está à minha frente. Jamais conseguiria guardar o terceiro segredo de Fátima, como fez a irmã Lúcia. Haveria de acabar por contar ao oftalmologista. Percebo, perfeitamente, que um espião tenha necessidade de desabafar. Mas, segundo percebi, este nosso espião estava a desabafar a troco de 10 mil euros do espião russo, com quem se encontrou em Roma. Espero que os 10 mil euros fossem só o sinal. Parece-me pouco por um segredo da NATO. Espiões que se vendem ao preço de um central da II Liga de futebol portuguesa. Que pena o Jorge Mendes não andar, também, metido nisto. (…)

Se os amigos e colegas do espião dizem que ele, desde o divórcio, começou a usar rabo-de-cavalo, deixou de usar gravata e passou a ir para a noite, isto tem muito pouco a ver com espionagem. Estamos perante o clássico caso do recém-divorciado que quer convencer a ex-mulher que já é outra pessoa. Usa rabo-de-cavalo, sai à noite e vende segredos aos russos. Como quem diz: "Já não sou o bota de elástico com quem te casaste. Até fiz uma tatuagem a dizer Fuck e, agora, sou o bandido que todas adoram."

A nossa espionagem é isto, muito pouco John le Carré, bastante Corín Tellado.»

João Quadros

26.5.16

Para acabar o feriado



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Dica (304)




«L'article 2 du projet de loi Travail inverse cette hiérarchie des normes. "La primauté de l’accord d’entreprise en matière de durée du travail devient le principe de droit commun", y est-il écrit. En clair, l'accord d'entreprise primerait dorénavant sur l'accord de branche. En matière de temps de travail, de nombre maximum d'heures par jour et par semaine, de majoration des heures supplémentaires, de temps de repos ou de congés payés, l'accord d'entreprise pourrait être "moins disant" que l'accord de branche.» 
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Projecto: um livro de auto-prejuízo



Ricardo Araújo Pereira na Visão de hoje:

«Não sou suficientemente insensível para aceitar os conselhos que costumam vir escritos nos livros de auto-ajuda. O ensinamento “Acredita e consegues” não me convém porque, infelizmente, a minha vida decorre fora de um filme do Walt Disney. O ditame “Pensa positivo e acontecerão coisas boas” também não se aplica à minha vida porque o mundo que eu habito demonstra todos os dias que se está borrifando para o optimismo dos meus pensamentos.»

Na íntegra AQUI.
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Estivadores – a informação necessária



A greve dos estivadores é sem dúvida, neste momento, o tema mais importante que importa tentar perceber e seguir, quando estamos a ser intoxicados pelos meios de comunicação social e 99% dos comentadores. Os estivadores têm um blogue e, NESTE TEXTO, explicam a origem do que está neste momento em questão.

José Gusmão divulgou-o hoje no Facebbok, com uma Nota que transcrevo aqui:

«A intervenção da Ministra Ana Paula Vitorino sobre as negociações entre a administração do Porto de Lisboa e os estivadores foi vergonhosa. A ministra mentiu sobre o conteúdo da proposta patronal, dando a entender que esta garantia uma das reivindicações dos trabalhadores e, pelo caminho, fez declarações a propósito da greve que eu espero que façam corar de vergonha qualquer socialista.
Para quem se quiser dar ao trabalho de furar a barreira de intoxicação que foi montada em torno desta luta que os estivadores estão a travar em nome de todos os trabalhadores, «linco» abaixo um texto do blog do sindicato dos estivadores, com os fundamentos da greve.»

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25.5.16

Dica (303)

José Mário Branco, 74



Nasceu no Porto, em 25 de Maio de 1942 e pertence tanto às vidas de muitos de nós que não requer apresentações. Mas «exige-nos» que recordemos aquilo que nos deu, e continua a dar, que oiçamos, sempre e sempre, algumas das suas canções que passaram a fazer parte do tempo que por nós passou.

Para mim, talvez as três top:








E a inevitável, para mal dos nossos pecados:


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Há flores no cais



Um novo blogue criado por um grupo de mulheres de estivadores que tentam assim, na primeira pessoa, relatar o que verdadeiramente se passa nas suas vidas durante a luta que esta a ser realizada para se conseguir melhores condições de trabalho no sector portuário. Queremos com isto mostrar que os estivadores também têm famílias, esposas e filhos… que são eles o suporte financeiro das famílias e que neste momento estão sem poder trabalhar, com salários em atraso e outros sem qualquer salário. Falamos aqui na 1ª pessoa. 
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O Simplex e o cidadão digital



«O Simplex seria também uma espécie de aspirina milagrosa para as dores de cabeça que a administração pública costuma fornecer aos cidadãos. As suas novas propostas parecem um milagre quase tão grande como as vacas voarem alto ou os crocodilos voarem baixinho. Isso permitiu mesmo ao primeiro-ministro vislumbrar o paraíso: um país sem papel no próximo ano. Nada contra. Tudo a favor. Se tamanha revolução digital não tivesse uns pauzinhos na engrenagem dos milagres prometidos. Ou seja: maravilhas para a administração, dores de cabeça para os cidadãos. A informatização total será o caminho mais curto para a administração poupar resmas de A4. Quanto ao resto podemos ingenuamente perguntar: e o cidadão?

Esta reforma simplificadora parece continuar a caminhada para o "sistema virtual" onde todos nos perdemos. Transfere-se agora para o comum mortal, transformado em cidadão digital, aquilo que eram funções da administração. É ele que tem de ser mestre em informática para perceber no computador todos os serviços a que pretende aceder. Ou seja, o cidadão torna-se o funcionário público sem receber por isso. Como reforma audaciosa do Estado e como atitude de agilização de processos parece digna de La Palisse.

Toda esta história cor-de-rosa da digitalização lembra a do GPS: se um dia o "sistema" colapsa tudo desaparece como no mundo virtual. Nada de problemático para o Estado: o cidadão é que, como sempre que desaparecem papéis (ou dados no "sistema") na Segurança Social ou no IRS ou no IVA, é que tem de provar que entregou ou pagou. Já depois de ter sido multado. Se não tiver provas em papel para argumentar a sua inocência (porque contra a administração o cidadão é sempre culpado até prova em contrário) está entalado. O Simplex resolve mais um problema da administração. E alarga o mundo do Big Brother.»

Fernando Sobral

24.5.16

Bob Dylan




Faz hoje 75 anos e já cantou sobre a terra onde abri os olhos para este mundo.

And when it's time for leaving Mozambique
To say goodbye to sand and sea
You turn around to take a final peek
And you see why it's so unique to be
Among the lovely people living free
Upon the beach of sunny Mozambique.
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Que será feito do bicho?



Parece que ficou num quartel da GNR. Mas terá visitas do dono? Creio que não ou teríamos ouvido, numa televisão perto de nós, declarações do dono sobre previsibilidade, consensos ou assim. 
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Dica (302)




«Dito isto, é preciso relativizar a importância do Simplex 2016, ainda mais tendo em conta a pompa com que foi apresentado (fazendo lembrar os eventos de propaganda dos governos de Sócrates). É que embora subsistam insuficiências no domínio da administração pública no nosso país, já há muito que esta deixou de ser uma área crítica para Portugal (já agora, muito graças aos mesmos governos socráticos).» 
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Marcelo e a estabilidade

Da vergonha alheia que se sente ao ver telejornais



«Há inúmeras maneiras de descrever um acontecimento, mesmo que se respeite a verdade dos factos - ou melhor, mesmo que haja um esforço para não distorcer qualquer facto. Meia dúzia de testemunhas de boa fé de um mesmo acontecimento podem apresentar narrativas diferentes do mesmo. (…)

Isto significa que fazer um jornalismo como deve ser feito - independente dos poderes, que não tenta beneficiar determinado grupo, que faz um retrato justo do mundo, que trata todas as fontes de forma leal - é difícil.

Mas então é impossível fazer uma descrição honesta da realidade? Não, significa apenas que essa deve ser uma preocupação constante.

Vem isto tudo ainda a propósito do polémico segmento do telejornal de há umas semanas onde José Rodrigues dos Santos explica, à sua maneira, como evoluiu a dívida pública portuguesa. É evidente que se trata de uma explicação enviesada, que selecciona certos dados e escamoteia outros, que possui como subtexto a ideia de que a dívida é da responsabilidade exclusiva dos governos do PS. Esse subtexto recorre a dados verdadeiros mas é desonesto porque escamoteia tudo o que não valida a tese do pivot e, por isso, o segmento inscreve-se no que se chama “propaganda”, algo de que os jornalistas se devem abster, mas é curioso verificar que as críticas feitas a JRS foram classificadas pelo próprio e por outros campeões da objectividade como “censura”. Porque é que isso é curioso? Porque essa reacção prova que o segmento de JRS não foi uma falha inconsciente, que o próprio estaria disponível para corrigir, mas um gesto intencional, um enviesamento deliberado. (…)

Que a SIC tenha como editor o alegre propagandista José Gomes Ferreira tem de se aceitar como mais um castigo dos mercados. Que a RTP pública imite o que de pior se faz no jornalismo televisivo e se sinta obrigada a convidar para todos os seus painéis um direitista de serviço do Observador (nem sequer identificado como tal), lamenta-se.

Há bom jornalismo na RTP, mas ele aparece sempre nos interstícios de um discurso que não foge da narrativa hegemónica da direita neoliberal, dos terrores dos “mercados” aos ralhetes de Bruxelas, da respeitabilidade da banca aos riscos em que uma política de esquerda nos coloca.

José Rodrigues dos Santos diz, em resposta às supostas pressões, e bem, que o jornalismo deve ser independente do Governo. Eu também acho. Teria gostado que ele próprio o tivesse sido no governo anterior e gostaria que o fosse agora. Mas duvido que saiba como isso se faz.»

José Vítor Malheiros

23.5.16

Edmundo Pedro, Adriano Moreira e o Campo do Chão Bom


(Expresso, 21.05.2016)

Republico um post divulgado há dois dias já que, entretanto, o primeiro foi ligeiramente alterado e substancialmente ampliado.


Ao contrário do que Edmundo Pedro escreve, o projecto do Campo do Chão Bom, reaberto por portaria assinada por Adriano Moreira como ministro do Ultramar (ver no fim deste «post»), não só se concretizou como albergou, até 1 de Maio de 1974, elementos dos movimentos que lutavam pela independência de Angola, Guiné e Cabo Verde, ou apoiantes dos mesmos. Ou seja: presos políticos.

Justino Pinto de Andrade foi um deles e quem estiver interessado pode ouvi-lo, em vídeos gravados numa sessão realizada em Lisboa, em 2008 (na qual Edmundo Pedro participou), e que são AQUI referidos.

A ler também ESTE TEXTO de Raimundo Narciso.

Não entendo o que terá levado Edmundo Pedro a escrever este artigo para o Expresso. Eu tenho tanta documentação sobre toda a questão, que levaria várias horas a referi-la na totalidade.

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P.S. – Junto duas Notas deixadas como comentários no Facebook, uma de Raimundo Narciso e outra de Diana Andringa:

Raimundo Narciso: «Realmente só um lapso de memória e confusão pode explicar o artigo do nosso amigo Edmundo. Então ele participou directamente no colóquio da AR sobre o Tarrafal promovido em parceria pelo Movimento «Não Apaguem a Memória» de que ele é sócio honorário, em 29 de Out de 2008. E nesse colóquio em que ele presidiu a uma mesa (na foto), tratou do 1º Tarrafal o dos portugueses e do 2º Tarrafal de 1961 a 1974 no qual se destacou, como bem referiu a Joana Lopes, com uma intervenção um ex-preso angolano, desta 2ª vida do Tarrafal, Justino Pinto de Andrade, professor universitário em Luanda. O Campo foi reaberto por legislação do ministro competente de Salazar, Adriano Moreira, como se disse, em 1961, para angolanos, guineenses e cabo-verdianos (para os Moçambicanos havia o terrível Campo/prisão da Machava).»

Diana Andringa: «De facto, a portaria nº 18.539, de 17 de Junho de 1961, assinada por Adriano Moreira, não "ordena a reabertura do 'campo de concentração do Tarrafal'" - mas institui em Chão Bom um campo de trabalho, cujo pessoal será "recrutado, em regime de comissão, entre os servidores dos respectivos quadros da província de Angola, que suportará todos os encargos".
A ligação a Angola, onde meses antes começara a luta armada de libertação nacional, indica de imediato que tipo de presos será colocado nesse campo - e de facto chegam ao "Campo de Trabalho de Chão Bom", em Fevereiro seguinte, 33 presos angolanos do chamado "Processo dos 50".
E desde então até à libertação do campo, em 1 de Maio de 1974, passaram por ali 220 presos políticos, combatentes das lutas de libertação de Angola, Guiné e Cabo Verde. (E também, de um dos lados do campo, presos comuns.)
Vale a pena reler "Angolanos no Tarrafal - alguns casos de habeas corpus", publicado pela Afrontamento em 1974 e organizado pelos advogados Fernando de Abranches-Ferrão, Francisco Salgado Zenha, Levy Baptista e Manuel João da Palma Carlos, e verificar como em 1973 o director do Campo, Eduardo Vieira Fontes, referindo-se a alguns presos angolanos diz que "os requerentes cumprem medidas administrativas de segurança no Campo de Trabalho de Chão Bom, que lhes foi imposta a medida de "residência em Cabo Verde - Campo de Trabalho de Chão Bom" por prática de actos contrários à integridade territorial da Nação".
E como o Juíz de Sotavento, em relatório ao Supremo Tribunal de Justiça, escreve que, no campo instituído pela citada portaria nº 18.539, "estão instalados os presos políticos naturais de Angola e se albergam os indivíduos a quem foram impostas medidas de segurança administrativas".
Poderá também ler-se os Papéis de Prisão de Luandino Vieira, ou ouvir os testemunhos dos presos políticos de Angola, Guiné e Cabo Verde em "Tarrafal: Memórias do Campo da Morte Lenta", que tornam claro como, a partir de 1962, e na sequência da portaria referida, ali estiveram encerrados mais de duas centenas de patriotas africanos.»



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Estes queridos jornalistas…



A propósito da visita de Obama ao Vietname, um jornalista do Público escreve hoje que aquele país e os EUA travaram uma guerra sangrenta até «há pouco mais de duas décadas». Longas décadas tem este jornalista na mente, já que a dita guerra terminou em 1975. Não cumpriu a escolaridade obrigatória? Não usa o Google? Não há editores que revejam os textos?

P.S. - Entretanto, o erro já foi corrigido na versão online. Mas o jornal em papel foi para a rua errada, claro. 
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O salário dos presidentes. E o dos trabalhadores



Nicolau Santos, no Expresso diário de 23.05.2016:

....(...)
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23.05.1934 - Bonnie & Clyde



Bonnie Parker e Clyde Barrow morreram em 23 de Maio de 1934. Ela tinha apenas 23 anos, ele 25, mas, apesar de curtas, as suas vidas foram atribuladíssimas, recheadas de assaltos e assassinatos, até que eles próprios foram abatidos numa emboscada, numa estrada deserta, algures no estado da Louisiana – cravados de balas, cerca de cinquenta para cada um, segundo consta. 


Ficaram imortalizados no imaginário da história do crime norte-americano como Bonnie & Clyde e foram trazidos para o nosso por um magnífico filme de Arthur Penn (1967), com «som» de Serge Gainsbourg, e, também, por uma inesquecível balada cantada por Giorgie Fame. 



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Saga dos contratos de associação? Assino por baixo


«Proprietários, professores, pais e filhos mobilizam-se para ter subsídios públicos a serviços privados. Vão organizados como um qualquer grupo político com um programa de exigências, mobilização na rua, símbolos comuns. Agora vieram dizer que não respeitam a lei e vão matricular as crianças. Isso exige dinheiro para compra de materiais, profissionais, contacto, assessoria de imprensa e deslocações. Um grupo com finanças, portanto. E clareza política sobre para onde querem ir - estratégia clara. Podia ser um sindicato, uma associação patronal ou qualquer outro grupo organizado - provavelmente partidos de direita e alguns sectores da igreja. Não subscrevo nenhuma das suas exigências, não tenciono entregar 1 euro de impostos a estas escolas, mas não estou nada indignada com a sua luta. E é isso que eles estão a fazer - luta política baseada na organização e mobilização da sua base social. Quem não concorda que se organize, pague quotas, mobilize em objectivos comuns, venha para a rua. E dedique 2 minutos por dia a pensar conjunta política e estratégia em vez de ir atrás da primeira causa fracturante que abre telejornais. Em vez de se queixar deles no Facebook porque "eles" - neste caso a destruição do orçamento público - só existe porque há um "nós " que abandonou a política como estratégia, a organização como vital e a ideologia como disputa de um projecto futuro - tudo coisas que não foram abandonadas do outro lado, de tal forma que a sua ideologia - o neoliberalismo - tem-se imposto no ocidente com uma unanimidade que a maioria das pessoas está convencida que é uma "ciência económica". A direita mostrou à esquerda que escreve em blogues e jornais que as lutas se ganham mas ruas com organização centralizada infernizando o adversário, dia a dia. E que quando pode vence no parlamento, quando não pode tenta nas ruas. É um cheirinho a PREC - oh! País que nunca para de nos surpreender - trazido pelos sectores conservadores, os mesmo que, em teoria, até há duas semanas, odiavam manifestações. Agora andam a ler O Que Fazer? do Lenine - compraram 100 no largo do Caldas. Nos compêndios de história a luta dos colégios chama-se luta de classes. Não estarei ao lado deles - tem que haver uma barreira clara entre público e privado, um fim à remuneração pública de capitais por pequenos que sejam privados - mas gabo-lhes o sentido de eficácia e determinação. Traçam um caminho e preparam-se para ele, por isso a sua caravana tem passado há décadas indiferente aos latidos, os choramingos, de indignação»

Raquel Varela no Facebook.
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Marcelo e Costa



«O Presidente da República considera "irritante" o optimismo do primeiro-ministro, parece agastado com a polémica dos colégios e tem sérias reservas sobre a proposta do Governo para as 35 horas na Função Pública. Será que a relação entre Belém e São Bento esfriou? (…)

Polémica dos contratos de associação com os colégios, novo recado. "Estou esperançado que seja possível, com rapidez, encontrar um entendimento", pediu o Presidente, numa chamada de atenção ao Governo. Desta vez Marcelo não alinhou com Costa, que foi vaiado no sábado e domingo por pais, alunos e professores. Os mesmos que clamaram pela intervenção do Presidente.

Episódios sem importância? Provavelmente. Mas o Presidente parece ter achado que este é o "timing" para afirmar as suas diferenças face ao primeiro-ministro. Que é altura de descolar da imagem de ser o braço direito de um Governo apoiado no braço esquerdo.

O vinco pode em breve tornar-se mais visível. Marcelo passou, via Expresso, a mensagem de que tem sérias reservas em relação ao momento escolhido para a reposição das 35 horas na Função Pública, 1 de Julho, quando o país estará de novo sob exame de Bruxelas e pode vir a ser alvo de sanções. Um veto político não estará descartado. Será receio de que o optimismo de Costa lhe tolde a percepção sobre as implicações orçamentais da medida? Ou será que quer ajudar o primeiro-ministro a adiar a entrada em vigor do novo horário?

Ao estilo Marcelo: A gestão da relação pública com António Costa mudou? Mudou. E isso é mau? Não, é até saudável. Significa que a cooperação estratégica acabou? Não.»

André Veríssimo

22.5.16

Desejos de Marcelo



«Marcelo quer um banco mau, uma UE fixe, umas escolas privadas bem com a vida, paz em Moçambique - é uma miss mundo com mais livros.» 

João Quadros, Negócios, 20.05.2016
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Dica (301)




«Meanwhile, in the US, opposition to agreements such as TTIP have become mainstream in a presidential debate that has recognised that the rule of big business has not benefited ordinary people. Cameron is firmly pushing forward with the most extreme version of TTIP imaginable. But the ground is moving under him, and all the other politicians who can’t break with the neoliberal orthodoxy of the last 40 years.» 
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Charles Aznavour, 92



Charles Aznavour nasceu em 22 de Maio de 1924, tem 70 anos de carreira, mais de 100 milhões de álbuns vendidos e continua bem activo. Apresenta actualmente a sua comédia musical «My Paris» no Connecticut, que retrata Paris de 1900 através da vida de Toulouse-Lautrec.



Aznavour o cantor, mas também «o arménio»:



E, sempre, voltar a ouvir velhas relíquias guardadas no baú:






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Se non è vero, è ben trovato


«O possível veto de Marcelo às 35 horas pode trazer benefícios quer ao Presidente, quer ao primeiro-ministro: “É uma solução em que os dois ganham e ninguém perde a face.” Costa, porque ganha tempo e adia a entrada em vigor da medida na altura em que Bruxelas examina o “esforço” do Governo para poupar, e ao mesmo tempo aparece como vítima do veto junto dos seus parceiros de esquerda, e dos sindicatos. Marcelo, por seu lado, beneficia junto da sua base de apoio de um afastamento da maioria de esquerda.» (Público 22.05.2016)

As afirmações citadas são de Pedro Adão e Silva. 
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É isto


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Portugal a preto e branco



«Vemos muitos pretensos membros da nossa elite a esperar que a União Europeia use um cadafalso para colocar na ordem quem ponha em causa os sacrossantos princípios da austeridade vigente que até os próprios Estados Unidos criticam às claras. A decisão política de Bruxelas (por causa do referendo britânico e das eleições espanholas - um favor do PPE ao seu colega Rajoy), e a incapacidade de sancionar Alemanha ou França pelos seus incumprimentos do Pacto de estabilidade, mostram também o ambiente em que Portugal está. Bruxelas deseja agora mais cortes na saúde, talvez na senda do pavor que se tornou o sector na Grécia nos últimos tempos, em que nem dinheiro para comprar seringas novas existe. É claro que o governo português, até pelo equilíbrio que tem de fazer para manter a maioria parlamentar, resvala algumas vezes para ilusões de óptica. Como é o caso das 35 horas, em que o que Mário Centeno sabe ser impossível, António Costa vem dizer que é possível. Arménio Carlos continua a viver (tal como Ana Avoila) no mundo das maravilhas, em que a máquina de imprimir dinheiro é controlada pelo departamento bolchevique na Fábrica de Dinheiro. Nada disso é real.

Portugal está, como sempre, numa encruzilhada e com os pés em terreno minado. Tudo continua a ser um Festival da Eurovisão em versão lusitana, por motivos político-partidários e interesses mais sombrios que se vão desenrolando independentemente do que se decide. O certo é que o desemprego persiste, a classe média está mais pobre, o investimento (interno ou externo) não existe, Angola e China deixaram de puxar pelas exportações e Bruxelas espera a sua vez. Continua a faltar um projecto político, económico e social para Portugal. Credível. E esse é o nosso grande problema.»

Fernando Sobral