4.6.16

Dica (313)

Congresso do PS



Vou seguindo mais ou menos o congresso do PS e não consigo deixar de ter sempre uma pergunta em pano de fundo: como estaria o PS se tivesse ganho as últimas legislativas com maioria absoluta? 
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Adeus e antes do meu regresso



Ainda andarei um pouco por aqui, mas amanhã partirei para mais uma digressão, desta vez pela Ásia Central. Fiquei com curiosidade de conhecer outros países com rastos da Rota da Seda, desde que estive no Uzbequistão.

De lá, irei escrevendo e mostrando alguma coisa, dentro das possíveis limitações – de tempo e não só. 
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04.06.1989 – Nunca esquecer Tiananmen



4 de Junho de 1989 marcou o fim de quase dois meses de protestos na Praça da Paz Celestial, em Pequim, quando os tanques avançaram brutalmente sobre os manifestantes. Os factos são conhecidos, mas é sempre bom tê-los presentes – sobretudo em imagens, que falam por si e substituem, quase sempre com vantagem, muitas palavras.




Há dois anos, quando foi assinalado o 25º aniversário dos acontecimentos, tudo foi especialmente recordado, sobretudo por alguns protagonistas de 1989 ou pelas suas famílias.







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3.6.16

Mais vale tarde...


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Dica (312)



Brexit: Fraying union. (Richard Milne e Peter Spiegel) 
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Refugiados? É isto



This is Shirin, she is from Syria. She has a Masters degree in Civil Engineering and speaks 3 languages including fluent english. Until yesterday she had never seen the sea, but with no other choice than death, had to pay €2000 to cross it to Greece in an impossibly overcrowded wooden boat, which shattered apart after 15 minutes. With the right passport she could travel safely, and legally, this same journey that would cost you and I €15. With her mother and two sisters she was in the water for over 4 hours and survived. Many others did not. This is what a refugee looks like.
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Pobres dos menores de 65



… neste país de velhos.


«6. Foi decidido estender a obrigatoriedade de prestação de atendimento prioritário às pessoas com deficiência ou incapacidade, pessoas idosas, grávidas e pessoas acompanhadas de crianças de colo a todas as entidades públicas e privadas que prestem atendimento presencial ao público, sendo estabelecido um quadro contraordenacional em caso de incumprimento.»

(Note-se que isto inclui mesmo tudo, por exemplo filas de espera à porta de restaurantes.)

Declaração: 1º Ofereço-me desde já para acompanhar famílias, que não desejem esperar muito  para conseguirem lugar em restaurantes de luxo, desde que me paguem o almoço; 2º Estou farta de ver tudo obrigatório ou proibido. 
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Pela minha rica sardinha



«Não sei se o leitor é como eu, mas eu dou muita importância àquilo que como. Por exemplo, quando me falam de perca do Nilo, eu digo: não obrigado. Já lá estive, no Nilo. O que eu conheço do Nilo é cocó com bambu à volta. Um peixe que sobrevive naquela água é porque aprendeu a não respirar. Pode estar a fazer-se de morto só para me atacar quando o for cozinhar. Vem isto muito pouco a propósito da sardinha. Muita sardinha devora uma pessoa nesta altura. Se as sardinhas tivessem uma indústria cinematográfica, debaixo de água, o clássico do terror delas era o 13 de Junho. No meu caso, o que me aterroriza é o preço da meia dúzia.

Os limites à captura de sardinha fazem com que as transacções em lota deste peixe sejam cada vez mais baixas, o que leva ao aumento do preço. A sardinha teve um aumento de preço médio de 10,2% ao ano de - 0,31€/kg em 1995 para 2,19€/kg em 2015. Pumba! Senhores analistas financeiros, etc., que desde 1995 investiram no BCP, BES, PT, BPI, vejam como, afinal, o melhor investimento era o cabaz da sardinha. Mil vezes a lota do que a banca. A sardinha é que devia estar no PSI-20. Mas, infelizmente, tal como na banca, estamos sujeitos à invasão espanhola. (…)

Mas, afinal, a sardinha, que peixe é este? A sardinhas são peixes da família Clupeidae, aparentados com os arenques, mas não gostam que se diga. Dão-se mal. Caracterizam-se por possuírem apenas uma barbatana dorsal sem espinhos, caudal bifurcada e boca sem dentes e de maxila curta… Isto são eufemismos para dizer que é um peixe que tem um grande bedum, que ainda por cima não sai da roupa. Nem dos cabelos. O cheiro de sardinha não sai nem que andemos à luta com todos os empregados de um McDonald's. Eu sei porque já experimentei.

Isto que eu vou contar é verdade, pelo menos é verdade a partir de agora. Conheci um senhor que assava sardinhas debaixo da ponte de Portimão que, meses depois de morrer, ainda tinha a campa cheia de gatos. E fiquem sabendo que ainda hoje não construíram nada nos terrenos da feira popular porque cheira muito a sardinhas.

Vá, vão lá dar cabo delas, porque daqui por mais vinte anos, com uma dose de sardinhas, compram uma ilha. Bom apetite.»

João Quadros

2.6.16

Dica (311)

Mourinho, o nosso papa



José Mourinho vai interpretar o Papa Francisco numa animação que servirá para comemorar o centenário das aparições. O filme chama-se Fé e tem estreia marcada para 13 de Maio de 2017. O «nosso papa» vai emprestar a sua voz ao filme, em quatro línguas e o Vaticano já aprovou.

(Notícia aqui)
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Mary Quant na história da moda e do crime



Ricardo Araújo Pereira na Visão de hoje:

«Quando surgem notícias (e não surgem assim tão poucas vezes) segundo as quais uma velhinha de 80 anos foi violada, pergunto sempre a mim próprio em que loja terá a senhora adquirido a mini-saia. Quando a notícia especifica que se trata de uma idosa acamada, censuro a opção de se ter deitado com a mini-saia vestida. (…)

A arma do crime é a mini-saia. Que se possa comprar livremente uma arma destas, em qualquer loja de pronto-a-vestir, é circunstância que não deixa de causar perplexidade.»

Na íntegra AQUI
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Uma excelente notícia

«Pigs in Space»



«Os deliciosos Marretas souberam, em tempos, brincar com algumas das mais populares séries televisivas dos anos 60 e 70, como "Star Trek". Criaram assim os "Pigs in Space", que se deslocavam numa insólita nave espacial, a "Swinetrek".

Portugal, sabe-se, está cheio de OVNI que alimentam todos os tipos de teorias da conspiração ou mesmo certezas absolutas. Tem agora também vacas voadoras, cortesia de António Costa, para explicar que não existem impossíveis neste país. Já se desconfiava que este era um país onde já nada surpreende. Afinal, os Marretas poderiam agora recuperar o seu velho quadro e adaptá-lo a Portugal. Não para gozar connosco, mas apenas para que possamos sorrir com aquilo que parece ser sempre uma possibilidade aqui neste sítio. Disfarçamos os nossos problemas estruturais, mas nunca saramos as feridas que dilaceram o país. A dívida será o nosso calcanhar de Aquiles durante décadas. A corrosão dos serviços públicos continuará. O desemprego será estrutural. O crescimento será anémico. A corrupção não desaparecerá.

Há milagres? Existem. Mas são tão improváveis como vacas voadoras. Eça de Queiroz traduzia friamente a crise de sempre. Cohen dizia que "a única ocupação mesmo dos Ministérios era esta - 'cobrar o imposto' e 'fazer o empréstimo'. E assim se havia de continuar...". A questão não era necessitar ou não do empréstimo, mas sim de fazê-lo sem parecê-lo. Era uma tradição e isso era uma força superior contra a qual nenhum Ministério conseguiria lutar. Sem riqueza própria, o crédito externo sempre foi a bóia de salvação. Talvez por isso se compreenda melhor como a política de bolsos vazios de Portugal sempre o impediu de se tornar importante estrategicamente em áreas que poderiam ser rentáveis e que acabam sempre por ir parar a mãos alheias. Vende-se o que é bom porque isso resolve problemas do momento. Só que nunca mais se recuperou dessa fraqueza estratégica. Em certos momentos aparecem vacas voadoras ou mesmo dinheiro que parece infinito. Mas é uma vertigem de nave espacial.»

Fernando Sobral

1.6.16

Como ficará isto registado nos anais da História das primeiras décadas do século XXI?

Dica (310)

Les beaux esprits se rencontrent


... já dizia Voltaire. 
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01.06.1967 – Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band



Foi em 1 de Junho de 1967 que os Beatles lançaram o álbum em Londres (e, nos Estados Unidos, no dia seguinte). Considerado um dos mais importantes exemplares da história do rock e, em 2003, colocado em primeiro lugar na lista dos 200 álbuns definitivos no Rock and Roll Hall of Fame, pela revista «Rolling Stone», foi gravado numa fase de um certo «recuo», com os Beatles cansados de digressões e no rescaldo do escândalo provocado pelas declarações de John Lennon quando afirmou que o conjunto de Liverpool era mais popular do que Jesus Cristo. Trata-se de um álbum extremamente inovador, desde a capa à técnica de gravação.

A BBC considerou que várias canções tinham letras influenciadas por drogas e proibiu que fossem transmitidas («A Day in The Life», «Lucy in the Sky with Diamonds»), mas, só nos EUA, foram vendidas mais de 11 milhões de cópias do LP.

Bem difícil se torna a escolha de algumas canções, entre as treze, mas repesco três das minhas preferidas:






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Todo o mundo é feito de mudança



Eu ainda sou do tempo em que ninguém ligava nenhuma ao Dia da Criança e em que os destinos do PS eram decididos em sótãos. 
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O problema é que o inaceitável já há muito se tornou normal e já nem sequer damos por isso …



«Num mundo lógico e “normal”, não seria concebível que o Presidente da República se deslocasse a Berlim para “pedir” que não fossem aplicadas sanções a Portugal por alegada violação do Procedimento dos Défices Excessivos, da mesma forma que o Primeiro Ministro não teria de ir a Berlim para “pedir” apoio na aprovação do Orçamento para 2016.

Evidentemente, os nossos líderes não foram “pedir”. Foram exercer o seu magistério de influência, foram negociar, foram procurar dar a conhecer a importantes decisores europeus (o mais poderoso, sem dúvida, a Chanceler alemã) pormenores da situação e a perspectiva das autoridades portuguesas. Tudo legítimo e necessário sendo o “pedido de ajuda” implícito apenas uma das facetas de uma negociação complexa. Por isso, parecem compreensíveis e até adequadas as diligências do Presidente da República e do Primeiro Ministro.

Mas o facto é que a imprensa traduz as nuances desta negociação e jogo pela palavra “pedir”. E tem, em certa medida, razão.

Ora, por um lado, é como se a decisão de aplicar sanções já tivesse sido tomada, apesar de (como aqui referi ) se afigurar que faltam, à luz do Tratado Europeu, os fundamentos para aplicar as sanções com base no critério do défice.

Por outro lado, incomoda ver um País soberano, que é o nosso, na qualidade de “pedinte” ainda que, evidentemente, seja necessário ser pragmático face a diferenças de opinião e, em alguns casos, face a “ideias feitas”.

O problema é que, embora assista razão a Portugal, é a forma, mais do que a substância, que determina o resultado. E se a Comissão Europeia recomendar a aplicação de sanções e estas forem aprovadas pelo Conselho Europeu, numa votação em que Portugal não vota nos termos do nº 13 do artigo 126º do Tratado, então serão aplicadas sanções ao país (provavelmente em conjunto com a Espanha). Se assim for, será a primeira vez que se aplicam as sanções previstas no Tratado! (...)

Afigura-se tudo muito arbitrário e, por isso, inaceitável. Pior: fica a dúvida, caso as sanções acabassem por ser impostas, sobre se os responsáveis políticos portugueses recorreriam da decisão junto do Tribunal Europeu.

Parafraseando César ao atravessar o Rubicão com as suas legiões, em violação da lei, desafiando o Senado de Roma e desencadeando uma violenta guerra civil: “alea jacta est” – a aplicação de sanções ao país depende mais da sorte dos dados do que de factos?

Ao longo da História foi demasiadas vezes assim, mas nem por isso, deixa de ser irracional e inaceitável!»

Ricardo Cabral

31.5.16

Uma prenda para a Geringonça


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Seja feita a nossa vontade


O Jornal de Negócios faz hoje 13 anos e pediu a algumas dezenas de pessoas textos subordinados ao tema «O que é que Portugal tem de fazer para não depender da sorte?» Até Marcelo correspondeu ao pedido, mas fica aqui o que escreveu Marisa Matias:


«Quando os antigos sacrificavam animais para ter chuva ou uma boa colheita, a pouca fiabilidade do método tê-los-á certamente levado a pensar que os Deuses eram cruéis, caprichosos e inconstantes, movidos por desígnios incompreensíveis.

Bom, as instituições europeias são mais ou menos assim. Talvez isso ajude a explicar porque é que o anterior governo seguia as suas instruções com a devoção que se exige perante uma divindade. (…)

Se uma Europa diferente é possível, ela só poderá ser construída a partir de revoltas cidadãs que rejeitem esta lógica interminável e a obsessão de gente que ninguém elegeu. O caminho percorrido pela geringonça (que belo conceito que a direita nos forneceu!) é ainda muito modesto. Mas já chegou para indicar um sentido para a política de esquerda, feito de direitos e auto-determinação, dois pilares fundamentais de qualquer democracia. Não mais dependeremos da bondade de comissários. Será feita a nossa vontade.» 
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Dica (309)




«Em 1931, apesar dos sinais daquela que viria a ser conhecida como A Grande Depressão, Keynes escreveu um artigo otimista chamado "Possibilidades económicas para os nossos netos". Nele discutia como, lá para 2030, a sociedade teria produzido riqueza suficiente para o trabalho, reduzido a 15h semanais, se tornar uma questão de realização pessoal. A Humanidade - livre da obsessão pela acumulação - reaprenderia a viver em função do prazer e da cultura.» 
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As linhas vermelhas dos estivadores



«Escrevemos este comunicado, sobre o Acordo de Operacionalidade, para deixar claro quais foram as nossas linhas vermelhas. Abrimos mão do aumento de salários para que se consumem novas contratações, a empresa de trabalho temporário fica impedida de contratar e parte dos seus trabalhadores transitam para a AETPL, os salários em atraso serão repostos e não haverá lugar a qualquer despedimento.

Porque queremos que as nossas condições laborais com direitos sejam o referencial para os estivadores doutros portos, e porque também estamos empenhados em colaborar na construção de um grande movimento na sociedade civil para enterrar a precariedade em todos os sectores do trabalho, mantemos a convocatória para uma Manifestação contra a Precariedade (evento no Facebook), no dia 16 de Junho, às 18h, entre o Cais do Sodré e São Bento, e reforçamos o apelo à participação de todos os que queiram lutar contra este flagelo nacional.

Lê e divulga o comunicado, onde se pode também ler o texto da Ministra do Mar sobre o Compromisso e o Acordo de Operacionalidade.»

Sindicato dos Estivadores no Facebook

Acordo para a Operacionalidade do Porto de Lisboa.

O FMI no imbróglio grego e as lições para Portugal



«O FMI está numa crise de identidade e quem lê o Jornal de Negócios não estranhará essa conclusão, que releio a partir de uma análise que publiquei recentemente (deixo a discussão do que se passa na União Europeia para outras núpcias).

Por muito tempo, o Fundo foi um pilar dos "programas de ajustamento" que, testados em África e na América Latina, conduziram sempre a um mesmo resultado, transferência de rendimento para o topo da escala, destruição da pequena agricultura e urbanização, privatizações e especialização de cada economia no sector exportador, com consequências sociais devastadoras no empobrecimento e desemprego para parte importante da população. Mais recentemente, esta competência técnica foi usada para desenhar os programas para a Grécia, Irlanda e Portugal, e o resultado foi do mesmo tipo, ajustamento recessivo. Mas nem num caso nem noutro, no "Terceiro Mundo" ou na Europa, nunca os dirigentes do FMI mostraram alguma vulnerabilidade em relação aos efeitos da sua política. Até aos dias de hoje. (…)

Alguns dos dirigentes do FMI parecem por isso ter percebido agora a crise que têm em mãos. (…) Não é difícil concluir que estas palavras e boas intenções têm por ora pouco impacto. Quando o Fundo está a conduzir uma política concreta num programa para um país, estes protestos de generosidade social são evidentemente ignorados. (…)

No meio dos arrependimentos, chega entretanto a vez do susto. Durante a recente conferência para apresentação das previsões para 2016, Maurice Obstfeld, o economista-chefe do FMI, reconheceu que já temos crescimento muito débil desde há demasiado tempo e que esse resultado está ligado a baixos salários, além de criar a ideia de que elite económica é que beneficiou do tempo da austeridade (conferência de imprensa de 12 de abril de 2016). O Boletim do FMI, do dia seguinte, vai mais longe e reconhece uma deterioração da dívida pública, de novo (Boletim do FMI, 13 de abril de 2016). Um estudo de uma equipa do FMI considerava mesmo que uma das causas da recessão é o aumento da desigualdade nos últimos anos. Não saímos da cepa torta.

O FMI sugere uma solução: aumentar o investimento em infraestruturas, sobretudo o investimento público, ou seja, expandir os orçamentos (FMI, World Economic Outlook, cap. 3, outubro 2014). Por outras palavras, fazer exactamente o contrário do que tem vindo a impor aos vários países.

Será suficiente? Depende. William White, da OCDE, avisa que a próxima crise pode ser pior do que a de 2007 (podemos ter bancarrotas "épicas", diz ele). Talvez tudo resulte de ter sido fácil demais: lucros exagerados, sugere o The Economist, e especulação sem freio.

Era exactamente o que o FMI preconizava: libertem os capitais de regulamentos e restrições, soltem o monstro e teremos prosperidade. O resultado é o que está à vista e o FMI assusta-se com a sua criatura. Portugal, uma das cobaias desta operação, bem faria em atentar no fracasso do FMI.»

Francisco Louçã
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30.5.16

Marcelo no Museu de Cera


(Expresso diário, 30.05.2016)

O presidente da República vai ter uma escultura no Museu de Cera em Madrid. Vale a pena ler a notícia, mas houve algo que me espantou: diz Marcelo que o facto de dormir apenas três horas e meia ou quatro é «consequência da Revolução (25 de Abril de 1974) e do jornalismo». Do 25 de Abril? Tirou-lhe o sono?
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Dica (308)




«Nas negociações com a Turquia sobre a crise de refugiados, a Europa perdeu a superioridade moral. No início do ano, a União Europeia estava paralisada pela perspetiva de três ameaças simultâneas e potencialmente destrutivas: grexit, brexit e a crise de refugiados. Desde então, uma delas tem diminuído de intensidade, mas não desapareceu; a segunda permanece por decidir; e a outra está em perigo de explodir.» 
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O nosso homem em Berlim a tentar convencer a dona da Europa



«O nosso homem chegou ontem a Berlim, ao fim da tarde, com uma missão muito difícil, mas não confidencial. Todos sabemos que vai tentar convencer a dona da Europa a não aplicar sanções a Portugal por não ter cumprido o défice de 3% em 2015. E que vai também tentar sensibilizá-la para a ideia de que não faz sentido o Estado português, único acionista da Caixa Geral de Depósitos, não poder proceder ao aumento de capital da instituição.

Confiamos todos que o nosso agente em Berlim tenha sucesso na sua missão. A sua capacidade argumentativa e a sua simpatia são seguramente trunfos importantes com que jogará. Mas só no final de junho, após as eleições legislativas em Espanha, é que se saberá se o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, teve êxito na sua missão junto da chanceler alemã, Angela Merkel. (…)

Marcelo é suficientemente diplomata para não lembrar a Merkel que, se vamos por aí, também a Alemanha deveria ser sancionada por acumular excedentes comerciais excessivos, acima do previsto pelos tratados europeus, desde há vários anos. Esperemos, contudo, que diga à senhora que manda na Europa que o anterior Governo português aplicou integralmente e para lá do que a troika, Bruxelas e Berlim queriam, a política de austeridade que preconizaram – pelo que sancionar Portugal pelos resultados de 2015 é sancionar também essa política. (…)

Terça-feira já teremos de volta o nosso enviado a Berlim. E nessa altura começaremos a saber se a sua missão foi coroada de sucesso.»

Nicolau Santos, no Expresso curto de 30.05.2016.
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Estivadores



Um belo texto. Recomendado.

O conflito portuário: vale a pena lutar!

O umbigo da Europa



«Os umbigos são, por natureza, pequenos. Aliás, os umbigos não servem rigorosamente para nada. São apenas uma cicatriz deixada pelo cordão umbilical, uma marca perene da ligação à mãe.

Por estes dias, a eventualidade da aplicação de sanções a Portugal por parte da Comissão Europeia é o umbigo de que se fala. Por cá e na severa Europa, que insiste em estrear este tipo de medida com Portugal.

Este umbigo distrai-nos do essencial. A Comissão está preocupada com umas décimas e presume que está aqui, na aplicação de uma sanção, a panaceia para todos os males. Não está.

O que por estes dias realmente perturba a construção europeia é bem mais significativo. A começar pela Espanha que, mesmo depois das eleições marcadas para 26 de Junho, poderá continuar num impasse governativo cujas consequências, sendo imprevisíveis, serão certamente negativas.

Antes disso, a 23 de Junho, a Europa ainda terá de assistir ao referendo no Reino Unido sobre a permanência, ou não, do país, na União Europeia. A vitória do não terá um efeito avassalador, obrigando a redesenhar uma União que ficará politicamente desequilibrada e poderá tornar os países do Sul da Europa ainda mais periféricos ao olhar de Bruxelas.

Em França, assiste-se a um brutal clima de convulsão social, com o país paralisado à conta de uma nova lei laboral que os sindicatos contestam com veemência nas ruas. O crescimento da economia está a abrandar e o presidente François Hollande surge cada vez mais manietado. As dificuldades francesas, a terceira maior economia da Europa, são um mau sinal para a coesão da União.

Depois, a Europa tem ainda que se haver com o problema dos refugiados. O Mediterrâneo continua a ser uma vala comum para milhares de pessoas que fogem da guerra, sem que se vislumbre uma solução duradoura para este flagelo. As mortes no Mediterrâneo passaram a ser de tal forma recorrentes que vão perdendo peso nos noticiários europeus. O horror transformou-se em rotina.

A tibieza que Bruxelas tem revelado nestas matérias, por contraste com a pesporrência em relação a Portugal, essa sim é inquietante, porque denuncia uma falta de visão de futuro da União Europeia. O mundo da Europa é bem maior do que o umbigo dos seus líderes. É esta a premissa que está a faltar.»

29.5.16

Isto é um Hino?




Não dá para substituir pela Casa da Mariquinhas?
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O cardeal Clemente e os colégios



Não vislumbrei o cardeal nos degraus do Parlamento, mas talvez lá tenha estado assim, vestidinho de amarelo.

Que a Conferência Episcopal tenha apoiado expressamente a manifestação de hoje (e a notícia não é fruto de manobra de jornalistas, é da sua própria agência de informação), é inédito e absolutamente vergonhoso. Nunca fez algo de paralelo quando se tratou de protestos contra o empobrecimento da população portuguesa, ocorrido nos últimos anos, contra a emigração forçada de centenas de milhares de portugueses, etc., etc.

Ainda bem que os bispos portugueses mostram de que lado estão e quais são as suas escolhas. Quanto menos pessoas forem enganadas, melhor será para a sanidade deste pobre país.
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E hoje é dia dele (de futebol)



«Como todos os meninos uruguaios, eu também quis ser jogador de futebol. Jogava muito bem, era uma maravilha, mas só de noite, enquanto dormia: de dia era o pior perna de pau que já passou pelos campos do meu país. Como adepto, também deixava muito a desejar.(...)

Os anos passaram e, com o tempo, acabei por assumir a minha identidade: não passo de um mendigo de bom futebol. Ando pelo mundo de chapéu na mão e nos estádios suplico:
– Uma linda jogada, pelo amor de Deus! 
E quando acontece o bom futebol, agradeço o milagre – sem me importar com o clube ou o país que o oferece.»

Eduardo Galeano, Futebol, Sol e Sombra.

Temas realmente importantes

Dica (307)




«But while we haven’t had many business leaders in the White House, we do know what kind of advice prominent businessmen give on economic policy. And it’s often startlingly bad, for two reasons. One is that wealthy, powerful people sometimes don’t know what they don’t know — and who’s going to tell them? The other is that a country is nothing like a corporation, and running a national economy is nothing like running a business.» 
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Hoje há conquilhas, amanhã não sabemos



«Em 1977 o grupo Banda do Casaco editou um álbum histórico: "Hoje há conquilhas, amanhã não sabemos". Era quase premonitório do que se iria passar.

Nesse ano passou discretamente por Portugal uma missão do FMI, que voltaria em força anos depois para "salvar" o país dos problemas financeiros e dar o discreto aval ao Governo do Bloco Central que haveria de preparar o terreno para a entrada na CEE. E na camisa-de-forças que, a troco de fundo estruturais sem fim (…), entrámos. E de onde só muito dificilmente sairemos. (…) É certo que há uma elite política que defende que Portugal deve estar subordinada às ideias e aos ditames da Europa, mas é isso que tem levado a esta sangria que nos custou em grande parte o BES, o Banif e o que adiante se verá. O que suceder à CGD demonstrará que autonomia ainda teremos até sermos uma província de Bruxelas.

Tudo isto pode parecer um pensamento radical, mas o certo é que a troco de conquilhas imediatas colocámos nas mãos dos superiores interesses da Alemanha o nosso destino como nação soberana há mais de 900 anos. Não é coisa de somenos. Tal como a destruição de valor acumulado por gerações, como sucedeu no caso extremo da PT (sem consequências legais para ninguém) ou nos milhares de pequenos investidores no BES ou no Banif. A pouca riqueza portuguesa evaporou-se sem consequências. Não admira que, a continuar a pressão europeia, que poderá por em causa a continuidade do Governo de António Costa, Portugal poderá ser apenas um pequeno reduto periférico que pouco valor tem para uma Europa construída à volta da estratégia de Berlim. Onde a periferia deixou de ser relevante. (…)

Não andamos muito longe de nos confrontamos novamente com decisões históricas que muito têm a ver com o esgotamento da nossa presença na União Europeia e na zona euro. A menos que desejemos continuar esta forma de ficção em forma de tutela em troca de algumas conquilhas de duvidosa qualidade que servem apenas para ir aumentando a nossa dívida e hipoteca nacional.»

Fernando Sobral