21.1.17

É isto

Dica (481)



'He's already let America down': the reaction to Trump's first speech as presidente. (Jill Abramson, Steven W Thrasher Michael Paarlberg e Jamie Weinstein) 
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O diabo deixou de ser anjinho



Pedro Santos Guerreiro no Expresso de 21.01.2017:



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Música de fundo para tarde de Sábado



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Trump, como nunca o vimos (quer dizer: como presidente dos Estados Unidos)



José Vítor Malheiros foi «dispensado» do Público, mas tem as redes sociais à sua disposição. Transcrevo o excelente texto que divulgou no Facebook:

«Nos últimos anos, quase sempre a propósito do aparecimento e do sucesso de certas organizações políticas nacionalistas na Europa, temos falado muito de populismo, tentando clarificar o conceito, debatendo o seu rigor ou ambiguidade, discutindo a correcção e utilidade da sua aplicação a esta ou àquela organização, a este ou àquele discurso, a esta ou àquela prática política.

O discurso de tomada de posse (não, não se diz inauguração) do presidente Donald Trump (custa a dizer, mas é o que o homem é) contribui para esclarecer a discussão porque é um perfeito exemplo de discurso populista, a exemplo de mais uns quantos feitos maioritariamente nos anos 30 do século passado.

A marca de água do populismo é a ideia de que a soberania reside no povo (até aqui estamos todos de acordo) mas que a vontade popular não se pode exprimir correctamente através dos sistemas de representação e de mediação da democracia representativa, pois estes foram capturados por elites que os deturparam, desviaram da sua função e os usam para seu benefício pessoal.

O discurso populista não avança propostas para melhorar a democracia e para a libertar das mãos dos grupos que capturaram os mecanismos de expressão da vontade popular e de governação democrática, mas apresenta sempre um grupo, um líder, como capaz de interpretar os desejos e sentimentos do povo e de os transformar em acção política de forma inorgânica.

A entidade “povo” (com este ou outro nome) aparece sempre no discurso populista como algo de puro e homogéneo, sem divisões ou interesses divergentes no seu seio, sem conflitos internos, e todos os problemas e divergências que aparecem na sociedade são atribuídos a inimigos externos, “outros” que não o povo. O populismo identifica em geral as elites “afastadas do povo” (os políticos, os media, os intelectuais, os artistas) como a causa de todos os problemas e obstáculos a eliminar para a “purificação” do sistema - usando com frequência um léxico higienista - e exige ainda inimigos externos que constituem o maior perigo, para cujo combate devem ser mobilizadas todas as forças.

A existência destes inimigos internos e externos justifica, por sua vez, por razões de eficácia, a concentração de poder nas mãos do líder e dos seus próximos, intérpretes esclarecidos da vontade do povo.

Não foi por acaso que não houve, no discurso de Trump, uma referência aos partidos, ao Congresso, a quaisquer outras organizações nacionais ou internacionais. O discurso não pretendia avalizar qualquer outra forma de interpretação da vontade popular que não fosse simplesmente o instinto do líder, não pretendia promover qualquer forma de exercício do poder que tivesse a mínima característica institucional ou fosse sequer escrutinável.

Trump, fonte inesgotável para «cartoons»



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20.1.17

Como saberíamos esta notícia sem o Correio da Manhã?


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Música para esta noite



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O sinistro discurso



Talvez num surto de sadismo, deixo aqui o texto do terrível discurso de Donald Trump na tomada de posse. Creio que é importante para memória futura.

E o vídeo também:


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Trump: acertar relógios


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Recordar Kennedy



Foi num 20 de janeiro que John Kennedy tomou posse como 35º presidente dos Estados Unidos. Faz hoje, precisamente hoje, 56 anos.

Sim, eu sei que, desde há muito, todos os presidentes dos EUA tomam posse nesta data, excepto quando a mesma cai num Domingo. Mas, a quase cinco décadas de distância, Kennedy não alimentou menos sonhos e esperanças do que Obama – quando ainda não existia internet, nem redes sociais, e a televisão tinha muito menos encanto. 
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Mais Salgado



«À Operação Marquês juntou-se a falência do Universo Espírito Santo e o Monte Branco: Salgado é arguido nos três processos. A Judiciária devia escrever SALGADO com os dossiês dos processos como fazem com tijolos de haxixe. Com mais esta acusação, Ricardo Salgado já tem currículo para ser presidente do Parlamento Europeu. (…)

Esperava-se castigo severo mas, afinal, Salgado regressava a casa proibido de se ausentar do país. O MP, segundo as fontes, queria medidas de coacção mais pesadas mas, provavelmente, o charme do Doutor Ricardo Salgado foi demais para uma alma simples como a do Carlos Alexandre. Uma coisa é o Pinto de Sousa, que ele topa que veio das berças como ele, outra o Doutor Salgado, que sabe usar vinte e quatro talheres desde que nasceu. Mais duas horas de conversa, e um prego do Gambrinus, e o Doutor Salgado ainda conseguia convencer o juiz Carlos Alexandre a comprar o Novo Banco.

De resto, o "castigo" que Salgado levou foi não poder falar com Sócrates. Mais de dois anos depois do caso ter começado, Salgado não pode falar com Sócrates. Agora é tarde. A única coisa que evita são os telefonemas de Sócrates a gozar com o Sporting.

O ex-DDT está também proibido de falar com pessoas do "Universo Espírito Santo". Ou seja, Salgado pode levar um vida normal se ficar afónico. Esta medida é mais pesada, mas seria muito pior se tivesse sido aplicada há um mês. Imagina, o estimado leitor, como seria a ceia de Natal do Doutor Salgado sem poder falar com pessoas do Universo Espírito Santo? Bem sei que, provavelmente, metade da família não lhe quer falar, mas ia ser complicado não poder falar com ninguém. Já estou a ver o Doutor Salgado a imitar um peru para lhe passarem a travessa.

Sobrinha do Dr. Salgado - "O Tio Ricardo esta a ter um AVC, mãe?"
Irmã do Dr. Salgado - "Não, querida, está a pedir para lhe passarem a travessa das carnes frias."

19.1.17

Hoje é o dia


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Refugiados – uma homenagem




«Situé au large de la petite île de Lanzarote, sur l'archipel des Canaries, le premier musée sous-marin d'Europe vient d'ouvrir ses portes. Il présente trois cents sculptures qui sont l'oeuvre d'un seul homme, l'artiste britannique Jason deCaires Taylor. L'un des objectifs de son travail : sensibiliser les consciences à l'immigration clandestine et aux naufrages en Méditerranée.»
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Os três estrogeniozinnhos e a testosterona má



Ricardo Araújo Pereira na Visão de hoje:


Na íntegra AQUI.
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Francisco Assis



Que hoje é o último dia de uma série de realidades, está o mundo inteiro a dizê-lo. Gostava era de ter a certeza de que é também o último erro de Francisco Assis quanto a previsões do futuro do PS, a curto / médio prazo, e a desejos de muitos dos seus dirigentes. Mas não tenho.

O último dia do mundo conhecido



«É dia de lamentar o abuso de frases que nos irão fazer falta no dia exato delas: amanhã, e não os outros dias em que invocámos a frase batida, é que é o primeiro dia do resto das nossas vidas. Qual dia em que Armstrong pisou a Lua! Lembremo-nos é do que fazíamos a 20 de janeiro de 2017, do dia que os vindouros nos irão pedir memórias ou até contas. O dia em que a América deixou de ser a nossa aliada e, até (se quem exercer o poder que lhe foi dado a partir de amanhã, o puder fazer à sua maneira), deixou de ser um país decente. 

Há dias, no jornal Guardian, alguém fez o título certo: "Deixem de tomar Donald Trump como um presidente normal. Ele não é." E ele não é. Ele não é. E ninguém faz aqui análises políticas, mas só toma a atitude que se exige perante os infrequentáveis. Em circunstâncias normais, o personagem a ser lembrado hoje, aquele que vai deixar de ser o líder da única potência mundial, deveria ser hoje invocado. Mas Obama passou a rodapé da história. Não por ele, aconteceria o mesmo se fosse qualquer outro presidente americano de que temos memória: quem precede Donald Trump é o mero ramal, mesmo que tenha sido apesar dele, que nos levou à América de Trump. E esta é de tal maneira insuportável e previsivelmente perigosa que à data da tomada de posse deve dizer-se, hoje, que será indigno vir a dizer "não sabíamos". Valha-nos isso, a criatura não esconde quem é. Tomemos nota: agora é a América de Trump, outra coisa.»

Ferreira Fernandes

18.1.17

Ary dos Santos




José Carlos Ary dos Santos morreu há 33 anos.

Inesquecível ficou a vitória da «Tourada» no Festival da Canção de 1973. Juntaram-se grupos de amigos para assistir à final, com muito pouca esperança… Mas a canção venceu e as pequenas fintas vitoriosas valiam muito nessa época de triste memória.

Por uma familiar de JCAS, soube hoje que toda a equipa temeu, até ao último minuto, ser detida pela PIDE antes de o festival terminar. 
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Novo Presidente do Parlamento Europeu? Estamos conversados




«Marisa Matias diz não ter qualquer expetativa em relação ao italiano recentemente eleito. “É um presidente que não só esteve envolvido muito recentemente no escândalo das emissões da Volkswagen e, por alguma razão, saiu da Comissão Europeia e se refugiou no Parlamento Europeu, como também foi um dos braços direitos de Berlusconi”.»
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Boicote ao Público



Não é meu hábito apelar a boicotes. Mas já fiz a minha parte, neste caso, e subscrevo o apelo que o Mário de Carvalho faz no Facebook:

«Possuo cerca de 5000 amigos no FB. Não conheço a maioria, mas, para terem aqui apostado, benevolentemente, é porque são gente de bem. Eu venho então, assim confiado, solicitar-lhes uma coisa que uma já longa convivência consente: POR FAVOR, DEIXEM DE COMPRAR O PÚBLICO. O jornal foi abastardado, transformou-se numa tarjeta panfletária de interesses muito localizados, muito desmascarados, muito à mostra. Todo um fingimento descaradamente foleiro. Não há, a nenhum respeito, a menor confiança naquilo. Um cartaz ou uma pichagem («Vivam os nossos amados patrõezinhos, mai-las suas opiniões!») resolvia-lhes o servilismo, escusavam de tanto aparato de letras e bonecos. Menos 5000 leitores, eu sei, significa pouco. Basta que o engenheiro beneficiário suba o preço de alguns iogurtes e estará compensado. Mas o sentimento de deixarmos de andar enrolados numa farsa, encenada por gentalha menor, também compensa não?» 
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A ameaça de Almaraz



«Há alguns anos um dos mais populares grupos de rock da Galiza, os Resentidos, intitulou um disco seu como: "Vigo, capital Lisboa." Era uma ponte de afectos para lá das fronteiras, entre duas regiões que não se confundiam com dois países que viveram muito tempo de costas voltadas. Portugal fez-se por oposição a Castela, nunca o poderemos esquecer. Salvou-se da integração porque num momento crítico a coroa espanhola preferiu ficar com a Catalunha, nessa altura aliada dos franceses, em vez de Portugal, aliada dos ingleses. Vivemos sempre o dilema dessa divisão que nunca cicatrizou entre os povos de Espanha. Até porque o ADN imperial de Madrid nunca desapareceu: liofilizou-se. A independência nacional teve de se fazer sempre perante Castela. (…)

Almaraz não é um acaso. É apenas mais um sintoma do habitual ego arrogante de Madrid face a tudo o que a cerca. Quantos exemplos precisamos de recordar nos últimos anos sobre essa forma de ignorar a transparência e criar situações de facto? O caso da posse das ilhas Selvagens foi exemplar. A vergonha do "Prestige", em 2002, foi outro: no meio do silêncio o Governo espanhol da altura tentou empurrar o navio para águas portuguesas e foi preciso a atitude séria e musculada de Paulo Portas para que não ficássemos com o problema nas mãos. Madrid nunca aprende. Não é uma teoria da conspiração: é um facto. No caso de Almaraz, o Governo de Mariano Rajoy fez o que é habitual: tomou uma decisão e depois abriu a porta a conversas sem sentido. O Governo português esteve distraído demasiado tempo. E agora só resta que a UE decida algo, se decidir. Mas até lá Almaraz continuará a ser um Darth Vader.»

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17.1.17

É o estado da arte


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Dica (480)




«Os populistas poderão ter sucesso simplesmente desfazendo os erros do sistema atual. Eles não terão sucesso a longo prazo. Mas podem ter sucesso antes de falharem. A mudança de sistema político e económico que estamos a atravessar constitui o ataque mais sério aos nossos valores de que tenho memória. Seria tolo negar que poderia ser possível, do ponto de vista do eleitor médio, que os odiosos populistas endireitem a economia quando a elite liberal não o conseguiu.» 
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Mas será Presidente


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Jornais: regresso ao passado



Regressei ao meu jornal da manhã de há quase três décadas. Sinto é a falta do que saía à tarde, o Diário de Lisboa, que comprava aos ardinas quando parava nos semáforos ao fim do dia.
O Público «já foi»...
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Uma em cada dez pessoas sobrevive com dois dólares por dia



«Atualmente, oito homens detêm a mesma riqueza que a metade mais Pobre do mundo.»

As maiores empresas do planeta têm mais receitas do que 180 países todos juntos.

«O homem mais rico do Vietname ganha mais num dia do que o mais pobre em dez anos.»

«Um patrão de uma das maiores companhias de informação da Índia recebe 486 vezes mais do que um seu empregado normal.»

«Um director executivo de qualquer empresa do índice FTSE-100 ganha o mesmo num ano que 10.000 pessoas que trabalham em fábricas de vestuário em Bangladesh.»

Dados retirados de um estudo da Oxfam (em português) – Uma economia para os 99%.

Fonte: Expresso curto de 17.01.2017.
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16.1.17

Dois 16 de Janeiro



Capas do New Yorker, Jan. de 1995 e Jan 2017 (com M. Luther King)

(Daqui)

Adeus, «Público» – para mim, acabou hoje



Alexandra Lucas Coelho, esta tarde, no Facebook:
«O recém-empossado director do “Público”, David Dinis, propôs reduzir a minha crónica semanal a mensal e cortar para metade a remuneração de cada crónica. Recusei por considerar que essa proposta esvazia o diálogo com o leitor e reduz a remuneração a algo indigno. Nenhuma outra proposta foi feita. Cumprirei, pois, o contrato que tenho até 31 de Março, e a partir daí encerra-se a minha relação de 19 anos com este jornal. Registo que isto acontece na sequência de David Dinis ter dispensado José Vítor Malheiros e Paulo Moura, nomes fundamentais na história do “Público”, e do jornalismo português. Registo ainda o facto de os três estarmos claramente à esquerda do que é o posicionamento do recém-empossado director.»

Paulo Moura, esta tarde, no Facebook:
A minha colaboração com o Público termina este mês, por iniciativa da actual direcção, de David Dinis. Estou no jornal desde a sua fundação. Saí dos quadros da empresa em 2013, por minha decisão, mas mantive um acordo de colaboração regular. Chega agora ao fim uma intensa e fecunda relação de 27 anos, no mesmo momento em que são dispensados do jornal nomes tão fundamentais da imprensa portuguesa como Alexandra Lucas Coelho e José Vítor Malheiros. Continuarei a fazer reportagem, a escrever e a publicar onde quer que o Jornalismo seja valorizado.

José Vítor Malheiros 
A última crónica 


Quem se seguirá? José Pacheco Pereira???
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Terrível!



«Fui 5 anos escrava em Portugal»

O texto é longo, mas de leitura obrigatória.
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Maria Cabral



Conheci-a bem miúda, nos bancos da escola, quando ela era ainda a «Bebé» Cabral, e nem sei se sonhava já com cinema. A irmã era minha colega de turma e fui muitas vezes estudar com ela para casa da família Cabral, mesmo em frente do que é hoje a escola pública chique de Lisboa: o Filipa de Lencastre. E a Bebé circulava sempre por perto.

Nunca a perdi de vista, nesta Lisboa que era para alguns – só para alguns – pouco mais do que uma vila, e passei a encontrá-la regularmente pelos corredores da Faculdade de Letras, onde eu dava aulas, ainda antes do sucesso estrondoso de O Cerco.

Já era então casada com Vasco Pulido Valente, que ainda fazia as últimas cadeiras do curso de Filosofia. Não chegou a ser meu aluno, mas conhecia-o de O Tempo e o Modo e de círculo de amigos comuns. Foi por essa altura que, pelo menos duas vezes, acordei com telefonemas da Maria que me pediu encarecidamente: «Joana, fala com o Vasco, diz-lhe que ele é o maior, convence-o a não faltar à oral!». E eu lá o fazia, ainda ensonada, mas creio que com sucesso. Nada disto tem importância a não ser, talvez, para quem o conhece apenas através das suas crónicas viperinas, que transpiram sentimento de superioridade, desprezo pela humanidade em geral, sempre com uma segurança à prova de bala. Pois… nem tudo o que parece é – ou foi sempre.

Importante é que a Maria já cá não está. Mas deixa-nos os filmes e as imagens do seu talento e da sua beleza inesquecível. 
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15.1.17

E também há as que não são carne nem peixe



«Parece que o mundo se divide entre pessoas boas e pessoas más. As boas dormem melhor, as más gozam muito mais durante as horas em que estão acordadas.»

Woody Allen 
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E ainda dizem que não há cultura em Portugal!




«O romance Vaticanum, de José Rodrigues dos Santos (…), foi o livro mais vendido em Portugal no ano passado. Editado em Outubro, Vaticanum atingiu já uma tiragem de 93.000 exemplares.»

É extraordinário, mas é assim… 
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Caixadòclos



- Patriazinha iletrada, que sabes tu de mim?
- Que és o esticalarica que se vê.

- Público em geral, acaso o meu nome...
- Vai mas é vender banha da cobra!

- Lisboa, meu berço, tu que me conheces...
- Este é dos que fala sozinho na rua...

- Campdòrique, então, não dizes nada?
- Ai tão silvatávares que ele vem hoje!

- Rua do Jasmim, anda, diz que sim!
- É o do terceiro, nunca tem dinheiro...

- Ó Gaspar Simões, conte-lhes Você...
- Dos dois ou três nomes que o surrealismo...

- Ah, agora sim, fazem-me justiça!

- Olha o caixadóclos todo satisfeito
a ler as notícias...

Alexandre O'Neill, Feira Cabisbaixa, 1965
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Dica (479)




«The mandate of the United Nations is to preserve peace in the world, but when it comes to the Syrian crisis, the global body has failed badly. Will the UN's new secretary-general be able to finally introduce necessary reforms?» 
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O novo autoritarismo global



«Já poucos têm dúvidas de que o propalado "fim da história" que Francis Fukuyama anunciou aos crentes desapareceu num buraco negro. O mundo global, gerido como uma economia de mercado e ligado por sistemas democráticos, é um mito.

A crise económica que se iniciou em 2008 está a deixar demasiados feridos no seu caminho e os danos colaterais são demasiados para que um novo paradigma não esteja a surgir. Isso é evidente no surgimento de regimes musculados, onde se juntam as "delícias" do capitalismo com o poder de um Estado forte, mas também no interior da própria União Europeia onde esses ideais vingam perante o beneplácito de Bruxelas. Basta olhar para alguns países do Leste Europeu para se ver onde está a democracia. Mas os sinais são mais alarmantes noutras latitudes. Por um lado, basta ver o estilo autoritário de Donald Trump. Por outro lado, podemos olhar para o Brasil para vermos como está a nascer um novo ovo da serpente. (…)

Tudo isto não é obra do acaso. É o poder da decisão (…) que volta a ser determinante. Por isso Donald Trump é tão fulcral para se perceber este novo tempo. Ele tornou-se o líder dos EUA porque conseguiu que os americanos acreditassem que ele era o tipo de chefe que eles precisam para "fazer" as coisas. Trump não quer seguir as regras: quer destruí-las e fazer tudo à sua maneira, algo que tem muito que ver com a ideologia neoliberal que se tornou hegemónica no mundo nas últimas décadas. Por isso, o Estado, sendo o grande satã destas pessoas, tem de ser ocupado por dentro: para que esta aliança entre o poder político, económico e cultural (as redes sociais e as tecnologias portáteis estão a servir para nivelar o conhecimento pela mediocridade e superficialidade) se conclua. É a nova era do capitalismo. Por isso, Trump é tão importante para Vladimir Putin. Sem perceber o essencial está a fazer aquilo que um novo poder deseja.»