13.5.17

Gentes deste mundo (9)



Há que colher bem o chá nas belas plantações de Nuwara Eliya (Sri Lanka), 2011.
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E quando se julga ter visto tudo



… há Ronaldo a fazer publicidade do Ramadão (com vídeo) .  
Money, Money, Money…
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O circo mediático em Fátima



Este texto de Paulo Mendes Pinto, no Público de hoje, fica aqui na íntegra.

«São difíceis os tempos que vivemos hoje em dia na incapacidade de distinguir as naturezas das coisas. Facilmente informação se transforma em espectáculo, não apenas por ser diversão, mas por trazer a mais ridícula e degradante subversão da ideia de conhecimento para dentro da função de informação que certos canais deveriam, em meu entender, ter.

Por estes dias estou com a SIC em Fátima. Fui convidado para fazer parte de um painel de “comentadores” entre os quais se encontram sacerdotes, Frei Fernando Ventura, o Pe José Luís Borga e o Pe. José Maria Brito, a teóloga Teresa Toldy, e o jornalista António Marujo. Isto é, estou enquadrado por um grupo de gente que conhece o fenómeno religioso e o questiona, seja pelo lado da crença, ou não.

O santuário instalou uma grande estrutura, um plateau, onde quatro canais televisivos instalaram os seus estúdios com o próprio santuário como fundo. É desse local, com uma vista impressionante, que somos entrevistados, que damos a nossa opinião, que questionamos e reflectimos, tentando dar algo de significativo ao telespectador.

Mas o circo mediático, na sua azáfama e procura do mais especial para transmitir, subverte a natureza do próprio evento. Esse plateau, instalado no extremo oposto ao altar onde tudo se vai passar, passou a ser uma segunda fonte de atracção, rivalizando, para muitas centenas de supostos peregrinos, com a imagem da Virgem Maria.

Ao nosso lado, noutros dos estúdios vizinhos, figuras mediáticas, em nada detentoras de interesse algum em termos religiosos ou de conhecimento, funcionam como imanes e a multidão aproxima-se, assenta arraiais para ver, de costa um Goucha um Marco Paulo ou uma Fátima Lopes.

Grita-se pelo Manuel Goucha e mandam-se beijinhos. Ele vira-se para trás e corresponde simpaticamente. Marco Paulo chega a cantar com o público, já muito longe de serem peregrinos. Fátima Lopes é ovacionada quando entre no plateau – grita-se “tu és linda!”

Sem palavras, assisto a este circo. Muito se poderia dizer da fraca cultura da nossa população. Muito se poderia dizer sobre este povo que vai a Fátima mas vira costas ao santuário quando vislumbra uma estrela televisiva.

Mas muito mais se poderia dizer sobre as estações que decidiram seguir este modelo. Muito mais se poderia dizer sobre estas máquinas de fazer audiências que conteúdo nenhum apresentam para melhorar o nosso mundo, a não ser, possivelmente, chorudas contas bancárias.

Não falo como crente, porque o não sou, mas falo como indignado em relação ao aproveitamento mediático em que os crentes são apanhados, usando-se das fragilidades sociais e culturais como ferramenta para inebriar e afastar os peregrinos daquilo que era o seu foco: a peregrinação, a crença em Senhora de Fátima.

É difícil fazer concorrência a isto; é difícil fazer concorrência a este estado de coisas. Contudo, fico contente por estar no estúdio ao lado, da SIC. Custa-me muito ver isto. A náusea é grande.»

(Quem é Paulo Mendes Pinto?)
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O papa falou e…?



Para os que esperavam que Francisco enviasse uma mensagem aberta ao mundo, ela não existiu – de todo. (Estranhamente, até eu o digo…) O texto: do que disse pode ser lido aqui.

Por curiosidade, fui à procura do discurso equvialente de Paulo VI, há 50 anos. Alguma comparação?
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Fátima, contextos e história(s) (I)



«No debate sobre a natureza e o significado da "mensagem de Fátima" há quem tenha convicções (ia dizer "fé") muito claras. Para muitos outros católicos, contudo, Fátima está muito para lá da literalidade dos seus três "segredos". É provável. O que não se pode, contudo, é pretender que os documentos sobre os quais se sustenta a "mensagem" não têm valor intrinsecamente histórico e material e, por isso, não devam ser sujeitos à análise contextual. Sobretudo porque desde a narrativa dos pastorinhos em 1917, centrada na oração para conseguir o fim da guerra, até à cristalização dos três "segredos de Fátima", em 1941 e 1944, não só mediaram 24 anos como se desenvolveu um processo de apropriação eclesiástica e de reciclagem narrativa que permitiu transformar Fátima, "a mais profética das aparições modernas" segundo o cardeal Tarcisio Bertone, numa arma política de que a Igreja nunca prescindiu até, pelo menos, o fim do papado de João Paulo II.

Em maio de 1917, Portugal estava em guerra havia um ano. Desde 1914 enviara já milhares de soldados para África. Num contexto em que a pobreza extrema deixava uma grande parte dos portugueses no limiar da sobrevivência, o envio de soldados para África e a Flandres, o racionamento, agravaram a angústia social. Quando, na Cova da Iria, Lúcia de Jesus dos Santos, dez anos, juntamente com dois primos seus, diz ter visto a Virgem, não faz mais do que reproduzir o que passara a caracterizar a religiosidade católica das décadas anteriores, cheia de aparições marianas, mais frequentes desde, precisamente, 1916 (ver estudos de David Luna de Carvalho). Quatro anos depois, Lúcia, com 14 anos, é internada num colégio. Entre 1925 e 1946 vive clausurada em conventos de Pontevedra e de Tui, na Galiza, onde, entre muros, passa a Guerra de Espanha (1936-39). Os seus primos Jacinta e Francisco haviam morrido três anos antes. Ela é a única sobrevivente das "aparições". É aí que, “em ato de obediência" a "sua Ex.cia Rev.ma o Senhor Bispo de Leiria e a Vossa e minha Santíssima Mãe”, Lúcia descreve em 1941 "o segredo" de Fátima, que "consta de três coisas distintas, duas das quais vou revelar."

No relato que faz das "aparições", a Virgem teria feito com que os três primos começassem por "[ver] o inferno", afinal o primeiro "segredo", na sequência do qual a Virgem lhes teria dito que, "se fizerem o que eu disser, salvar-se-ão muitas almas e terão paz (...) mas, se não deixarem de ofender a Deus, no reinado de Pio XI começará outra pior." Vejamos: a II Guerra Mundial começara dois anos antes, e Lúcia presume, portanto, que a Virgem dela a teria avisado em 1917. (…)

O "2º segredo" seria, nas palavras da Virgem, o do surgimento de um "grande sinal que Deus vos dá de que vai punir o mundo de seus crimes, por meio da guerra, da fome e de perseguições à Igreja e ao Santo Padre. Para a impedir, virei pedir a consagração da Rússia a meu Imaculado Coração . (…)

Referências à Rússia e ao comunismo haviam sido introduzidas já a partir de 1935 nas Memórias da Irmã Lúcia. A Guerra de Espanha havia consagrado uma associação permanente entre Fátima e anticomunismo, mas a novidade na redação do "2º segredo" é o facto de o Bispo de Leiria lha ter pedido a 26 de julho de 1941, rigorosamente ao fim de um mês da invasão nazi da União Soviética.

Da mesma forma, o "3.º segredo" parece produto claro da perceção do mundo que Lúcia tem em 1944, no momento em que o descreveu.»

12.5.17

Gentes deste mundo (8)



Monges budistas em Luang Prabang (Laos), 2009.

Centenas de monges saem ao nascer do dia e andam pelas ruas da cidade a recolher oferendas, em espécie ou dinheiro. Em cada família, há todos os dias uma pessoa que reúne o que pode e entrega aos monges, na convicção de que aquilo que é dado alimentará (também) os seus próprios antepassados.
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Salazar/ Fátima 1967



Tem-se escrito tanto disparate sobre a atitude de Salazar em 1967, quando Paulo VI acabou por vir a Fátima, que deixo este apontamento (Franco Nogueira, Salazar, O Último Combate (1964-1970), p. 275).

Quem tiver este livro em casa pode evitar o cansaço incompetente das televisões e perceber o que se passou há 50 anos. 
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As guerras de Fátima à volta da paz


@João Carlos Santos

Excertos de um texto de António Marujo o Expresso diário de 12.05.2017:


NB - Não foi a «única» vez que fui a Fátima, mas sim a «última»...
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Fátima – hoje e há 50 anos



É estranho ou talvez não. Não liguei nenhuma às visitas de João Paulo II e de Bento XVI, mas a de hoje mexe comigo e não necessariamente para grandes entusiasmos. Hoje festeja-se um centenário e, exactamente há 50 anos, estive em Fátima para concretizar uma acção mais ou menos clandestina contra o salazarismo, junto de um papa – Paulo VI – que não alimentava menos esperanças de progressismo para o mundo do que Francisco, ainda na senda do Vaticano II (pouco depois, vieram as grandes desilusões, é verdade).

Não desejo tirar emoção nem esperanças a ninguém, apesar do entusiasmo alimentado pela parafernália de marketing salvífico e anestesiante dos nossos meios de comunicação, mas enfim… Para se entender de que falo, remeto para um texto que em tempos publiquei. 
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Deve ser isto um estado laico



Acabo de passar por uma escola 100% católica em aparente pleno funcionamento e, a meia dúzia de metros, por uma outra, pública, fechadíssima a cadeado. 
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A Cristas foi a Tóquio e teve inveja


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O futuro do trabalho. Haverá?



«O trabalho e o emprego tal como o viram gerações passadas desapareceu. Fruto da tecnologia, da globalização, das chamadas "reformas" e de conceitos ideológicos que criaram esta lógica de pretensa liberdade de escolha de cada indivíduo.

Tudo isto tem contribuído para o fim anunciado do Estado social e dos sistemas de pensões como os conhecemos desde o pós-guerra. Não há sociedades imutáveis. E deixou de haver empregos para toda a vida. As altas taxas de desemprego vão continuar ligadas a um nivelamento por baixo de rendimentos. Tudo isso também coloca em causa a sociedade de consumo como a conhecemos. Por isso resulta quase patético ver como políticos com responsabilidades vão continuando a não enfrentar este problema com seriedade. (…)

Será possível criar empregos em actividades paralelas que correspondam aos que se vão perder com a robotização de muitas profissões na área industrial e de serviços? E como se garantirá rendimentos decentes para quem não vai conseguir ter trabalho? (…)

Toda a lógica de empregos de que Donald Trump fala parece ser uma redundância. Estamos a viver tempos muito estranhos e no campo do trabalho eles parecem ainda menos transparentes. Seja como for todos temos a certeza que o valor do trabalho dissolveu-se e que hoje, sobretudo nas zonas periféricas (como Portugal), as "reformas" conduziram o contrato social que assentava numa relação estável entre empregadores e empregados a um beco com poucas saídas. E onde o Estado está carenciado de respostas e de meios para fazer face a estes novos desafios. Que merecem ser discutidos com seriedade.»

Fernando Sobral

Mamadou Ba – uma importante entrevista




«Para o dirigente do SOS Racismo, o racismo que existe no nosso país é fruto do “imaginário colonial” que subsiste nos dias de hoje, uma vez que Portugal ainda não foi capaz de fazer a sua “catarse histórica”. Neste sentido, critica o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, por ainda “não ter descolonizado a sua mente”.
Considera que, neste aspeto, “falta fazer tudo”, uma vez que discutir racismo em Portugal é um “absoluto tabu” e que os portugueses têm dificuldade em reconhecer o seu passado, procurando “à força toda, manter os cadáveres putrefactos no armário”.»

A ler na íntegra! 
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11.5.17

Gentes deste mundo (7)



Mesmo usando instrumentos rudimentares, há que manter limpo o Parque da Paz de Nagasaki (Japão), 2006.
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Fátima, Futebol, Festival



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11.05.1975 – Quando todos queriam construir o socialismo



No dia 11 de Maio de 1975, teve lugar na RTP um debate (coordenado por Ramiro Correia, membro do Conselho da Revolução), no qual participaram representantes dos partidos que faziam parte do Governo Provisório: Magalhães Mota (PPD), Mário Soares (PS), Pereira de Moura (MDP/CDE) e Álvaro Cunhal (PCP).

Notícia detalhada a ser lida aqui e aqui, fica o resumo:

Greves e tolerâncias



Amanhã, estarei atenta para ver se as estações de TV percorrem hospitais para que os utentes se queixem dos inconvenientes que a tolerância de ponto lhes traz, como o têm feito, desde ontem, a propósito da greve dos médicos.
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Talent de rien faire?



«O infante dom Henrique tinha por lema "talent de bien faire".
As embaixadas e consulados portugueses no estrangeiro vão estar encerradas, por "tolerância de ponto", no dia em que o papa vai a Fátima? O pessoal vai a Fátima, é? Estão a gozar connosco, lá nas Necessidades?
"Talent de rien faire?" Depois queixem-se sobre a imagem que as representações portuguesas no estrangeiro projetam...»

Francisco Seixas da Costa, embaixador, no Facebook. 
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Trump, a Rússia e o despedimento no FBI


@João Camargo

«Na terça-feira, o Presidente Trump despediu o director do FBI, James Comey, numa altura em que este liderava a investigação para apurar as ligações de membros da nova administração à Rússia.

A ironia da história é que Comey, ao trazer para a praça pública os e-mails privados de Hillary Clinton a poucas semanas do fim da campanha para as eleições presidenciais, poderá ter tido um papel activo para esta as perder. Segunda ironia: Trump argumenta que Comey tratou "levemente" a questão dos e-mails de Clinton e isso foi uma boa razão para o despedir. Comey soube da sua dispensa pela televisão. (…) No New York Times, David Leonhardt escreve: "O Presidente dos EUA está outra vez a mentir. O Presidente está a mentir sobre a razão por que despediu um responsável da justiça e está quase de certeza a mentir para se proteger a si próprio e aos seus adjuntos de uma completa investigação às suas actividades." (…)

Na CNN, Chris Cillizza argumenta: "James Comey soube que tinha sido despedido da mesma forma que nós: ao ver na televisão. O que Trump está aqui a fazer não é apenas imprevisível. É potencialmente perigoso. Remover a pessoa que está a liderar uma investigação sobre um país estrangeiro que tentou influenciar uma eleição americana, atacando um candidato (Clinton) e ajudando outro (Trump), manda uma mensagem clara para cima e para baixo da burocracia federal, para já não falar das pessoas comuns."»

10.5.17

Gentes deste mundo (6)



A fazer pela vida, perto da Barragem das Três Gargantas, Rio Yangtze (China), 2004.
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Festival? Salvador? Tudo explicado



Passos Coelho até poderá dizer: «Fui eu que tive a ideia!»
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13 de Maio – tudo bem planeado



Os portugueses primeiro despedem-se do papa, vêem depois a final do Festival da Canção e acabam a noite a festejar o Benfica no Marquês de Pombal. Está tudo bem planeado, num país irritantemente optimista». 
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Cuidado com os rapazes



Ricardo Araújo Pereira na Visão de… amanhã:



Na íntegra AQUI.
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A bóia de salvação (mas é mesmo a última)



«De “sufoco em sufoco” sempre que há eleições. (…) Não é preciso mais ninguém, bastam os euro-entusiastas para um discurso catastrofista sobre o futuro imediato da UE. São eles quem garante que vem aí o “colapso”. Ninguém poderia ser mais carregado e mais temeroso, ou arriscar um prognóstico mais sombrio. Quem faz a festa, deita os foguetes e apanha as canas sobre a “última oportunidade”, o “sufoco” e o “tempo que está a acabar” são os euro-institucionalistas. São eles que nos dizem todos os dias que isto se resolve em dias e que a coisa está feia.

A eleição de Macron é então um alívio? Se é, passou depressa. Porque os números são esclarecedores: quase metade dos seus eleitores, 43%, só votaram nele para barrar Le Pen, e os que acreditam em Macron ou no seu programa são menos de um quarto dos seus próprios eleitores. Nunca houve tanta abstenção e tantos votos brancos e nulos. E Le Pen conseguiu 34%, ou a “desdemonização” ambicionada. Numa palavra, a França está pior depois desta eleição, em que se desagregaram os partidos tradicionais e não sabemos o que vem depois. (…)

Não pode nem vai correr bem. E é tempo de nos perguntarmos então por que é que cresceu tal risco. A explicação está toda na teoria da bóia de salvação, apresentada in extremis pelos mesmos ideólogos que nos anunciavam a catástrofe em poucos dias ou o mais tardar no Outono. Eles maravilham-se com a vitória de Macron, o homem que manteve o garbo da sua posição, ele que vai liberalizar despedimentos e cortar 50 mil milhões nas despesas do Estado, por ser o cavaleiro da Europa e da globalização contra o nacionalismo. (…)

Note-se que esta teoria declara uma vítima: se a globalização, ou seja, o domínio da finança, se impõe nesta dicotomia fácil contra o nacionalismo (e como Le Pen é cómoda para este propósito), então a democracia não tem lugar. Não existe democracia na globalização, por que não há nela nem soberania nem capacidade de decisão pelas comunidades que conhecemos, que são nacionais. Por isso, a Europa de Macron abdica de si mesma e é por isso que os analistas mais argutos nos dizem que o seu sucesso depende de Merkel. Mas Merkel não muda nem mudará e Schultz também garante que não quer mudar nada. O euro continuará a tramar a Europa, como lembra Stiglitz. A “bóia de salvação” não salva nada.

Estava tudo encaminhado para isto. (…) A única globalização que era aceite era a destruição da Europa que apreciamos, aquela onde teve lugar a defesa dos direitos humanos ou a luta pelos direitos sociais. Pergunte-se agora, caro leitor ou leitora, o que quer dizer a aceitação da Europa “a várias velocidades”? É mesmo esta a “última oportunidade”? Estamos reduzidos a esta teoria: a globalização é a lei e Macron o seu profeta? O novo normal é esta choldra e então estamos por dias, dizem-nos os que acreditam na virtude iluminante do dilema globalização-passadismo.»

9.5.17

Gentes deste mundo (5)



Nos confins dos Himalaias Orientais. Darjeeling (Índia), 2010.
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Dica (544)




«Dimanche 7 mai, Emmanuel Macron a été élu président de la République avec près de 66 % des suffrages. Cette victoire, en apparence large, est trompeuse. Le programme ultralibéral d’Emmanuel Macron ne dispose, en réalité, pas du soutien populaire. Si nous ne le combattons pas, celui qui est déjà perçu comme le président des banques et des multinationales renforcera la crise sociale et écologique et donnera du grain à moudre à l’extrême-droite.» 
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Da série «Grandes títulos»



E, finalmente, uma boa notícia: há petróleo no Parlamento.

(Público, 09.05.2017)
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A laicidade pula e avança



Programação do principal canal de uma TV pública, numa República laica perto de si (RTP1, 08.05.2017) 
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A esquerda francesa no rescaldo das presidenciais



Excerto do texto de Daniel Oliveira no Expresso diário de 08.05.2017.
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«Le gôut du bonheur reste contagieux»


 
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8.5.17

Gentes deste mundo (4)



Oração numa das onze igrejas escavadas na rocha no século XII. Lalibela (Etiópia), 2013.
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Dica (543)




«Nunca una derrota fue tan necesaria ni una victoria tan amarga. Ojalá este dolor sirva para que Francia sepa reinventar su revolución francesa, su Comuna de París, su resistencia y, como ocurrió con La 9 y la División de LeClerc, entremos juntos a liberar nuestros países de los enemigos de ayer ahora que ya sabemos que obedecen órdenes de los mismos amos.»
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Fado, futebol, Fátima



«No mundo em que vivemos, são os acontecimentos menos bons que por norma despertam o interesse da imprensa internacional. Isto significa que um correspondente freelancer vive constantemente em contraciclo com o resto do mundo à sua volta. Durante a crise, em convívios com os meus amigos portugueses conversei muito sobre os efeitos da política de austeridade que todos nós sentíamos na pele. Mas quando eles perguntavam: e tu, como estás a safar-te? Eu respondia com um grande sorriso: a crise é a melhor coisa que me podia ter acontecido, nunca tive tanto trabalho como agora. (…)

Hoje as coisas voltaram quase à normalidade, e a normalidade significa que Portugal deixa de ser notícia nos jornais, rádios e televisões estrangeiras. Uma colega nossa do The Wall Street Journal, que foi enviada como correspondente a Portugal no auge da crise em 2011, acabou de fechar o seu escritório em Lisboa e de se mudar para Frankfurt. Se o The Wall Street Journal já não acha necessário seguir a situação financeira portuguesa por perto, parece mesmo que a crise está perto do fim e que Portugal voltará a ser como antes: um país pacífico e um pouco esquecido no extremo ocidental do continente europeu.

Se a crise já não é tema, então a pergunta é: o que é que em Portugal desperta o interesse nos editores estrangeiros? A resposta faz lembrar um velho lema do Estado Novo: fado, futebol e Fátima. A visita do Papa Francisco no próximo fim de semana vai pôr Portugal no centro das atenções do mundo (católico); Ronaldo e a seleção portuguesa conseguiram, ao ganhar o último Europeu contra a França, um feito até agora único na história do futebol português, elevando a seleção ao novo patamar dos campeões; e uma nova geração de músicos está a transformar o fado numa música aberta ao mundo. Os nomes mudaram, o conteúdo é o mesmo.

Para ser justo, não vivi nos anos 1960 em Portugal, por isso não posso comparar os três "F" de ontem com os três "F" de hoje. O que me contaram é que o país do passado já não tem nada que ver com o país do presente. Acredito que sim. No entanto, parece não ser apenas uma coincidência que a atual imagem de Portugal volte a ser associada ao fado, ao futebol e a Fátima. Uma razão pode ser a falta de imaginação e de conhecimento dos editores e dos jornalistas estrangeiros. A outra explicação poderá ser que, numa visão simplicista sobre Portugal, o que realmente diferencia as terras lusas de outros países é Amália ou Ana Moura, Eusébio ou Ronaldo, e sempre os três pastorinhos.»

Jornalista alemão, a trabalhar em Portugal para Deutschlandfunk 
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Legislativas em França


Louvo o voluntarismo de muitos, que vejo por aí, e que dizem que agora é que pode ser, que nos batamos para que a esquerda ganhe as próximas eleições legislativas em França, já no próximo mês. Voluntarismo não é aminha praia e, se não me ajoelho perante sondagens, também não as desprezo, sobretudo quando acabam de acertar. Também sei que este tipo de eleições é complicado em França e que, para além da 1ª volta, há que contar com a(s) que se segue(m). Mas as previsões para a dita 1ª são as seguintes, de duas empresas (Harris e Kantar Sofres One Point), divulgadas nas últimas 24h:

Macron - 26% / 24%
FN - 22% / 21%
LRépublicans - 22% /22%
F Insoumise - 13% / 15%
PS - 8% / 9%
EELV (verdes) - 3% / ?
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08.05.1945: V-E Day




Foi há 72 anos.





Como é sabido, também se festejou em Portugal. Multidões saíram à rua com bandeiras dos Estados Unidos, da Grã-Bretanha e do Benfica. Estas últimas substituíam as da União Soviética – um dos vencedores da guerra na Europa –, obviamente proibidas... Em Almada, depois dos patrões ingleses de algumas fábricas de Cacilhas darem 1/2 dia feriado, também houve desfile com as bandeiras dos vencedores e um pau sem nada.
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7.5.17

Gentes deste mundo (3)



Mulheres uzbeques muçulmanas e os seus belos vestidos coloridos. Samarcanda (Uzbequistão), 2011.
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O esplendor de Portugal



«Não sei se já se aperceberam, mas confluem no próximo dia 13 de Maio a visita do Papa, a possibilidade de vitória do Benfica no campeonato e uma provável prestação memorável de Salvador Sobral no Eurofestival da Canção. Se isto não é Futebol, Fátima e Fado em pleno 2017, vou ali e já venho. Marcavam uma final do Mundial de Hóquei em Patins para a noite do próximo Sábado e o país ainda vinha abaixo.»

Rui Rocha no Facebook. 
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Nuno Brederode – a última crónica



No texto que publicou na Revista do Expresso de ontem (06.05.2017), José Pedro Castanheira confirmou o que eu pensava, embora sem certeza: a última crónica do Nuno no Diário de Notícias data de 10 de Maio de 2009. Ainda a encontrei nos meus registos e aqui fica (nos do DN, desapareceu…) 
Uma semana mais tarde, perguntei-lhe: «Escreveste? About???», mas o meu mail ficou sem resposta.

As convicções no baloiço 

Ao avançarmos na vertigem pré-eleitoral, acentuam-se as confusões de ideias e as habilidades verbais, os truques para os media verem, as tentações populistas, a manipulação da rua, os ataques pessoais e as excepcionalidades administrativas de curtíssimo prazo. Mantenho que nada disto seria importante se às crianças de hoje só viesse a chegar, como no futebol, o resultado histórico final. Mas como é muito duvidoso que o resultado final seja assim tão histórico, o mais certo é que, na pedra, só fique gravado o anedotário e aquela atitude impensada ou a palavrinha traiçoeira que, no calor de um debate ou no destempero de uma pose para a televisão, o actor político (ou económico ou social) deixa escapar para a eternidade possível. Como o - esse sim, histórico – voo sem rede de um deputado que se preocupava com relações sexuais sem intuitos de procriação e que Natália Correia estatelou a tiros tribunícios, com o famoso e poético “truca-truca”.

Os últimos dias trouxeram disto exemplos vários. Como, de resto, sempre trazem. Eu pego neste. Porque gosto.

Todos os partidos – numa unanimidade que um voto contra, uma abstenção e (creio que) três declarações de voto, por muito que honrem, não desmentem – votaram a nova versão da lei sobre o seu financiamento. Dos mais temperados pelo exercício do poder aos mais remetidos ao apostolado moralista por insuficiência de votos. Por boas e más razões, todos eles despertaram com isso hostilidades e dúvidas, não sei se generalizadas, mas, pelo menos, excessivas. Pela parte que me toca, mantenho as reservas que manifestei aquando da primeira versão: mesmo que não fosse a altura de acentuar a componente pública sobre a privada nesse financiamento, não se deveria ter aberto a porta a um retrocesso. E haverá retrocesso desde que, como é inteiramente previsível, for impossível uma fiscalização convincente e eficaz. Mas a minha posição é inteiramente irrelevante para o caso. Ao contrário do que parece ser um recuo do PSD. Dias depois da votação, ainda tão fresca – e após Paulo Rangel ter dado a cara pela decisão do parlamento e do seu partido – já Manuela Ferreira Leite recuava na colagem que fez às palavras de Cavaco e sugeria que o PSD pode mudar de posição (se vierem a surgir “efeitos perversos”, é claro). A gente sabe que toda a legislação é testada através da sua aplicação (que é o seu cotejo com o real). Mas sabe também que isso abre para a possibilidade de tal avaliação ser feita após as eleições que se perfilam, remetendo assim a apreciação final para depois delas. Por outro lado, sublinhá-lo em cima da decisão e aos primeiros embates com a hostilidade e a descrença só contribui para a insegurança do direito, o que não honra quem tanto diz preocupar-se com a ineficácia do nosso sistema de justiça. O “vamos a ver se a lei pega”, que os brasileiros reivindicam para si, é um dos maiores contributos para que a justiça não funcione. Mas a lógica eleiçoeira e populista de, em período eleitoral, tergiversar ao sopro das vozes inorgânicas é isso e mais qualquer coisa de pior. Além de que se baseia num preconceito infantilizador do eleitorado que ainda não deu grandes provas. (Declaração de interesses: cá por mim, ainda bem. Em coincidência, se não de alma, pelo menos de circunstância, com Rui Rio e Marques Mendes, mais uma listagem onomástica que não tenho aqui à mão).

O que vale é que o cidadão eleitor já sabe. Destas e de tantas outras tropelias da razão e da vontade. E julgo que já escolhe o que mais lhe apraz para a quadra festiva que aí vem. Pode sofrer e arrancar os cabelos agarrado à televisão. Pode ser displicente e aliviar a paixão e a atenção na leitura diária dos jornais. E pode preferir recolher a um “bunker” da consciência, ajustando o despertador para as 17 horas do dia sete de Junho. Aí, levanta-se, lava-se, sai de casa e vai votar. Como responsavelmente lho mandarem a convicção, a experiência, os interesses e a livre vontade. Porque é exactamente a essa hora que ninguém pode impedi-lo de ser o dono do mundo. Do mundo que mais lhe importa, pelo menos. 
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O desígnio de Marcelo



Sandra Monteiro , Le Monde Diplomatique (ed.portuguesa), Maio 2017:

«Entre os consensos que nem sequer precisam de dizer o seu nome estão alguns dos que mais devem captar a nossa atenção. De outro modo naturalizam-se, instalam-se nas mentes e nas instituições como algo a que todos demos o nosso acordo. O discurso do presidente Marcelo Rebelo de Sousa na Sessão Solene Comemorativa do 25 de Abril, que teve lugar na Assembleia da República, é disso um bom exemplo. Numa hábil construção, feita para que todos nela encontrem algo que lhes agrade, o presidente da República teria trocado, ouviu-se dizer, os tradicionais apelos aos consensos e as referências à União Europeia por razões para nos «orgulharmos» de Portugal. Num mundo atravessado por perigos que ameaçam as democracias, o país seria um exemplo de como três temporalidades se interligam para garantir paz, segurança e estabilidade: o passado, de uma história aberta ao mundo e de vocação universal; o presente, feito de diversidade política e de portugueses heróicos; e o futuro, projectado por um desígnio nacional que não seria presa fácil de ilusões.

O momento não podia ser mais propício a que um discurso desta natureza parecesse apropriado e, até, elogioso: os portugueses foram apresentados como heróis do passado, do presente e do futuro; as forças políticas e as instituições democráticas como suficientemente flexíveis, diversas e estáveis para se traduzirem uma democracia mais consolidada e menos sujeita a perigos do que as suas congéneres europeias. «Por isso temos resistido à nova vaga dita populista que percorre esse mundo fora», afirmou. Os monstros vivem lá fora, aqui podemos dormir descansados. Podemos mesmo?

O presidente agita a ameaça internacional dos «populismos anti-institucionais», sem dúvida reais nas direitas anti-democráticas e xenófobas, para construir uma narrativa que defende que o «bom povo» português é um herói porque se sacrifica, e que essa postura – e não a que vai atrás de «tropismos anti-sistémicos» –, é a que dá bons resultados para «as finanças, a economia e a sociedade». De uma penada, o presidente da República procura criar três falsos consensos. Vejamos quais.

(Continuar a ler AQUI o texto na íntegra, do qual retiro o último parágrafo)

Marcelo Rebelo de Sousa não precisa de fazer apelos a consensos, basta-lhe personificá-los e repeti-los até à exaustão, quase sempre sem ser criticado. Os «populismos» que pretende evitar parecem ser os que, no actual contexto, são associados às extremas-direitas. Contra este pólo do debate (re)constrói-se um centro político que é apresentado como «consensual», «sistémico». Em conjunto, estes dois pólos, hegemonizados pelo neoliberalismo, expulsam das escolhas consideradas legítimas o «anti-sistémico» que se opõe, no quadro nacional e internacional, ao projecto neoliberal. Por isso o presidente o qualifica como «incerto», «aventura» e «caos», alertando para os perigos de ser visto como «paraíso», «canto de sereia» e «amanhã ridente». Serão estas as novas roupagens do acantonamento sacrificial dos povos ao «não há alternativa» que ainda há pouco era declinado em termos de «indisciplina», «preguiça», «querer e gastar acima das possibilidades»? Depois do moralismo que consistiu em culpar supostas «acções» passadas, será agora a vez do paternalismo, traduzido na «desautorização prévia» de temidas acções futuras? Se sim, o desígnio de Marcelo é simples: construir um novo centro político em torno de um consenso sobre o sistema institucional da União Europeia que possa vir a ser activado, quando necessário, por um presidente que todos os dias trabalha para conquistar a maior popularidade possível.»
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Le Pen já ganhou?


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Expresso, 06.05.2017.
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