27.5.17

Transportes «fora da caixa» (6)



À espera que eu montasse (e montei) para me levar ao Ninho do Tigre. Paro, Butão (2010).
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Dica (554)

Tenha paciência, dr. António Barreto, é a vida…




(Revista do Expresso, 27.05.2017)
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Nem mais!


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Alojamento Local?



Já que tudo foi dito sobre a visita do papa, a vitória de Salvador e quando estão quase esgotados os palpites sobre a ida, ou não, de Centeno para o Eurogrupo, eis que aí está um novo tema que fará correr – e com razão – muita tinta: a legislação que o PS pretende aplicar ao Alojamento Local (AL).

O tema não é fácil e de uma coisa estou certa: aqui no meu prédio, que tem vinte condóminos, a resposta a um eventual pedido de um deles para usar o seu espaço para AL seria um rotundo «não». E creio não me enganar quando imagino que o mesmo aconteceria numa elevadíssima percentagem dos prédios onde vivem (ainda) pacatas famílias burguesas de Lisboa ou do Porto. Creio que Helena Roseta aborda bem a questão no Público de hoje, ao sublinhar que não é com medidas avulsas que se solucionam problemas complexos como este. Aqui ficam alguns excertos.

«O Alojamento Local (AL) é sem dúvida uma forma de promover o turismo e de permitir a pequenos proprietários um rendimento adicional. Mas a conjunção de factores que levou ao disparar desta modalidade de alojamento está a ter efeitos negativos em zonas históricas de várias cidades, contribuindo para a rarefacção e sobreaquecimento do mercado de alojamento permanente. Há freguesias em que os moradores estão a ser expulsos por mudança de proprietários, cessações de contratos, despejos e transformações de uso, com as novas rendas a atingirem valores inalcançáveis ou mesmo a deixarem de existir. Há quem já só consiga arrendar casas à semana. (…)

Não creio que um fenómeno como este, em que as plataformas de interacção entre oferta e procura também desempenham um papel decisivo, contribuindo para a sua expansão e aceleração, se resolva com leis “cirúrgicas” como a que o PS acaba de propor. Para legislar melhor, temos de conhecer bem os problemas, estudar os seus impactos, sobretudo quando são contraditórios, e ouvir as partes interessadas. Não foi este o caminho agora seguido pelo projecto de lei do PS e é pena.

Mas o debate está aberto. A este projecto de lei irão certamente seguir-se propostas dos outros partidos e será no Parlamento, na discussão entre todas as iniciativas, que poderá chegar-se a uma lei que seja útil e tão justa quanto possível. Para os que acreditam que as leis só atrapalham o mercado, respondo que em muitas cidades da Europa e dos EUA esta matéria está a ser alvo de propostas políticas de intervenção, umas mais radicais que outras, face ao alastramento vertiginoso do AL que faz diminuir perigosamente o mercado de habitação permanente e acessível, pondo em causa a própria sustentabilidade urbana. (…)

É preciso encarar esta temática de forma transversal — a fiscalidade, as políticas sociais, o ordenamento do território e das cidades, o papel do Estado e dos municípios e o acesso a informação de mercado transparente e credível são aspectos que não podemos ignorar. A questão não é apenas de habitação — é de convergência nas políticas e de harmonia nas cidades. Mais do que propor medidas avulsas, temos de identificar o que tem de ser mudado ao mesmo tempo em várias políticas públicas. É este o debate que importa e é cada vez mais urgente.» 
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26.5.17

Transportes «fora da caixa» (5)



O que esta carruagem blindada tem de especial é ter sido usada por Estaline a partir de 1941. Foi nela, por exemplo, que se deslocou à Conferência de Yalta, em 1945. Encontra-se no mesmo recinto em que se situa a casa em que ele nasceu e o Museu Estaline, em Gori. Geórgia (2012).
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Alegrai-vos, fãs de Emmanuel Macron



Le camp Macron en marche vers la majorité absolue aux législatives selon les sondages.

«Selon les projections d'Opinionway qui portent sur 535 circos métropolitaines (au total la France en compte 577), La République En Marche pourrait s'adjuger plus de la moitié de sièges de l'Assemblée en juin prochain (entre 310 et 330) avec moins d'un tiers des suffrages au niveau national. De quoi décrocher facilement la sacro-sainte majorité absolue des 289 sièges qui lui permettrait de régner sans partage.»

(O PSF arrisca-se a não ter mais deputados do que France Insoumisse / PCF – o que me dá um enorme gozo, confesso!)
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Geringonça: quem não arrisca não petisca



Daniel Oliveira no Expresso diário de hoje:

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Quem não anda pelo Facebook…



… não sabe o que perde! 
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À sombra de um Oliveira Costa



«Cerca de oito anos depois já há condenados no caso BPN. Ainda dizem que a Justiça é lenta. Oito anos não dão para um PM tirar um curso. (…)

É bom ver banqueiros atrás das grades mas, desculpem-me a minha insatisfação, parece-me que nestas coisas apanham sempre a arraia miúda. Arranjam um paspalho para ser só ele e o contabilista. Ao Oliveira Costa basta ouvi-lo e vê-lo, e ver como veste, para imaginar que planeou aquilo tudo sozinho... Foi falar com o Dias Loureiro que lhe disse - "isso é demasiado complexo para a minha cabeça". Resultado final, Oliveira Costa catorze anos de prisão, Dias Loureiro quinze dias de férias. (…)

Tenho a teoria que é sempre o que veste pior e está menos bronzeado que vai dentro ou leva a pena maior. É sempre o sucateiro. Se é o Oliveira Costa que leva a maior talhada acredito que no do BES o único condenado vai ser o senhor do bigode, o Amílcar Morais Pires e não um Espírito Santo. No caso do Sócrates, é condenado o Perna e o primo gordo do ex-PM.

É tão curioso ver um indivíduo que pede sandes de Bimbo com queijo levar catorze anos de pena e o Dias Loureiro que ao pequeno almoço faz brincos com lavagantes nem aparecer nos acusados. A esta hora está Aníbal Cavaco Silva a ligar para o Dias Loureiro a dizer: "Sempre pensei que este era um tipo honesto, as pessoas são uma surpresa!". Diz o ex-conselheiro de Estado - "É verdade, quem diria?! Que sorte que tivemos que ainda conseguimos fazer dinheiro com aquilo".

Como dizia um amigo meu - "pelo menos agora podermos parar com alegadamente e chamar-lhes mesmo ladrões" - É verdade, mas na realidade o "alegadamente" é o que lhes tirava o estilo. Ficam só ali a meio: nem eram de confiança nem tinham o charme de um bandido.

Neste momento em que o nosso dinheiro do BPN já ardeu todo, a única coisa que me preocupa é o Oliveira Costa não ter estado presente na leitura da sentença porque fez uma operação cirúrgica e estava em recuperação. O que me preocupa é se foi uma cirurgia plástica e agora chama-se Rute Oliveira e nunca mais lhe pomos a vista em cima.»

João Quadros

Brasil


@Eduardo Sama
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25.5.17

Transportes «fora da caixa» (4)



Ver nascer o dia, num destes balões, por cima dos milhares de templos de Bagan. Birmânia (2009).
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Há 50 anos?




Dizem que «Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band» foi lançado... há 50 anos. Não é possível: foi anteontem!
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Rocky e Ivan Drago vão ao cinema



Ricardo Araújo Pereira na Visão de hoje:



Na íntegra AQUI.
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José Mário Branco, 75



Nasceu em 25 de Maio de 1942 e pertence tanto às vidas de muitos de nós que não requer apresentações. Mas «exige-nos» que recordemos aquilo que nos deu, que oiçamos, sempre e sempre, algumas das suas canções, que passaram a fazer parte do tempo que por nós passou. Ver aqui post do ano passado. 
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O país dos Ronaldos



«Segundo parece, o ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schäuble, classificou Mário Centeno, como o "Ronaldo do Ecofin".

Quando surgem elogios destes, vindos de quem, em momentos críticos, conseguiu sempre causar problemas a Portugal com as suas declarações fora de circunstância e de tempo, é caso para ficarmos com pele de galinha. (…) Até pode ser que Schäuble ache que Centeno pode ser o goleador que falta ao Ecofin, conclave de onde muitas vezes surgiram das mais tenebrosas ideias para afundar os países da periferia europeia. Este elogio a Centeno pode ser, por isso, um doce envenenado destinado a empanturrar de orgulho o ego nacional. (…)

Não há aqui qualquer teoria da conspiração, mas sabemos que Portugal, apesar dos resultados surpreendentes dos últimos tempos, continua a ser visto como uma ovelha negra pelo sector político que é hegemónico na Europa. Se uma imagem capturasse o espírito do tempo, a política portuguesa era o Capuchinho Vermelho. Mas todas as imagens revelam um engano: a avozinha já foi comida pelo lobo e este prepara-se para trinchar o Capuchinho Vermelho. Não falta vontade à Europa da ideologia da austeridade para cilindrar uma alternativa política que vai contra os cânones reinantes. Por isso, o elogio ao país de Ronaldos soa a falso. Como se fosse uma piada básica. Que, em vez de divertir, arrepia.»

Fernando Sobral

24.5.17

Transportes «fora da caixa» (3)



Uma caranguejola muito útil para percorrer as ruas de Luang Prabang. Laos (2009)
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Dica (553)




«Donald Trump has transformed the United States into a laughing stock and he is a danger to the world. He must be removed from the White House before things get even worse.» 
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Avistamentos de Marcelo e de Madonna

E está o mundo entregue a esta besta!


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Parabéns a você nesta data querida



«Com a sua cara de pau, Dombrovskis lá anunciou que a Comissão propõe que Portugal será retirado do Procedimento por Défice Excessivo, sendo a questão submetida como mandam as regras a quem de direito, na valsa lenta que é a burocracia europeia. (…)

Em Portugal festejou-se. O editorial do PÚBLICO até se espantou por não haver multidão no Marquês de Pombal. Mas olhe que houve multidão, só que é a que anda por aí, caro director: uma massa de dirigentes partidários e institucionais veio distribuir congratulações. O Presidente parabenizou, como agora se diz, tanto Costa como Passos e sobretudo, claro está, os sofridos portugueses e portuguesas. Passos adiantou-se em conferência de imprensa a parabenizar o governo, o tal agente do diabo para o dia seguinte, a si próprio e, claro, os sofridos portugueses e portuguesas. O primeiro-ministro fez depois discurso de Estado para parabenizar todos, lembrou como o governo terçou por esta dama, e, claro, os sofridos portugueses e portuguesas. (…)

Há então razões para festejar? Pois. (…) Podem-se contabilizar algumas despesas úteis fora do défice, mas também entramos imediatamente no procedimento por dívida excessiva, nunca saindo da tutela apertada sobre escolhas que deviam ser absolutamente soberanas, como o investimento em saúde e em segurança social, ou em capacidade produtiva e emprego. Talvez Portugal não vá para o Marquês enquanto estiver preso a estes “procedimentos”.

Mas os “procedimentos” tiveram ainda outros efeitos. Subjugaram a elite portuguesa a um discurso desistente: há mesmo quem chame “socialismo” a este mundo de tratados neoliberais e à supranacionalização da decisão política que esvazia a democracia deliberativa. Como não há quem consiga sustentar que a União Europeia é uma união ou um Estado democrático, a palavra “democracia” é esvaziada e substituída por um cerimonial: aquela a que temos direito é Dombrovskis ou Dijsselbloem a darem-nos lições. Assim, a desistência unificou os partidos do centro e da direita na narrativa do ajustamento estrutural; constitucionalizou a renda pela dívida; banalizou as operações de resgate bancário e a protecção da finança; disciplinou a população à austeridade; atacou os sindicatos e outras formas de expressão popular; reclamou o exclusivo da política para a aceitação das ordens de cima.

Por isso, uma sugestão: não tratem o povo como sofridinhos. Fomos as vítimas de uma política cruel, que sabia o que fazia e que alcançou parte dos seus objectivos de desagregação das políticas sociais. Era mesmo para “empobrecer”, como então clamou o parabenizador Passos Coelho. O país ficou mais pequeno e a democracia só recuperou algo nos últimos dois anos. Portugal merece mais do que parabéns e apagar uma velinha, merece a devolução do que nos tiraram.»

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Os muros de Trump


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23.5.17

Transportes «fora da caixa» (2)



À espera de turistas para um passeio no Bósforo. Istambul, Turquia (2011)
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Dica (552)



Um pouco acima de lixo (Paula Ferreira) 

«Quem olha para a notícia como o fim de todos os males da sociedade portuguesa estará, com toda a certeza, equivocado. Nada de estrutural deverá mudar. Bruxelas continua a impor as regras, tal como ficou claro na comunicação feita por Pierre Moscovici, o comissário europeu da Economia. O aviso foi claro. Se não se portam bem, voltam os castigos. Portanto, bem podem os partidos da Esquerda, apoiantes do Governo, exigir que o alívio seja refletido na vida das pessoas, dos que mais sofreram nos últimos anos e graças a eles, como realçaram várias vozes cá dentro e lá fora, foi possível pôr as contas públicas outra vez no bom caminho.
António Costa, se quiser manter o estatuto de bom aluno, terá pouca margem de manobra para responder de forma positiva. Os que recomendaram a saída de Portugal do Procedimento por Défice Excessivo foram os mesmos que lembraram ser necessário continuar de cinto bem apertadinho. E o mercado de trabalho estará sempre na mira de Bruxelas, para que não haja veleidades. O aviso está dado: com as medidas previstas, Portugal não cumpre as regras que lhe são exigidas.» 
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Georges Moustaki partiu há quatro anos



Georges Moustaki nasceu em Alexandria, de pais judeus gregos, e morreu em Nice, com 79 anos, em 23 de Maio de 2013.

Em 1951 foi para Paris, trabalhou primeiro como jornalista, mas foi como barman que entrou no mundo da música, onde personalidades como Georges Brassens o influenciaram decisivamente (ao ponto de lhe ter «roubado» o nome, já que nascera como Giuseppe e não como Georges…) Para Édith Piaf escreveu Milord e com ela viveu um curto romance. «Brassens était mon maître, Piaf était ma maîtresse» - terá um dia sintetizado. 

Para nós, ficará sempre esta pérola que nos dedicou:




E tantas outras:




E sempre, sempre eterno: «Le Métèque».




Já não está por cá nenhum destes «monstros sagrados:


 (Ferrat, Brel, Ferré, Brassens e Moustaki)
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O mundo é nosso!


Se Centeno viesse / vier a chefiar o Eurogrupo, só faltaria António Costa ser o próximo Presidente da Comissão Europeia. (Qual Tordesilhas, qual carapuça!) 
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A redenção nacional



«De vez em quando, depois de anos em que se perdeu na floresta dos equívocos, Portugal descobre o caminho para a redenção. Vivemos um desses tempos. Tudo parece correr bem.

Vencemos o Euro 2016, ganhámos o Festival da Eurovisão, o défice nunca foi tão baixo, a economia cresce, a CE propôs o fecho do Procedimento dos Défices Excessivos onde medrávamos aterrados desde 2009. A grande redenção nacional já aterrou demasiadas vezes em Portugal para sabermos que ela tem a validade de um iogurte. Porque, depois da festa, ninguém recolhe as canas caídas no chão e elas ficam ali, como combustível para o próximo incêndio. À falta de ideias estratégicas, usamos as conhecidas fintas da táctica rasca. Foi por isso que Portugal nunca acumulou capital, preferiu importar a criar, viveu sempre do empréstimo e a chorar pelo pagamento do juro em vez de criar meios de se financiar.

Houve até um tempo em que os mais novos eram ensinados a ter um porquinho em casa, onde iam depositando, devagarinho, todas as moedas disponíveis. Só quando estava cheio é que se partia o pequeno suíno. Comprava-se, depois, um novo porquinho, substituíam-se as moedas por notas e volta-se a enchê-lo de moedas. Aprendia-se, assim, a poupar. Hoje esse pequeno e eficaz prazer foi substituído pelo consumo. O valor do dinheiro deixou de existir. Essa falta de capacidade de poupar em momentos de alguma riqueza aliou-se sempre à ausência de um modelo económico e social de país. Abre-se e fecha-se a torneira consoante parece que estamos com excesso de água ou em seca. Olhamos, anos depois, para o célebre relatório Porter e está lá quase tudo. Foram, na sua maioria, as circunstâncias do cosmos que nos levaram para o turismo, para o vinho, para o azeite, para o calçado e os têxteis. Só falta aproveitar os recursos do mar. A redenção nacional faz-se quase sempre através de convergências astrais. E raras vezes porque há uma estratégia. Pode ser que, desta vez, se aprenda algo e seja diferente.»

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22.5.17

Transportes «fora da caixa» (1)



Nenhum motivo para que os guatemaltecos viajem em autocarros tristonhos! Antígua, Guatemala (2014).

(Nova série)
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Dica (551)



A política em fuga (Manuel Carvalho da Silva) 

«Vivemos tempos paradoxais no nosso espaço público. A política e sobretudo o comentário político ocupam significativo espaço nos mais diversos meios de Comunicação Social, nomeadamente em canais de televisão, jornais, páginas da Internet, redes sociais. No entanto, o debate político raramente pareceu tão estreito nos seus temas e abordagens. Com honrosas e esporádicas exceções, as análises convergem nas velhas interpretações e posições do "centrão", alimentadas por uma relação, por vezes de manifesta cumplicidade, entre jornalistas, ex-detentores de cargos políticos e atuais atores políticos. A informação que recebemos surge-nos "contextualizada" e "cristalizada" em opiniões esvaziadas de capacidade crítica. Nessa formatação do comentário político, não cabem alguns dos fundamentais conteúdos novos e das dinâmicas que a conjuntura política que vivemos vai despoletando.» 
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22.05.1924 – Aznavour, 93



Charles Aznavour nasceu em 22 de Maio de 1924, tem 70 anos de carreira, mais de 100 milhões de álbuns vendidos e continua bem activo. Cantou em Marrocos há pouco mais de uma semana e tem vários espectáculos previstos para os próximos meses.

Para celebrar este seu 93º aniversário, realiza-se hoje um espectáculo de homenagem em Erevan, na Arménia, e um outro nos primeiros dias de Junho.

Aznavour o cantor, mas também «o arménio», evidentemente:



E, sempre, voltar a ouvir velhas relíquias guardadas no baú:






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Um Presidente especialista em História Virtual



Eu nem me importo de ter um presidente da República que ande por aí a recolher beijinhos e a tirar selfies – bom proveito. Mas não o sabia especialista em História Virtual e não perdeu mais uma ocasião para o afirmar: ele «sabe» que foi o trabalho dos governos de Costa e de Passos, que permitiram que Portugal saísse, hoje, do procedimento por défice excessivo. Pois já eu não tenho, de todo, a certeza disso – antes pelo contrário. Estivesse ainda Passos em S. Bento e…? Os passados aos deuses pertencem.
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Alien, o passageiro perdido



«A saga de Alien, o 8.º passageiro, o monstro que, com o seu poder de destruição, arrasa a tripulação da nave "Nostromo", tornou-se um clássico.

Porque, à luz do futuro, permitia-nos ler o passado e o presente dos seres humanos. Mas, tal como o seu criador, o realizador, Ridley Scott, Alien está perdido neste mundo, porque já não consegue imaginar o futuro. É o que se vê no novo "Alien Covenant", parábola do presente, onde David, um robô, se vai humanizando e conclui que a própria humanidade é um erro. Os colonos que viajam numa nave para um planeta onde poderão recomeçar a vida, de acordo com o que pensa David, não têm direito a isso, porque se os humanos já destruíram a Terra, para que é que querem outro planeta para fazer o mesmo? O que é mais assustador neste novo Alien é que ele nos coloca defronte do espelho e nos força a questionar-nos. Numa Terra danificada em termos ambientais, económicos, políticos, culturais e morais, estamos incapazes de imaginar um futuro qualquer. Já não há utopia: há pura distopia. Um vazio que se vai preenchendo com autoritarismos, vias únicas, gritos de que "não há alternativa".

Olhamos à volta e vemos Donald Trump ou Michel Temer ou Nicolás Maduro ou Kim Jong-un e tantos outros. E reparamos na falta de utopia que cria figuras como Emmanuel Macron. O problema é que esta hegemonia da distopia tem que ver com a desagregação de uma forma de fazer política, onde do alto de uma pirâmide não se vê, ou não se quer ver, o que se passa efectivamente nestas sociedades onde o trabalho vai escasseando e vai desaparecendo a interacção entre os cidadãos. David Byrne, o notável músico americano que criou os Talking Heads, escreveu há dias um texto notável sobre o tema, mostrando que talvez exista uma agenda escondida para destruir a essência da política e da democracia. Trump, o criador de conflitos, é 8.º passageiro desta história. Porque é o diálogo entre todos nós que se está a tentar fazer desaparecer.»

21.5.17

Gentes deste mundo


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Dica (550)




«The White House is becoming more chaotic by the day. Now, a special counsel has been brought in to investigate possible connections between President Donald Trump's team and Russia. But the most important question is now whether Trump is mentally stable enough to be president.» 
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Mais 20 centímetros

Descolonização e racismo à portuguesa


«O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, foi visitar a ilha de Gorée, no Senegal, e fez declarações sobre o envolvimento de Portugal no tráfico de escravos. O que lá mencionou foi o gesto madrugador de Portugal ao ter reconhecido a injustiça da escravatura, em 1761, quando pela mão do marquês de Portugal aboliu tal prática em parte do seu território em “reconhecimento pela dignidade do homem”, segundo disse. (…)

o que se nota hoje em Portugal é uma dificuldade em lidar com o passado colonial. É simultaneamente como se Portugal nunca tivesse colonizado e nunca tivesse descolonizado. Ou é como se a descolonização tivesse tido lugar em África, mas nunca tenha ocorrido em solo português. Talvez porque o que foi madrugador não foi Portugal ter reconhecido a injustiça da escravatura, em 1761, mas ter transformado “colónias” em “províncias ultramarinas” em 1951, na revogação do Acto Colonial. Isso só por si não conta como descolonização, naturalmente. Mas Portugal levou a sério esta farsa. Serviu de justificação para a pressão em descolonizar imposta por organismos internacionais. No discurso da época, Portugal não podia descolonizar porque não tinha colónias. Consequentemente, o Estado Novo não teve de lidar com a descolonização. E tendo havido uma revolução para que Portugal deixasse África, o abandono do império acabou por ocupar o lugar de uma descolonização efectiva.

Isso explica a ferida aberta que a África colonial ainda hoje constitui. Explica o pesado silêncio sobre a presença em África que muitos portugueses carregaram até recentemente. Mas explica também a posição subalterna, ou mesmo colonial, a que o contingente negro da população portuguesa tem sido votado até hoje. Ou seja, é como se o colonialismo, ou as mitologias coloniais, se tivesse virado para dentro. Daí que os problemas que as comunidades de origem africana vivem ainda hoje em Portugal são de natureza colonial. Não se pode negar que o país tem feito algum progresso. Mas há ainda uma grande falta de representação de negros na política, nos meios de comunicação de massas e no ensino e investigação de temas que lhes deveriam dizer respeito (como a história de África, por exemplo). O que Rebelo de Sousa fez foi manifestar o contínuo histórico baseado no conceito do bom português que trata os “seus negros” com humanidade. Este foi o grande baluarte do passado colonial e continua a sê-lo no presente pós-colonial português.»

Presidentes eleitos por inteligência artificial?

As autárquicas e o mal menor



«As eleições autárquicas, especialmente em Lisboa e Porto, prometem ser o grande acontecimento político da "rentrée". Uma espécie de Festival da Eurovisão à escala local.

Os portugueses querem sentir que os cantores têm paixão e não são meros executantes de karaoke político. No final, PS e PSD vão contar espingardas e dos resultados poderá vir a depender o futuro triste de Pedro Passos Coelho. Mas o certo é que o comum cidadão olha hoje para os candidatos aos municípios de Lisboa e Porto e vê, sobretudo, manobras e proclamações políticas que pouco estão a contribuir para uma discussão inteligente sobre os problemas sérios com que se debatem as duas principais cidades portuguesas. A saber: a pressão turística e a imobiliária a ela ligada que estão a afastar os habitantes locais para as periferias; o tráfego caótico no interior dos centros, sem respostas para o estancar à entrada das cidades e sem planos de transportes públicos eficientes; a degradação da qualidade de vida que tudo isto está a implicar. Esses problemas são mais claros em Lisboa do que no Porto, mas existem nas duas cidades. (…)

É assim que entramos no campo do "mal menor". Trata-se de um princípio de reflexão moral para tentar diluir um dilema político. Aristóteles falava disso no seu segundo livro sobre ética. Daí nasceu a expressão: "do mal, o menos". António Gramsci explicava: "Todo o mal maior se faz menor em relação a outro que ainda é maior, e assim até ao infinito." Muitos cidadãos vão por isso votar entre o que consideram "menos mau" dos candidatos. Mas isso, claro, implica que os cidadãos começam a claudicar do pensamento e da argumentação, o que alimenta populismos e simplificações políticas. É esse o problema das opções políticas destes dias. Numa época em que precisávamos de bons debates sobre como reformar as grandes cidades portuguesas talvez tudo se vá perder em floreados dialécticos.»