22.7.17

«Expresso» ou «Os Ridículos»?



Que aqui fique, para memória futura, este recorte da capa do Expresso de hoje. O dia em que este jornal, que leio há 44 anos, devia mudar de nome e retomar um título antigo: «OS RIDÍCULOS». 

O único fundamento para o título bombástico, que o próprio jornal confirma, é este: uma pessoa, que foi atropelada e não vítima directa de fogo ou de fumo, não foi incluída na lista oficial das 64 vítimas! Oh, escândalo dos escândalos… As vítimas foram 65, não 64! 
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Maduros para um Trump



Daniel Oliveira no Expresso de 22.07.2017:



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Ñecessidades básicas


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Um virtuoso do racismo



«A propósito das declarações homofóbicas de Gentil Martins, médico, ou das declarações xenófobas de André Ventura, dirigente e candidato do PSD em Loures, houve quem ensaiasse uma fuga indiscreta com um protesto contra o “politicamente correcto”, uma espécie de censura que intimidaria a liberdade de expressão dos coitadinhos. Aceitar essa discussão admitiria que se trate de um simples problema de linguagem, quando é uma questão de atitude social e de discriminação que fere porque pretende ferir. Lastimo esse nevoeiro, tanto mais que se conhece bem como os termos mobilizam os significados: se hoje ninguém usa a sério uma expressão do tipo “fazer judiarias”, é simplesmente porque sabemos o que foi a perseguição a judeus ao longo de séculos e que culminou nos tempos da nossa perigosa civilização.

A linguagem deste caso só é interessante porque o dirigente do PSD, tendo provocado uma tempestade política, veio reafirmar a sua posição, amparado pelo apoio de Passos Coelho e da chefatura laranja. Ou seja, fez questão de manter as suas palavras e de as realçar com mais boçalidades (desejar que o primeiro-ministro vá de férias para sempre, o que é que isso quer dizer?). Ele, doutorado em Direito e professor universitário, quer fazer-se notar por ser boçal. É o estilo que faz a sua candidatura, é aí que joga o seu destino. Ele quer ser conhecido no país pelo modo Trump.

A sua defesa pelo PSD é um risco político. O CDS, que agradece esta possibilidade de se apresentar mais o centro, foge da aliança. Mas até se poderia explicar que, na dúvida, os partidos tendem a defender-se: o autarca socialista de Loures, antes da eleição de Bernardino Soares do PCP, já tinha dado alguns passos no mesmo caminho, e o presidente de junta de Cabeço Gordo, do PCP, impediu o funeral de um cigano na sua terra usando qualquer pretexto (e foi defendido pelo partido).

No entanto, o caso de Ventura é de outra dimensão. Fazer-se amado pela extrema-direita (“é um dos nossos”, diz com orgulho o PNR) é um sinal político, aliás prejudicial do ponto de vista eleitoral, mas acho que há muito mais nesta história.

Ventura é um produto de outra escola: do partido, certamente, admito que até dessas juventudes onde se aprende a matreirice e o carreirismo, mas o que determina a sua pose é a televisão e o comentário desportivo onde iniciou a sua carreira pública. É na pesporrência, na ligeireza, no fanatismo que determina os lugares da normalidade no comentário desportivo (há excepções), que Ventura aprendeu a lançar achas para a fogueira. Como os dirigentes dos clubes, Ventura percebeu que, para ser notícia, é preciso saber ser detestável. O facínora é quem vence na comunicação clubística. E o futebol é um bom caminho para a política (esta semana abri a televisão e vi um debate entre apoiantes dos três maiores clubes, dois deles eram dirigentes do CDS, que sabem por onde vai a sua carreira).

Que a grande maioria dos ciganos trabalhe e não depende de prestações sociais (vd. o gráfico), que importa isso para Ventura? Ele já se colocou no mapa nacional, graças à sua exibição xenófoba. Sairá depressa, é certo, a sua derrota nas eleições em Loures é inexorável, mas ele pensa em outros voos. Para isso, só precisa de ficar agarrado a um clube de futebol numa televisão perto de si e ir proferindo uns dislates ofensivos, para que alguém vá reagindo e se fale dele.»

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21.7.17

Casas «deles» - Foram 12


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Dica (590)

A PIDE não faria melhor


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Última Crónica



Por Alfredo Barroso, no jornal «i» de 21.07.2017:

«Habituei-me desde muito cedo a escrever sem rodeios e sem hipocrisia, quer como jornalista profissional quer como cronista político. Foi também assim que participei activamente na vida pública, desempenhando vários cargos políticos depois do 25 de Abril, ao longo de trinta anos. Não seria agora, com 72 anos, que iria tornar-me um cronista convencional, “mainstream”, preocupado sobretudo em não provocar engulhos e peles de galinha.

Quando Mário Ramires e Ana Sá Lopes me convidaram, há meses, para escrever uma crónica semanal no “i” (sem qualquer remuneração dadas as dificuldades financeiras do jornal), aceitei de bom grado, ingenuamente convencido de que o «i» renovado poderia vir a ocupar o espaço deixado vago pelo “Público” há vários anos, quando José Manuel Fernandes sucedeu a Vicente Jorge Silva como director, fazendo o jornal guinar subitamente para a direita, guinada essa que ainda mais se acentuou sob a direcção de David Dinis (que foi, convém não esquecer, um dos fundadores do diário on-line da direita pura e dura, o “Observador”).

O certo é que, ao passar a ler o “i” com mais atenção todos dias (tanto o noticiário político como as inúmeras crónicas de opinião), percebi que estava a colaborar, salvo poucas excepções, num jornal de direita, perdido no meio de uma floresta de escrevinhadores fanáticos, alguns deles de extrema-direita. Não contesto, obviamente, as opções políticas do “i”. Não será em vão que em democracia se proclama, com ironia ou sem ela, a “liberdade de pensamento” - como há dias o fez, num curioso post-scriptum, o director executivo deste jornal.

É verdade que, em quase todas as sociedades democráticas, há jornais diários de quase todas as tendências políticas. Mas, neste momento, não é esse o caso em Portugal, onde abundam jornais de direita (um ou outro de centro-direita) e nenhum jornal diário de esquerda ou centro-esquerda. O que significa que é cada vez mais difícil, para cronistas politicamente de esquerda, encontrar espaços onde publicar os seus textos regularmente. Daí que aceitem escrever em jornais de direita moderada – que, praticamente, são quase nenhuns.

Infelizmente, o “i” está a tornar-se um jornal bastante reaccionário, tentando manter algumas “pinceladas” de esquerda – e eu tenho sido uma delas. Sempre achei, no entanto, que é muito útil a separação de águas: à direita o que é de direita e à esquerda o que é de esquerda, como sucede com os melhores jornais e revistas de outros países democráticos – embora haja vários exemplos intermédios, de centro-direita e centro-esquerda, onde a convivência e a coexistência pacífica são possíveis. Todavia, perante o actual panorama de jornais diários generalistas em Portugal – e pondo de lado o populista e predatório “Correio da Manhã” –, considero que o “i” é, actualmente, o mais à direita dos outros quatro jornais diários generalistas, ou seja, mais à direita que o “Público”, o “DN” e o “JN” – chegando por vezes a querer competir com o “CM”.

Será fácil perceber o desconforto que sinto em colaborar no “i”, desconforto esse que aumentou exponencialmente nas últimas semanas. Decidi, por isso, pôr termo à minha colaboração neste jornal. Agradeço o convite do Mário Ramires e da Ana Sá Lopes, mas não quero continuar a fazer parte do “ornitorrinco político” em que se transformou o “i”.

Sei bem que não será nada fácil voltar a escrever regularmente num jornal diário, mas desejo ser coerente com o meu ideário de esquerda e estar de bem com a minha consciência, preservando a minha autonomia – sobretudo desde que decidi, há dois anos, abandonar o PS (de que fui um dos fundadores em Abril de 1973). Tenho apoiado, como se sabe, várias políticas defendidas pelo Bloco de Esquerda, por concordar com elas. E também é verdade que me tenho batido, há vários anos, por acordos e convergências possíveis entre o PS e os partidos à sua esquerda. Mas nada disso tem beliscado a minha independência política e identidade própria.

Fui jornalista profissional antes do 25 de Abril (nos jornais “A Capital” e “O Século”) e é curioso recordar que, nessa altura, eram os coronéis da Comissão de Censura que, usando e abusando do “lápis azul”, separavam involuntariamente as águas entre os jornais afectos ao regime e os que não estavam dependentes dele nem o apoiavam. Hoje, já não há “lápis azul” mas também não há jornais de esquerda ou centro-esquerda. O dinheiro é que manda. É lamentável.»
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Um PSD de contrafacção



«Acho que foi Trump que inaugurou oficialmente a época em que ser racista, xenófobo, homofóbico, machista, etc, é fugir ao politicamente correcto. Temos de ser compreensíveis para com quem transborda preconceitos. Uma espécie de "até tenho um amigo que é racista.”

Confesso que sou racista com racistas. Até tenho um amigo que é racista mas... Sabem como eles são. Histéricos com aquilo que é diferente e que sentem que os ameaça. Sempre com aqueles trejeitos de apontar com a mãozinha para as minorias. Sempre preocupados com a cor dos outros. Aquilo não pode ser por escolha, é uma anomalia.

O PSD arranjou um paineleiro desportivo, e não tenho nada contra paineleiros, até tenho um amigo que é, que foi politicamente incorrecto para com a comunidade cigana. Chamar politicamente incorrecto ao que disse um tal de André Ventura é contrafacção de xenofobia. Tal como os dados que André Ventura apresenta parecem ser da Pordaca.

A prova de que estas críticas aos ciganos assentam em estereótipos é que já passaram 72 horas e o André Ventura não levou uma naifada. Perante o discurso do candidato a Loures, o CDS-PP chegou-se à frente e resolveu seguir "um caminho próprio no concelho de Loures nestas eleições autárquicas de 2017". Ou seja, trocando por miúdos, e fugindo ao politicamente correcto, deu um pontapé no rabo ao André Ventura. O PSD fez o mesmo. Não, não fez, estava a tentar enganar o leitor. É mais forte que eu, a minha bisavó era cigana e o meu bisavô banqueiro.

O PSD (as siglas significam Partido Social Democrata, de vez em quando convém lembrar), numa perigosa ultrapassagem ao CDS pela direita, continuou a apoiar o tal Ventura. Com mais uma destas, Nuno Melo não aguenta e muda para o PSD. Passos Coelho escolheu continuar a apoiar o Ventura, pelo menos até ele começar a embirrar com as minorias negras de Massamá... Com personagens como este Ventura, o Hugo Soares, etc, o PSD de Passos Coelho ensaia uma espécie de Trumpismo à portuguesa. Hugo Soares, eleito líder da bancada do PSD, é o exemplo de um direito que devia ser referendado.

Atingimos o ponto mais baixo, a bancada do Partido de Sá Carneiro está entregue a um indivíduo que acha que todos os direitos podem ser referendados. Bem sei que podem dizer: não é o pior momento, já lá esteve o Duarte Lima, e o Hugo Soares até tem ar de estimar velhinhas. Aliás, ele, com um lenço na cabeça e aquele discurso, parece uma senhora de idade mas, olhando para todos estes sinais, chegamos à conclusão de que este PSD é de contrafacção. O original não tem nada a ver com isto. Ver o partido de Sá Carneiro a apoiar um candidato com um discurso racista até impressiona a Comissão de Camarate.»

20.7.17

Casas «deles» (12)



Casa de Nacarello. Colónia do Sacramento, Uruguai (2015).

Nacarello foi o morador mais antigo desta casa do período português, hoje transformada num pequeno museu que mostra como vivia uma família em meados do século XVIII. Nas imagens mais abaixo, o interior do museu e outras casas e ruas tipicamente portuguesas. Estas «pegadas» dos portugueses são muito interessantes.

A Colónia do Santíssimo Sacramento foi fundada em Janeiro de 1680 por Manuel Lobo, governador da Capitania Real do Rio de Janeiro, a mando da coroa portuguesa, desejosa de estender o seu domínio, através do Brasil, até ao Rio da Prata. Foram depois muitas as lutas e vicissitudes por que passou até à independência do Uruguai em 1828.




Já lá vão cinco anos


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20.07.2017 – A Lua



Pisar a Lua sempre funcionou no imaginário dos homens como um símbolo de que tudo se tornaria de certo modo possível a partir do momento em que isso acontecesse.

Há 48 anos, três astronautas americanos concretizaram esse velho sonho e milhões de pessoas viram Neil Armstrong sair do módulo lunar e andar na superfície lunar. Logo a seguir, com uma pequena máquina fotográfica, mostrou ao mundo o que ia vendo e disse uma frase que viria a ficar célebre: «É um pequeno passo para um homem, mas um salto gigantesco para a humanidade».

Nunca pensámos então que, quase 50 anos depois, um louco viesse a governar os EUA: soaria tanto a teoria da conspiração como a daqueles que, ainda hoje, garantem que nada se passou em 20 de Julho de 1969. (Em termos de teorias da conspiração, por cá, em 2017, contentamo-nos com uma versão mais modesta, proporcional à nossa humilde dimensão: terá havido algum roubo em Tancos?)




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Teresa Leal Coelho




Garantem-me que estes cartazes existem mesmo e que não são resultado de montagens, que as fotografias são da candidata e não de uma filha, que só por lapso é que não está escrito «Um@ Senhor@ Lisboa» e que se esperam novos escaparates com referência a bisavós, bisnetos, tios, primos, bichanos e cães de estimação.
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Muitas venturas?



«Na política portuguesa irrompeu agora uma personagem chamada André Ventura que, segundo se diz, é candidato do PSD à Câmara de Loures. Habituado a dizer umas larachas sobre futebol, Ventura aplica o mesmo princípio à política: grita umas tolices para que alguém repare que exista. Como se sabe o direito à tolice é reconhecido constitucionalmente. Mas alguns confundem isso com dever. O caso é patético mas é grave. Mostra, desde logo, que partidos responsáveis se deixaram contaminar pelos mestres da pirotecnia televisiva: o que é importante é que os candidatos apareçam na televisão e não que tenham ideias ou valores morais ou éticos. É uma opção. Mas é mais grave quando, face a um coro de protestos (incluindo a saída do CDS da coligação), Passos Coelho continue a desejar "muitas venturas" a Ventura.

A direcção do PSD entrincheirou-se num castelo medieval. E este é apenas o derradeiro exemplo dessa tentação da idade das trevas. Porque as afirmações de Ventura são reais e perigosas. São ética e moralmente vergonhosas mas, na óptica da liderança do PSD, deixam o problema na decisão eleitoral. Serão os eleitores a validarem ou obliterarem estes dislates. O que levanta um outro problema: as declarações convictas de Ventura são típicas de um populismo radical que pouco tem a ver com a ideologia social-democrata do PSD. Ou seja, Passos Coelho abre a porta ao populismo como mantra do seu novo PSD. Vale tudo para conquistar o poder? Sobretudo fórmulas mágicas como convocar instintos primários que têm a ver com preconceitos étnicos? É assim que um partido sério e responsável fica refém do radicalismo xenófobo. Resta saber o que pensam os social-democratas do PSD.»

Fernando Sobral
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Da série «Grandes Títulos»


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19.7.17

Casas «deles» (11)



Nursultan Nazarbaev, actual presidente, Palácio Presidencial Ak Orda. Astana, Cazaquistão (2016).

Embora seja oficialmente a residência do presidente do país, ele não mora propriamente neste local de trabalho. (Sobre Astana, ler este post.) 

Tancos Papers


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Racismo: debate inédito ou oportunidade de ruptura?



Por Mamadou Ba no Facebook:

«Três brevíssimas notas a propósito do debate na RTP sobre o racismo na sociedade portuguesa. :

Tivemos: :

1. Pela primeira vez, sujeitos racializados, em prime-time na televisão pública, no uso da palavra sem constrangimento a assumir o seu lugar da fala com frontalidade, para discutir o racismo sem procuração política e, claramente inscritos numa dinâmica de desconstrução do mito do excecionalismo lusitano no que toca ao carácter estrutural do racismo; :

2. No confronto, um Estado, pela pessoa do Alto-Comissariado para as Migrações, desfasado da realidade e impreparado para a enfrentar, sem rumo estratégico para lá das generalidades alicerçadas na narrativa do anti-racismo moral que reduz o racismo a uma questão de relação interpessoal, olvidando as relações de poder herdadas da historia colonial e do mito da superioridade civilizacional; :

3. O silêncio ensurdecedor do establishment, sempre lesto a discorrer sobre temas fraturantes que não belisquem o seu privilégio, uma reação acirrada da extrema-direita orgânica e inorgânica e, incompreensivelmente, o incómodo de uma certa elite face ao debate, até dentro do campo tido por “progressista” personificada, por exemplo, na reação de Carlos Castro, Vereador da CML, inscrita na narrativa luso tropicalista do excecionalíssimo lusitano em relação ao racismo. :

Para que o inédito não seja uma oportunidade perdida, que o Estado assuma as suas responsabilidades e olhe de frente para a existência do racismo e, que não se deixe sequestrar pela extrema direita nem pela herança colonial, que se rompa definitivamente com o luso-tropicalismo ideológico e cultural, o debate sobre o racismo na socieddade portuguesa terá de sair da guetização a que foi remetida e assumir uma centralidade no debate politico, no espaço académico e na interação cultural. :

Para mim, é um privilégio estar em luta com uma geração de activistas negras e negros, ciganas e ciganos que veio resgatar o debate das margens da disputa política. Ontem, no palco, foi com Cristina Roldão, Gitelles Ferreira e Abílio Bragança Neto e na vida real é com tantas e tantos outros, pessoas e colectivos. E, tenho a certeza que amanhã será com muitas e muitos mais, se não for com todas e todos. Estamos juntos, estamos mais fortes e estamos na luta.» 
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Aníbal, há 30 anos



Exactamente há 30 anos, Cavaco obteve a sua primeira maioria absoluta em legislativas – a primeira, de um só partido, após o 25 de Abril.

Eu vivia então na Bélgica e acompanhei o acontecimento com uma muito saudável distância… 
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Uma guerra entre tronos



«Nestes dias de início da nova temporada de "A Guerra dos Tronos", as palavras de Cersei Lannister são eternas: "Os deuses não têm piedade; é por isso que eles são deuses." No mundo da guerra e da política, estas palavras podem parecer cruéis e exageradas. Porque nele, apesar de tudo, há piedade. Coisa que não acontece no mundo dos sete reinos. Mas, se lermos a redacção do CEME, o general Rovisco Duarte, que parece querer encerrar de vez a balbúrdia de Tancos, fica-se com a ténue sensação de que não há aqui guerra nem paz, nem piedade nem autoridade. É um textinho escrito na água. O CEME fala em "conclusões" de diversas "averiguações" e, assim, volta a nomear os comandantes exonerados à pressa logo a seguir ao "assalto" a Tancos. Exonerações que levaram a demissões, recorde-se. Agora o CEME parece comprar um detergente eficaz para limpar qualquer nódoa incómoda. Nada que admire: o ministro que ainda não sabe que já não o é, Azeredo Lopes, e o CEME, que tenta sobreviver, são fortes candidatos a criar a aldeia da roupa branca do século.

O caso de Tancos foi demasiado grave para terminar assim. Com a transferência do paiol para outras unidades militares. Com o fim das exonerações. Com o risível valor do material desaparecido. Esta redacção do CEME não é um ponto final. Tancos não foi uma brincadeira de soldadinhos de chumbo ou um exercício de Rambos internacionalistas. É um poço com fundo. Porque só as almas amenas comem a farinha 33 de que apareceu ali um camião que levou de uns paióis distantes da rede cortada algum material militar. Esta narrativa não aguentaria para um filme de 007. Sabe-se que os problemas são outros. Espera-se que o DCIAP e a PJM vão até ao fim e que tudo não termine na terceira gaveta de uma qualquer secretária. Porque o rastilho é longo e incendiável. As Forças Armadas portuguesas não merecem prosas românticas como as de Rovisco Duarte. Pelo que têm feito, aqui e no estrangeiro, merecem mesmo um melhor CEME. E um melhor ministro.»

Fernando Sobral

18.7.17

Casas «deles» (10)



Reis da Tailândia. Palácio de Verão de Bang Pa-In, Provincia de Ayutthaya, Tailândia (2012).

Começou a ser construído no século XVII, mas a maior parte dos edifícios data do período que vai de 1872 a 1889. Hoje, é raramente utilizado pela família real tailandesa e nele têm lugar apenas alguns banquetes e outras cerimónias oficiais.

Dica (589)




«At the very moment when climate change demands an unprecedented collective public response, neoliberal ideology stands in the way. Which is why, if we want to bring down emissions fast, we will need to overcome all of its free-market mantras.»
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O diabo afinal chegou mas foi para o PSD



Não acerta uma, ainda ultrapassará o PNR pela direita.

Loures: CDS-PP deixa cair André Ventura, PSD mantém apoio.
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Racismo no Prós & Contras



Ontem o programa foi muito bom, e aconselho a que seja visto, apesar de a Fátima Campos Ferreira ter demonstrado, uma vez mais, como é ignorante - realidade bem visível no espanto que demonstrou perante factos mais do que conhecidos. Insuportável, quase difícil de crer!

Uma pérola para abrir o apetite:

Fátima Campos Ferreira: «Mamadou, sabe dizer-me algum país europeu onde haja menos manifestações de racismo que em Portugal?»
Mamadou Ba: «Recuso-me a fazer concursos de burrice.»
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Portugal como modelo para a Fosun



«A Fosun entrou em força em Portugal nos últimos anos. E foi crescendo a sua influência no país. A empresa, que em Portugal detém a Fidelidade, a Espírito Santo Saúde e parte do capital do BCP, foi sempre muito ligada à figura do seu líder, Guo Guangchang, que se tornou um dos mais poderosos empresários chineses. A entrada em Portugal aliou-se, de resto, a uma forte aposta no mercado europeu. A entrada da Fosun no nosso país parece estar a servir para que o grupo chinês esteja aqui a construir um laboratório para a sua actuação noutros mercados. É o que se depreende das declarações há dias do seu fundador e presidente ao diário South China Morning Post de Hong Kong. Segundo ele, o grupo Fosun irá utilizar os países de língua portuguesa para testar um modelo de negócio combinando cuidados de saúde com serviços financeiros, na sequência das aquisições efectuadas em Portugal.

Recorde-se que as compras do grupo em Portugal se iniciaram em 2014 com a compra por 1,04 mil milhões de euros da Fidelidade, a maior companhia de seguros do país, seguida nesse mesmo ano pela compra da Espírito Santo Saúde e que culminaram com um investimento de 174,6 milhões de euros em Novembro de 2016 na compra de uma participação do Banco Comercial Português. "A primeira compra foi um mero acaso, tendo a Fidelidade sido identificada pelo departamento de busca de possíveis investimentos", disse Guo Guangchang ao SCMP, para acrescentar que a partir desse momento "decidimos delinear uma estratégia no sentido de verticalizar as operações em Portugal." Guo adiantou que controlar uma companhia de seguros, um banco e um hospital permite ao grupo criar o que designou por um "ecossistema de negócios inter-relacionados que criam sinergias mútuas." Mais: "Os segurados da Fidelidade podem receber cuidados médicos na Santo Saúde (actualmente Luz Saúde), enquanto o BCP pode fornecer serviços de financiamento pelo que estas unidades de negócio podem enviar clientes de umas para as outras e crescer de uma forma conjunta", disse Guo ao SCMP. O grupo Fosun pretende agora reproduzir o modelo de negócio criado em Portugal nos países de língua portuguesa, incluindo Brasil, Moçambique e Angola em África, Timor-Leste na Ásia, bem como em Macau.»

17.7.17

Casas «deles» (9)



Pedro, O Grande, Peterhof (Jardim de Pedro). Peterhof (a 30 KM de S. Petersburgo), Rússia (2012).

Na primeira metade do século XVIII, a cidade de S. Petersburgo viu-se rodeada de palácios e parques sumptuosos, onde os czares e os seus próximos passavam os meses de Verão. O mais célebre é sem dúvida Peterhof, um extraordinário conjunto de edifícios e de jardins, mandado construir por Pedro, o Grande (entre 1714 e 1725). Inspirado em Versailles, embora mais pequeno, mas com fontes e cascatas em maior número e mais espectaculares – o seu verdadeiro cartão-de-visita. Um canal liga o Grande Palácio ao Mar Báltico, mais concretamente ao Golfo da Finlândia. Os jardins são lindíssimos. (É proibido tirar fotografias no interior do Palácio…)


E o racismo pula e avança


(Da capa do «i» de hoje)

O candidato a Loures pelo PSD, com o apoio do CDS, diz que “os ciganos vivem quase exclusivamente de subsídios do Estado” e critica a “impunidade” cigana e José Pinto Coelho, do PNR, aplaude: «Infelizmente, ao que parece, alguns dos 'meus' ainda andam pelos partidos do sistema».

Como era óbvio que iria acontecer! 
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Da ilha de Gorée à esquadra de Alfragide: a identidade calada dos portugueses



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Daniel Oliveira no Expresso diário de 17.07.2017.
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Há 81 anos, a Guerra Civil Espanhola






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Dica (588)



Venezuela: um barril de pólvora (Edgardo Lander e Santiago Arconada) 

«A recente convocação de Nicolás Maduro de uma Assembleia Constituinte é uma arriscada resposta governamental à última escalada da crise política, económica e social, num contexto de esgotamento de um modelo rentista e de uma gestão caótica do Estado.» 
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O futuro do trabalho e desigualdade



«A ansiedade acerca dos efeitos adversos da evolução tecnológica no emprego tem uma longa tradição histórica. Em 1811 um grupo de artesãos têxteis ingleses, autodenominados de “Luditas” (derivado do nome do tecelão de Leicester, Ned Ludd, que após ser condenado a chicotadas sob alegação de não demonstrar empenho no seu trabalho de tecelagem, desfez com um martelo a máquina em que trabalhava) destruiram máquinas de tecelagem como forma de protesto. Os Luditas temiam que o tempo gasto na aprendizagem do seu ofício fosse desperdiçado porque as máquinas substituiriam o seu trabalho na indústria. Em 1930, John Maynard Keynes propôs o termo “desemprego tecnológico” para denominar as perdas de emprego associadas à mecanização da agricultura, indústria mineira e manufatureira. Mais tarde, em 1964, o presidente Johnson dos EUA nomeou uma comissão para identificar e avaliar os impactos futuros na economia e no emprego do progresso tecnológico a ocorrer na década seguinte.

Mais recentemente, o forte e rápido avanço da tecnologia, nomeadamente associado a uma progressiva digitalização dos processos produtivos e ao uso intensivo da robotização e a inteligência artificial, trouxe novamente ao debate o impacto deste progresso não só sobre o emprego, mas sobretudo sobre a desigualdade na distribuição de rendimento e riqueza. A obra de Erik Brynjolfsson e Andrew McAfee, publicada em 2014, The second machine age, é um bom exemplo da discussão atualmente em curso.

Não há dúvida que uma parte substancial das tarefas produtivas, da indústria ou serviços, poderá vir a ser automatizada, sendo este um processo que tem avançado a um ritmo sem precedentes. Não há dúvidas que os automóveis sem condutor serão uma realidade a médio prazo, ou que teremos supermercados vazios de empregados, onde apenas encontraremos clientes. No entanto, o impacto da tecnologia no mercado de trabalho depende do tipo de tarefas que aquela irá substituir ou complementar. Na primeira revolução industrial, a tecnologia substituiu o trabalho de artesãos (qualificados), em favor do trabalho manual (não qualificados). A “revolução” em curso altera quer a execução de tarefas manuais, quer cognitivas. Em ambos os casos, espera-se um maior impacto nas tarefas que obedecem a uma rotina, tarefas cujos procedimentos possam ser codificados, passíveis de serem programados através de um computador. No caso das tarefas não rotineiras, assentes em conhecimento tácito, intuitivo e relacional, dificilmente programável, a tecnologia poderá ser um complemento útil, aumentado a produtividade dos trabalhadores. Deste processo resultam ganhos acentuados, e crescentes, para as tarefas cognitivas que incidem em componentes analíticas e interpessoais, em contraponto às perdas de emprego associado a tarefas rotineiras.


16.7.17

Casas «deles» (8)



Antoni Gaudí, Parque Guell, Barcelona, Espanha (2013).

AG viveu numa casa do Parque de 1906 a 1925, até poucos meses antes de morrer, altura em que passou a residir na oficina da Catedral da Sagrada Família. A 1º fotografia do comentário mostra a torre dessa casa (agora museu) que não me foi possível visitar por dentro quando lá estive. Mas há muito para ver no Parque, sendo uma das suas características a mistura de texturas e cores de diferentes materiais utilizados na construção.

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Seria assim



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Manifestações com blindados



Há 42 anos, os roubos de armas já existiam mas eram histórias de outras carochinhas, secretários de Estado a ver futebóis à borla era coisa que não incomodava ninguém e o dr. Gentil Martins já dizia alarvidades como sempre disse.

O IV Governo Provisório, chefiado por Vasco Gonçalves, vivia na maior das efervescências o seu último mês, o PS já o abandonara há cinco dias e o PPD fez o mesmo precisamente na madrugada de 16 de Julho. Seguiram-se, no mesmo dia, João Cravinho e Jorge Sampaio, então independentes, que justificaram a decisão num longo documento de 14 páginas, em que concluíam que «a crise geral do sistema» resulta «de a burguesia se mostrar já incapaz de governar e de o proletariado não ser ainda capaz de o fazer».

Mas o que marcou essa data, sobretudo para quem a viveu, foi uma «manifestação unitária pelo poder popular», que desfilou pelas ruas de Lisboa para exigir a «dissolução da Constituinte», «controlo operário», a queda do Governo Provisório e a instalação de um Governo Popular. Convocada pelas comissões de trabalhadores e de moradores, contou com a adesão da UDP, CMLP, CRTSM, MES, ORPC (m-l), PRP-BR e AEPPA (Associação de Ex-Presos Políticos Antifascistas). Nada de especialmente novo para os tempos que iam correndo, não fosse o facto de, pela primeira vez, terem participado centenas de militares fardados e com blindados, Dinis de Almeida incluído.

Noticiava o Diário de Lisboa do dia seguinte: «O traço dominante da manifestação de ontem foi a fusão, no mesmo corpo popular, de trabalhadores e soldados que durante larga parte do percurso ocuparam conjuntamente os veículos militares armados, numa demonstração pública sem precedentes do reforço da linha revolucionária no Exército e da compreensão da sua cada vez maior evolução para uma forma de braço armado do povo.»

O resto do Verão não arrefeceu e acabou como é sabido. 
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Eu ainda sou do tempo desta Altice


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Quem tem medo dos números?



«O modo mais simples de compreender a institucionalização do racismo é através do que Luh Souza e Francisco Antero, activistas brasileiros, designaram como “Teste do Pescoço”: espreita-se pela porta do hospital e calculam-se os médicos negros; estica-se o pescoço na joelharia e procuram-se empregados de balcão negros; coloca-se o pescoço numa reunião partidária e contam-se os negros em posições de destaque; ou vê-se quantos são docentes numa universidade reputada. Sendo este teste suficiente para mostrar que o racismo não pode ser reduzido ao preconceito ou a casos isolados, tal parece não surtir tanto efeito a nível político e institucional.

Quando foi divulgado o relatório da Comissão para a Eliminação da Discriminação Racial das Nações Unidas sobre Portugal, em Dezembro de 2016, ficou mais uma vez evidente que existe uma recusa tácita do Estado português em tomar medidas eficazes para avaliar (e combater) a discriminação étnico-racial; em particular, a não publicação de dados para efeitos de monitorização das desigualdades. A publicação destes dados tem sido realizada em diversas sociedades em âmbitos como a educação, o emprego, a habitação, a justiça e a saúde, de modo a examinar a extensão do racismo e a sua evolução no tempo em função de políticas públicas concretas. A recusa do Estado português nesta matéria foi denunciada repetidamente na última década e meia pela Comissão Europeia Contra o Racismo e a Intolerância e pela Agência dos Direitos Fundamentais da União Europeia — com indicações precisas de como proceder a essa recolha respeitando a legislação em vigor.

Quando confrontado com a sua inoperância nesta matéria, a resposta do Estado português — na figura do Alto Comissariado para as Migrações — foi, mais uma vez, lacónica: a recolha de dados “colide com a Constituição” e “viola” a legislação de protecção de dados pessoais. Em primeiro lugar, o que está em causa são dados recolhidos de forma informada e voluntária e respeitando o princípio da auto-identificação. Tal não vai contra o princípio da igualdade consagrado na Constituição da República nem contra a legislação sobre a protecção de dados pessoais em vigor (Lei 67/98) — que permite a recolha de “dados sensíveis”, desde que “com garantias de não discriminação”. A lei considera também que a recolha destes dados se justifica em situações de interesse público, devendo ser consentida pelo titular e os dados anonimizados.

Em segundo lugar, e apesar do que se alega, esta recolha tem sido feita em Portugal. Terá o Alto Comissariado esquecido que a confissão religiosa é um dado “sensível” recolhido nos censos nacionais desde 1981? E que, na educação, dados estatísticos desagregados por “grupo cultural” (concebidos como indicadores étnico-raciais) foram recolhidos pelo respectivo Ministério entre 1991 e 2000, e publicados pelo Secretariado Coordenador dos Programas de Educação Multicultural (o Entreculturas)? Tais dados foram mostrando a existência de taxas de aproveitamento escolar desiguais, sem que se tenham desenvolvido iniciativas públicas dirigidas a esta questão que não as formas costumeiras de multiculturalismo festivaleiro no salão polivalente. A recolha de dados pelo Ministério da Educação continuou entre 2001 a 2004, até o PCP intervir após tomar conhecimento sobre como se inquiria essa informação aos encarregados de educação (por exemplo, não se podia ser cigano e português). Foi interrompida a recolha — ou não?