19.8.17

Ironia belga


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Dica (612)



The World According to Bannon (Alexander Livingston) 

«Steve Bannon’s vision of civilizational crisis and violent renewal has deep roots in the American political tradition.» 
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Gracía Lorca morreu num 18 ou 19 de Agosto



Federico García Lorca conta-se entre as primeiras vítimas da Guerra Civil Espanhola. Foi fuzilado, com apenas 38 anos, em Agosto de 1936, entre os dias 17 e 19, pelo seu alinhamento político com os Republicanos e por ser declaradamente homossexual.

Todos os anos nesta data, em Viznar, perto de Granada, ciganos cantam, dançam e dizem poesia em honra de Lorca e de cerca de 3.000 fuzilados pelos franquistas, cujas ossadas se encontram por perto. De madrugada, à luz de velas e das estrelas, sem nada programado, sem nenhuma convocação formal.





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Se The Guardian não é ainda um jornal de fake news




«The publisher confirmed on Friday that it had complied with a Chinese request to block more than 300 articles from the China Quarterly, a leading China studies journal, in order “to ensure that other academic and educational materials we publish remain available to researchers and educators” in China.
A list of the blocked articles, published by CUP, shows they focus overwhelmingly on topics China’s one-party state regards as taboo, including the 1989 Tiananmen massacre, Mao Zedong’s catastrophic Cultural Revolution, Hong Kong’s fight for democracy and ethnic tensions in Xinjiang and Tibet.»
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Bem podíamos aprender!


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A justiça em Portugal é “mais dura” para os negros



Joana Gorjão Henriques divulga, no Público de hoje, um longo e muito importante texto sobre discrepâncias entre brancos e negros no exercício da justiça em Portugal. Alguns excertos ajudam a perceber a gravidade do problema.

«Há uma marca no rosto de Diogo do tempo em que ele esteve na prisão. Livre há apenas uns meses, prefere não explicá-la. Com voz pausada, Diogo lembra a vida que o conduziu para trás das grades durante três anos e seis meses, justamente numa altura em que até tinha começado a trabalhar e em que não cometia crimes. Cumpriu a pena praticamente até ao fim, mas saiu do Estabelecimento Prisional de Leiria sem perspectivas. (…)

Sempre viveu com autorização de residência permanente. Quando saiu da cadeia em Setembro, ficou em situação ilegal. O Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) cancelou a sua residência. “Nasci cá. Já cumpri a minha pena, já fiz porcaria, mas já paguei. Estou a trabalhar. Exigem mais porquê? Se não tiver trabalho o que faço?” Tem a sensação de que, ao encurrala-lo assim, o sistema pressiona-o para que vá de novo para a cadeia.

Diogo foi um dos jovens dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) que engrossou as estatísticas prisionais. Um em cada 73 cidadãos dos PALOP com mais de 16 anos em Portugal está preso. É uma proporção dez vezes maior do que a que existe para os cidadãos portugueses — onde um em cada 736 cidadãos na mesma faixa etária está detido. O número sobe para 1 em 48 quando se trata de cabo-verdianos, a comunidade africana mais expressiva em Portugal: ou seja, 15 vezes mais.

Mais um dado: se tivermos apenas em conta os homens, que constituem, na verdade, o grosso da população prisional, concluímos que um em cada 37 cidadãos dos PALOP está preso versus um em cada 367 homens portugueses (e uma em cada 1071 mulheres dos PALOP versus uma em cada 6732 portuguesas). (…)

Estas estatísticas podem ter várias interpretações, e também ser analisadas do ponto de vista racial, já que a maioria da população destes países é negra — por não existirem dados étnico-raciais em Portugal, há sociólogos que usam a variável imigração dos PALOP como método de aproximação à questão racial. Os resultados seriam diferentes — e, acreditam os especialistas contactados pelo PÚBLICO, a desproporção aumentaria — se houvesse dados sobre portugueses negros, que aqui aparecem diluídos no grupo de portugueses. (…)

O procurador Alípio Ribeiro, que já esteve na direcção nacional da Polícia Judiciária, não tem dúvidas: as taxas de encarceramento apuradas pelo PÚBLICO mostram uma “diferença abismal” entre presos dos PALOP e portugueses. E confirmam uma intuição que tinha, a de que “há uma justiça para portugueses e uma justiça para estrangeiros, uma justiça para brancos e uma justiça para negros”.

O procurador, também inspector, defende que “não se pode tirar destes números a conclusão de que os PALOP são mais criminosos”. Pelo contrário: “O que posso dizer é que o sistema permite isto. Parece-me que há uma pro-actividade em relação a estes indivíduos.”

A discriminação racial na justiça traduz-se em outros aspectos, afirma. A sua percepção é a de que “é preciso menos provas para incriminar um negro”. Porque “há uma desconfiança inicial em relação ao negro que não há em relação ao branco”. Em geral, afirma, a justiça é “mais dura em relação aos negros”. (…)

As discrepâncias também se encontram nas condenações pelos mesmos tipos de crimes, com clara desvantagem para africanos. As proporções são estas: há nove vezes mais condenados dos PALOP por roubo e violência do que portugueses; oito vezes mais por resistência e coacção sobre funcionário; seis vezes mais por desobediência. Estes dois últimos crimes implicam interacção com a polícia. “Aqui o anacronismo ainda é mais visível”, continua Alípio Ribeiro. (…)

Manuel, nome fictício, não tem dúvidas. Depois de cumprir a sua pena, sabe que “a população” da sua cor “está em massa nas prisões”.

Com quase 40 anos, e a viver em Portugal há 17, na linha de Sintra, é um angolano pai de uma filha de sete anos, portuguesa. Foi Manuel quem se entregou à polícia por crimes de burla e falsificação. Mas acredita que o facto de ser negro influenciou o seu percurso: não contou com atenuante na pena aplicada, de seis anos e sete meses, cumpriu-a praticamente até ao fim e sem conseguir gozar de qualquer precária, mesmo tendo sido um “recluso exemplar”.

“Encontramos o racismo mais puro dentro do sistema prisional”, afirma. “Pedi uma saída. Sendo recluso primário, com um quarto da pena cumprida, por ser desta cor não me deram.”

Quando entram na prisão, os reclusos estrangeiros perdem a autorização de residência e não a conseguem renovar. “O juiz dizia que não me dava a precária porque os meus documentos estão caducados. Se quem me privou da liberdade foi a justiça, a justiça é que tem que ver se eu estou preparado para a precária, não é o SEF. Onde é que estão os direitos humanos?”

Apesar da recomendação da ONU para que o faça, e de insistência de associações de afrodescendentes, em Portugal não há recolha oficial de dados étnico-raciais, por isso alguns cientistas sociais usam dados das populações PALOP. É uma limitação, até pela associação que assim se cria entre negros e imigrantes, mas também uma forma de aproximação. O retrato da desigualdade racial só seria feito se a estes dados conseguíssemos acrescentar os portugueses negros.»
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18.8.17

Dica (611)



Independentes de modo vário (José Manuel Pureza) 

«Um independente não é por definição mais fiel à satisfação dos interesses da população do que um militante partidário. E não, uma candidatura independente não é por definição mais democraticamente pura do que uma lista partidária. (…)
A linha de diferenciação na democracia local não é entre partidos e independentes, é entre quem alarga a democracia e quem perpetua a deformação da prática da democracia tomando-a como jogo de elites e de iluminados. Ora, tanto nos partidos como fora deles há gente que está de um lado e gente que está do outro desta diferenciação.» 
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Ramblas



«La única calle de la tierra que yo desearía que no acabara nunca, rica en sonidos, abundante en brisas, hermosa de encuentros, antigua de sangre, es la Rambla de Barcelona.»

Federico García Lorca
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18.08.1975 – Vasco Gonçalves em Almada



Eu já publique mais de uma versão deste texto, mas regresso ao mesmo, já que foi um marco que os mais novos nunca entenderão, mas que aqueles que viram e/ou ouviram nunca vão esquecer.

Há 42 anos, Vasco Gonçalves fez em Almada, com 15.000 pessoas presentes, um discurso que durou uma hora e meia e que foi transmitido em directo pela RTP (texto, na íntegra, aqui) e que seria o princípio do fim de muitas coisas e o ponto de partida inevitável para muitas outras. Um discurso dramático que acabou com Vasco Gonçalves lavado em lágrimas.

Uma curtíssima amostra:



Dramática foi também a carta que Otelo lhe escreveu 24 horas depois: «Percorremos juntos e com muita amizade um curto-longo caminho da nossa História. Agora companheiro, separamo-nos. Julgo estar dentro da realidade correcta deste País ao assim proceder. (...) Peço-lhe que descanse, repouse, serene, medite e leia. Bem necessita de um repouso muito prolongado e bem merecido pelo que esta maratona da Revolução de si exigiu até hoje. Pelo seu patriotismo, a sua abnegação, o seu espírito de sacrifício e de revolucionário.»

O V Governo Provisório, que tomara posse dez dias antes, tinha as semanas contadas e não houve muralha de aço que lhe valesse. A 19 de Setembro, Pinheiro de Azevedo assumiria as rédeas do VI. O 25 de Novembro estava à vista. 
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Make Mein Kampf great again



«A cidade norte-americana de Charlottesville foi palco de graves confrontos durante uma manifestação de nazis americanos e uma contramanifestação de pessoas. O resultado final do confronto foi um morto por atropelamento, por um adepto do Alt-right, e vários feridos.

As manifestações foram convocadas depois de uma estátua do general sulista da Guerra da Secessão dos EUA e defensor da escravatura, Robert E. Lee, ter sido removida da cidade. Deviam ter-lhes dito: calma, vamos levar a do general Lee, mas vamos pôr uma do Adolfo. Os EUA são tão grandes que a diferença horária faz com que exista gente a viver no século XIX.

Em relação à retirada da estátua, porque o general era a favor da escravatura, podemos discutir o politicamente correcto, e a "humanidade" dos nossos dias, "versus" a questão histórica e temporal. É um bocado como o Nobel da Medicina para o Egas Moniz. Rebentava-lhes com o cérebro, fazia as pessoas patetinhas, mas achava que pelo menos deixavam de estar tão excitadas. Há coisas, por mais incríveis que sejam, que podem parecer fazer algum sentido na época em que aconteceram. O problema é quando querem fazer dessas estapafúrdias ideias de ontem novas ideias de hoje.

Nazismo não é o mesmo que revivalismo da música dos anos 80. Dançar a fingir que se está a fazer um solo numa guitarra eléctrica imaginária não é o equivalente a fazer a saudação nazi.

Não há espaço para os saudosistas do holocausto. O mundo viu morrer milhões de pessoas e escreveu o pior capítulo da História do homem, mas há quem ache que, apesar disso, deve haver espaço para eles. É como se os ratos que trouxeram a peste negra, no século XV, fizessem uma parada a atravessar a cidade a andar numa roda.

Queria ver o que aconteceria se houvesse uma manifestação dos apoiantes do ISIS com bandeiras, catanas, explosivos à cintura e muitos gritos de morte aos infiéis.

Nos EUA - o cemitério dos militares americanos -, apesar de todas as guerras em que estiveram envolvidos, é maioritariamente preenchido por soldados que morreram a combater o nazismo. Faz falta um "walking dead" para correr outra vez com esta gente saudosista do Adolfo.

Imaginemos os EUA durante a II Guerra com um Presidente como Trump, o cabelo ajuda. De que lado estaria o Presidente dos Estados Unidos? Pois. A resposta é assustadora, nem que seja pelo intervalo de tempo que precisamos para decidir.»

João Quadros
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Nero e os tambores da guerra



«Donald Trump começa a parecer-se demasiado com o Nero dos tempos modernos. Tornou a Casa Branca a sede do seu império empresarial, mas o caos da sua administração ameaça fazer implodir as bases do sistema democrático americano.

E esta confusão constante tanto pode ser uma estratégia pensada como um desvario completo. Ninguém sabe. Fustigado pelo "establishment", Trump refugia-se nos que o elegeram no interior dos EUA. Contra as ameaças internas, fala de "fogo e fúria" atiçados na direcção da Coreia do Norte. São tambores da guerra a ecoar, para distrair os americanos dos problemas que não consegue resolver no seu território. Seneca, o conselheiro de Nero depois de este ter conseguido matar a sua mãe, Agripina, dizia que nenhum Estado pode ser tão mau que possa evitar que algum homem o sirva de alguma maneira. Seneca sonhava influenciar o poder, algo que os filósofos gostam de vislumbrar. Era um mestre da retórica e um dramaturgo. Foi ele que defendeu, numa empolgante carta ao Senado, que Agripina se tinha suicidado após ter tentado em vão fazer um golpe de Estado contra Nero. Este agradeceu-lhe na altura, mas não evitou que mais tarde, se tivesse suicidado após Nero o considerar o arquitecto de um golpe contra o seu poder. Que era então magnífico, entre festas e construções que empolgavam o povo. Tudo acabou com o incêndio que devastou Roma.

Trump, como Nero que insultava as elites romanas, utilizando a calúnia. Táctica antiga, a que hoje se chama "verdade alternativa". A pós-verdade do tempo de Trump é herdeira da de Nero: as fábulas confundem-se com a realidade. Mas o problema é que esta história começa a ter todas as condições para correr mal, como escrevia há poucos dias Gideon Rachman no Financial Times, que descrevia a hipótese de Trump embarcar para um conflito internacional para tornar as suas dificuldades internas. E citava um assessor de Trump, Sebastian Gorka, que disse à Fox News: "Durante a crise de mísseis em Cuba ficamos atrás de John F. Kennedy. Há analogias com essa crise. Precisamos de estar juntos." E, com uma guerra, os EUA poderão ficar atrás de Trump. A Coreia do Norte é problemática, e os generais que estão à volta de Trump sabem isso: um ataque contra Kim Jong-un poderia levar ao desaparecimento de Seul, porque seria impossível parar toda a artilharia norte-coreana. A Venezuela seria um alvo mais fácil. Ou o Irão, nunca se sabe.

Trump representa o triunfo do ressentimento sobre a esperança. Muitos americanos buscam algo que possam culpar pela sua crise: os mexicanos, a China, a União Europeia. Tudo serve para disfarçar os problemas estruturais com que os EUA se debatem hoje. Trump simboliza essas vozes. O seu discurso não vende em Nova Iorque, mas é comprado na Louisiana ou no Dakota. E é tudo isto que nos faz lembrar a República de Weimar nos anos 30. Os alemães não percebiam porque estavam pobres e eram humilhados. Antes da I Guerra Mundial eram o centro da inovação. Hitler aconchegou os seus medos. E o "establishment" convidou-o para o poder em 1933. Só saiu de lá à força.»

Outra «Grande Capa»


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17.8.17

Joan Baez, uma vez mais


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Barcelona



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O discurso pimba



«Alguns têm um enorme desgosto que Constança Urbano de Sousa não seja a agente Atomic Blonde do Governo. Lamentavelmente, Constança não tem perfil nem genica para isso e funciona mais como uma dupla de ministra.

Nada que admire neste país que caminha a passos rápidos para a desertificação da sua fauna e flora. A cultura política está agora ao nível da aquacultura: desenvolve-se em cativeiro. E assim não surpreende a vertiginosa descida aos infernos da política nacional. Não é preciso falar daquele fantasma que o PSD despejou em Loures e que só causa calafrios porque um partido sério incorporou no seu discurso uma deriva populista enervante. Mas como os dislates se tornaram um dever, a acreditar nos principais partidos nacionais, lê-se o que diz a cantora Ágata, candidata independente apoiada pelo CDS à Câmara de Castanheira de Pêra, e percebe-se o abismo para onde caminhamos. Ágata é clara como uma canção pimba: "Para mim a política é zero, não existe." Melhor: "Não sigo a carreira de Assunção Cristas como política nem ouço os seus discursos." Talvez assim se compreenda melhor a sua participação numa lista de um partido político. Ou a razão por que o CDS a convidou. A política chegou ao seu grau zero. Pior é quando dirigentes com mais responsabilidades como Pedro Passos Coelho vêm invocar uma qualquer solenidade patriótica para incendiar a planície. Mostrando-se desejoso de incorporar no seu ADN político a destilaria ideológica do seu candidato a Loures, Passos veio dizer no Pontal uma coisa inimaginável: "O que é que vai acontecer ao país seguro que temos sido se esta nova forma de ver a possibilidade de qualquer um residir em Portugal se mantiver?" Além de ter lido só o que quis na lei, Passos abriu uma caixa de Pandora de onde todos os zombies perigosos podem saltar. Passos empunha o discurso pimba da política: básico, rasteiro e fomentador do deserto. Percebe-se: em momentos de confusão, há líderes que perdem qualquer noção de sensatez. E só se querem salvar.» 

Da série: «Grandes Capas»


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Os CEOs americanos que bateram com a porta



Não vi que se tivesse dado muito importância ao tema: como reacção às novas declarações de Donal Trump sobre os acontecimentos de Charlottesville, o presidente «encerrou esta quarta-feira dois órgãos consultivos para assuntos económicos perante a demissão em catadupa de destacados empresários que integravam os conselhos».

Dado o relevo que tinha sido dado ao papel destes Conselhos quando o presidente foi eleito, não é de somenos importância o protesto concertado dos responsáveis de muitas das maiores empresas do país e as declarações com que as justificaram. Talvez acções destas tenham mais peso do que se pensa num país como os Estados Unidos.

A título de exemplo, eis a carta que Ginni Rometty, CEO da IBM, enviou aos empregados daquela Companhia:

Disbanding the U.S. President's Strategy and Policy Forum
Ginni Rometty
Team:

By now, you’ve seen the news that we have disbanded the President’s Strategy and Policy Forum. In the past week, we have seen and heard of public events and statements that run counter to our values as a country and a company. IBM has long said, and more importantly, demonstrated its commitment to a workplace and a society that is open, inclusive and provides opportunity to all. IBM’s commitment to these values remains robust, active and unwavering.

The despicable conduct of hate groups in Charlottesville last weekend, and the violence and death that resulted from it, shows yet again that our nation needs to focus on unity, inclusion, and tolerance. For more than a century and in more than 170 countries, IBM has been committed to these values.

Engagement is part of our history, too. We have worked with every U.S. president since Woodrow Wilson. We are determinedly non-partisan – we maintain no political action committee. And we have always believed that dialogue is critical to progress; that is why I joined the President’s Forum earlier this year.

But this group can no longer serve the purpose for which it was formed. Earlier today I spoke with other members of the Forum and we agreed to disband the group. IBM will continue to work with all parts of the government for policies that support job growth, vocational education and global trade, as well as fair and informed policies on immigration and taxation.

Ginni Rometty's signature
Ginni Rometty
Chairman, President and Chief Executive Officer 
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16.8.17

Dica (610)



No More Charlottesvilles (Keeanga-Yamahtta Taylor) 

«The fight against racism in Charlottesville forced public officials to finally come out and speak against the growth of white supremacy and neo-Nazis. We have to continue to unite the struggle against right-wing racists and stop them before they kill again.» 
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Churchill, Gandhi e a independência da Índia



Eduardo Galeano, Los hijos de los días:

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Joan Baez – ela, ainda ela



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O mundo está mesmo perigoso




«Donald Trump’s press conference was a grotesque display of empathy for violent racists. At least it united the Republicans in disgust at their presidente.»

Vale a pena ler e vários outros textos publicados depois das declarações de Trump, ontem proferidas e que estão AQUI na íntegra.

E deve-se estar também atento ao que se passa deste lado do Atlântico:

Não vou render-me!



«As grandes decepções fazem, muitas vezes, com que os líderes políticos se refugiem em coisas pequenas. É esse o pequeno desafio que Pedro Passos Coelho faz a si próprio, como provou a sua soneca discursiva no Pontal.

Tudo espremido, o líder do PSD continua a choramingar, dois anos depois, por ter sido apeado do poder. Sem o seu alvo favorito (a crise económica) como argumento, torna-se difícil invocar que o diabo está a chegar num avião "low-cost" ao aeroporto da Portela. O crescimento económico e a quebra da taxa de desemprego derretem qualquer momento de exaltação cívica. Por isso as palmas foram de circunstância. Que resta então, neste vazio, a Passos Coelho? Os incêndios, uma declaração de amor à Altice e, com boa vontade, a crítica ao modelo económico de turismo, exportação e baixos salários, que está em vigor, e que, afinal, é semelhante ao que foi cozinhado nos anos em que foi primeiro-ministro. E que, no laboratório da troika, era a solução de futuro para Portugal. O que agora Passos critica é o que, com as suas "reformas", fez. Mas tudo isto é política à nossa maneira.

A parte mais robusta da "stand-up comedy" de Passos no Pontal foi assegurar que em 2018 ali estará novamente para contar umas histórias aos militantes. Isto quer dizer muito simplesmente que, independentemente dos resultados autárquicos, Passos não resignará. Se for desafiado em Congresso, irá à luta. Passos diz, do fundo do coração: nunca me renderei! Passos está convicto de que tem razão e é disso que se forjam os políticos. É certo que os homens de ferro são muitas vezes afectados pela ferrugem, de que normalmente não se dão conta, mas é bom que o líder do PSD seja claro. Os seus inimigos internos, quase todos eles escondidos atrás de cortinas, esperam. Mas o poder não lhes cairá, de mão beijada, nas mãos. A sua declaração é relevante pela carga emocional e política que contém. É uma advertência aos que o podem desafiar, de herdeiros a conspiradores. Pela sua firmeza, há que elogiar Passos Coelho.»

15.8.17

Quando os animais ainda falavam


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Uma data, mil efemérides



É um mar de acontecimentos que teve lugar em 15 de Agosto, desde o (hipotético) primeiro contacto entre europeus e chineses quando sete barcos portugueses chegaram ao delta do Rio das Pérolas à abertura do festival de Woodstock, passando pela independência da Índia, a fundação da ordem dos jesuítas, a inauguração do canal do Panamá e a separação das duas Coreias.

Quem quiser que festeje o que quiser, sem esquecer também que foi nesta data que morreu René Magritte e que assassinaram Macbeth, rei da Escócia. Quanto a nascimentos também não estamos nada mal já que vieram a este mundo, em 15 de Agosto, o nosso queridíssimo Santo António, Napoleão e, num registo mais modesto, Sylvie Vartan e o inesquecível António Silva. E é ele que recordo porque numa comédia vivemos nós e esta vida são dois dias...



Mas temos feriado porque se festeja a assunção de Nossa Senhora que correria hoje o perigo de chocar com uma vaca voadora ou de ser abalroada por um drone não identificado.
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Inevitável



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Dica (609)




«What we must keep in mind is that Charlottesville is a symptom and we must deal with the cause: hate, bias and racism have been empowered and taken from the margins into the mainstream. Now we must come to terms with the fact that the president of the United States has played a role in emboldening these hate groups to come out of the shadows.» 
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Segurança a cheirar a esturro




«Na validação de 2014, por oposição da Comissão Nacional de Proteção de Dados (CNPD), que desta vez não foi ouvida, tinha ficado excluída a "recolha e gravação" de som neste equipamento. O MAI remete para a lei em vigor e tem o aval da Procuradoria-Geral da República (PGR). Garante, no entanto, que no Bairro Alto, apesar de a PSP estar autorizada, as câmaras de vídeo em funcionamento não estão a captar ou a gravar os sons. A decisão para escutar as conversas nas ruas cabe à força de segurança e é validada pela tutela, não havendo intervenção judicial (do Ministério Público ou do tribunal) prévia como é exigido no Código de Processo Penal para as interceções telefónicas, incluindo as escutas ambientais. (…)

A CNPD não quis comentar a posição do governo nem da PGR, remetendo para os seus pareceres publicados anteriormente. No Bairro Alto, a CNPD considera que, dada a estrutura das ruas e o local onde estão fixadas as câmaras, é grande a hipóteses de se captarem conversas no interior de habitações e questiona mesmo a gravação de sons num espaço público de diversão sem a fundamentação do "perigo concreto" exigido por lei.» 
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14.8.17

Make America Great Again?


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Verão de 1967 – A caminho de S. Francisco



Sucedem-se os textos sobre o Verão de 1967, agora que completa 50 anos um marco na vida de toda uma geração que o viveu «na hora» e, por tabela, na de outras que foram herdando farrapos. Foi uma magnífica silly season, mesmo que a expressão ainda não fosse usada, com S. Francisco no centro do mundo e flower power como insígnia de muitas utopias.

O Negócios de hoje inclui um longo texto sobre o tema e utilizarei uma parte do mesmo.

«São Francisco, no Verão de 1967, foi o centro de uma revolução cultural, musical e social, o delicado ponto de equilíbrio que prometia mudar a História. E que, até certo ponto, mudou.»

«Foi o ponto alto da cultura hippie, mas as raízes do movimento estavam muitos anos antes, nos heróis literários da contracultura que ficaram conhecidos como a geração Beat. Desde os anos 40 que Jack Kerouac e os seus comparsas perseguiam uma forma diferente de vida, de viagens à boleia, de música e de libertação dos espartilhos dos costumes da sua geração.»

«O movimento hippie ganha embalagem a partir do final de 1965 e em todo o ano de 1966, numa altura em que o LSD já tinha deixado de ser um passatempo de intelectuais e chegara às ruas. A sua junção com a música rock consolida-se. (…) A imprensa nacional toma bem nota do fenómeno, e todo o país fica a conhecer o universo libertário de São Francisco. Resultado: enquanto os pais lêem horrorizados as notícias, os filhos só pensam em juntar-se à rebelião hippie.

Depois de uma invasão de umas dezenas de milhares de jovens em 1966, com o eco da imprensa, tudo ia subir de dimensão, tendo como lema o oportuno hino "San Francisco (Be sure to wear flowers in your hair)", editado em Maio de 1967. A canção foi um grande sucesso e serviu de convite para o Verão que se seguia.»

«Do outro lado do Atlântico, a cultura hippie também se fazia sentir, fruto do intenso intercâmbio musical entre a Inglaterra e os EUA. Acima de todos estavam, naturalmente, os Beatles. É de 1967 o histórico "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band", álbum conceptual editado em Maio que deixou os músicos rock de todo o mundo a coçar a cabeça e a pensar como seria possível fazer algo tão criativo e ao mesmo tempo acessível (Brian Wilson, dos Beach Boys, foi apenas um deles). Esse disco foi a face mais visível, mas há mais exemplos no Reino Unido. Donovan marcou pontos com o seu "Mellow Yellow", os Moody Blues deram um passo em frente com "Days of Future Passed", e os Cream atacaram com "Disraeli Gears", depois de Jimi Hendrix ter aterrado em Londres e tirado o ceptro a todos os grandes guitarristas locais, de Eric Clapton a Pete Townshend, dos The Who. Num caminho mais próprio houve ainda a estreia em disco dos Pink Floyd, com o psicadelismo tipicamente britânico de "The Piper at the Gates of Dawn".»

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E em Portugal? Também o vivemos, sim, e com um enorme entusiasmo, apesar do cinzentismo salazarista e de todo o atraso. «Vivemos»? Uma minoria urbana, obviamente, mas que viu em tudo o que estava a acontecer uma enorme razão de esperança e de alegria e que cantava e dançava «If you are going to San Francisco» como se estivesse a caminho. E, de certo modo, estava mesmo.


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Dica (608)



A casa dos nazis (Fernanda Câncio) 

«"Nazis go home, there's no place for you here" (Nazis, vão para casa, não há lugar para vocês aqui), disse, no discurso de reação aos acontecimentos, o governador da Virgínia, o democrata Terry McAuliffe.
É onde, "aqui"? Charlottesville? A Virgínia? Mas a Virgínia é na América. Aqueles nazis são americanos - e como o reivindicam. Acham-se mesmo os únicos americanos de pleno direito, os donos da América. E que a Casa Branca é deles.» 
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Racistas unidos



«É possível que Donald Trump não seja racista mas é improvável. Ele certamente conta com os votos de racistas. Nos Estados Unidos da América essas contas estão sempre a ser feitas e a política americana não se compreende sem falar de racismo.

É estranho que Trump não se importe de passar por racista. Mais estranho ainda é que ele se recuse a denunciar os nazis. Denunciar os nazis não prova que não se é racista. Apenas prova que se é contra os nazis. Estes podem chamar-se alt right ou suprematistas brancos ou neo-nazis.

Mas o que é que têm de neo? Nada. São nazis e os nazis são sempre, por definição, racistas. Aliás a ideologia do nazismo é notoriamente pobre por ser, para todos os efeitos, 100 por cento racismo.

Sabe-se o que aconteceu com o nazismo. Matou muitos milhões. É por isso que é preciso denunciá-lo, para não encorajá-lo. O racismo é sempre perigosíssimo porque simplifica todo o pensamento. É uma preguiça altamente contagiosa. É o contrário de avaliar cada ideia e cada pessoa uma a uma, conforme os casos e conforme as alturas, os comportamentos e as informações disponíveis.

Se calhar Trump, como pato bravo que é, só vê números. Os números dele dependem de pessoas racistas de raça branca, desde os paternalistas aos nazis, passando por todas as graduações e por todas as subtilezas que o racismo tem. Quanto menos óbvio o racismo mais ele tem de ser pensado.

É banal tentar esconder o racismo através da denúncia dos nazis, os mais racistas de todos. Nem isso Trump fez.»

Com dedicatória



… a um sujeito qualquer que ontem discursou no Pontal. 
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13.8.17

Violência? Que violência?



Whose Violence?

«In the US and around the world today, political violence is the hallmark of the Right, not the Left.»
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Ágata ao poder, já!




«Queridos amigos (as), não sou de politiquices, o meu partido é o bem-estar de todo o ser humano, é o Amor e tudo quanto se pode dar para conforto de muitas famílias. Fui convidada a fazer parte de uma lista independente para vice-presidente à Câmara de Castanheira de Pêra.»

Ah! Mas tão independente que ela é!


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Televisões pirómanas



A ERC (ou outra qualquer instituição) nada tem a dizer, com urgência, sobre o estímulo para pirómanos, que as TVs estão a fornecer ao exibirem belíssimas imagens de incêndios durante dezenas de horas diárias??? 
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Charlottesville


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À Ghandi e à francesa



«Há uma nova moda: gente rica que se torna budista. Torna é exagero. Ricos que praticam budismo. Quando não tens tempo para te preocupares com contas para pagar sobra tanto tempo. Na verdade, como já tens tudo, o rico é o único que está em condições de saber o que é prescindir de tudo, mesmo sendo por umas horas. O nirvana está nas mãos dos banqueiros. É mais fácil um rico alcançar o nirvana do que um “camelo” que tem de que pagar a renda da casa. (…)

Outra das modas, de quem tem tempo, é o ioga. Eu conheço quem vá fazer ioga na Fontes Pereira de Melo às 6 horas da tarde. Não fazia melhor, em termos de nervos, ficar em casa? Já ouvi "fo**-se , fui ao raio da minha sessão de ioga e tive uma porra de merda de meia hora para arrumar o carro. Até vim cá fora fumar". Ou "que stress, não sei que meias pôr para a minha aula de ioga". Há aqui qualquer coisa que não faz sentido.

Confesso que já fui a um retiro de ioga à procura de mim mesmo e acabei por me perder na estrada para lá. (…)

Assisti a umas aulas de karma, asana, yoganidra, pranayama, topless, mas ninguém me convidou para dançar e fui-me embora. Prefiro capoeira. Cheguei à conclusão que um retiro de ioga é um bom sítio para uma pessoa se abrigar se estiver a chover, e pouco mais. Para desanuviar da meditação da concentração de ioga, tive de ir a uma grande concentração motard. Correu muito melhor, havia comida com muita gordura por todo o lado e andei à pancada com uma senhora de barbas.

Já fui acusado de escrever crónicas contra a religião católica. É falso. E se o fiz foi só porque eles estão mais presentes. Eu sou contra as religiões em geral. Não me levem a mal mas eu quando morrer, quero morrer mesmo. Não me venham despertar para cenas que vocês apreciam. Eu até quero ser cremado e espalhado pelo Chiado para que não passe pela cabeça a deuses que ainda podem aproveitar alguma coisa minha para a eternidade.

Se pudessem não me chatear depois de morto, agradecia, já chega o que me fizeram passar em vida. Eu percebo que haja quem precise de guias espirituais, mas eu fico satisfeito se souber onde há bons caracóis.

No fundo, ricos a fazer de budistas, atenção aos espíritos criativos mais sensíveis porque vem lá trocadilho, é uma espécie de à Ghandi e à francesa — chupa, António Sala.»