16.9.17

Um banco na cidade


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Dica (628)



Dos dois arcos e da luta contra ambos (José Manuel Pureza) 

«Desafiar a direita para um consenso sobre as grandes obras a fazer em Portugal depois de 2020 foi um gesto simbólico de António Costa para disputar eleitorado ao centro. Sucede que, no plano simbólico, a abertura do Governo a um consenso com a direita sinaliza uma vontade. E essa vontade aparece no mesmo momento em que o Governo desvaloriza as negociações à esquerda sobre o orçamento, anunciando orientações (como a da dilação temporal do descongelamento das carreiras ou a da miniaturização do novo escalonamento do IRS) que sabe que ferem o acordo com as esquerdas.»
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A Europa precisa de um Plano B



Marisa Matias no Expresso de 16.09.2017:



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Mélenchon no 1º lugar do pódio da esquerda



Gostaram muito de monsieur Macron que não era nem de esquerda, nem de direita, e que arrasou, não foi? Félicitations!


«Qui incarne le mieux l'avenir de la gauche ? Le leader de la France insoumise domine les réponses. Il est cité par 34% des Français interrogés, ce qui le place sur la première marche du podium.»
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A imbecilidade da praxe e necessidade de quarentena dos seus praticantes



José Pacheco Pereira no Público de hoje:

«“O caloiro é incondicionalmente servil, obediente e resignado”; “não é um ser racional”; “não goza de qualquer direito”. Manual de Sobrevivência do Caloiro Os artigos escritos com fúria são os mais fáceis de fazer. Este foi feito em péssimas condições, começou a ser escrito num restaurante num IPad, continuou numa sala de espera de uma estação de televisão e por fim numa viagem de carro, e acabou num café a 500 quilómetros do sítio original. Foi escrito em emails dirigidos a mim próprio, e não num processador de texto. Várias vezes tive de o enviar com medo de o perder. Mas, mesmo com todas as dificuldades de sítio, movimento, ruído e agitação, a fúria manteve-o vivo. Espero que os meus amigos revisores do PÚBLICO tenham em consideração este caos e me perdoem as gralhas, erros e mau estilo. Também não tenho contadores de palavras e caracteres, pelo que espero que não esteja nem pequeno, nem grande.

Aqui vai pois a fúria.

Há momentos em que se percebe muito bem por que razão este país não anda para a frente e um desses momentos é quando se traz para as ruas o espectáculo da praxe. As universidades, salvo raras e honrosas excepções, não a proíbem dentro das suas instalações, e, quando a escorraçam para os espaços públicos, as autarquias deviam tratá-las como um problema de saúde pública que exige uma forma qualquer de quarentena. Não o fazem. É por isso que não andamos para a frente.

As autarquias permitem que milhares de cidadãos sejam insultados pelo espectáculo da imbecilidade colectiva que se passa nos jardins e nas ruas. Aliás, o que se passa não é diferente do pastoreio das claques de futebol pela polícia de choque, em que um exército excitado e violento ameaça entrar em guerra com o exército do lado. Os espaços públicos pertencem ao público, a todos nós, não podem ser apropriados por actividades violentas e as praxes são um espectáculo de violência da estupidez. E a estupidez até pode matar, mas, mesmo que não mate, magoa a cabeça, o pensamento, a razão, a decência e boa educação. É por isso que não andamos para a frente.

Em muitos sítios não se pode fumar, ter atitudes “indecentes”, provocar os outros passeantes, mas, se forem os meninos e meninas da praxe, está tudo bem.

Mas não está. Se se quer permitir as praxes — o que para mim está bem fora das escolas e das ruas —, ao menos que se proceda com medidas de sanidade pública, como seja atribuir-lhes uns locais vedados, cercados por altos muros, os curros das praças de touros, ou os lotes vazios da selva urbana, os sítios poluídos onde ninguém quer ir, os matadouros abandonados, as fábricas em ruínas, aqueles cenários dos filmes de terror. Aí, se quiserem, podem dedicar-se a rastejar pelo chão, a lamber coisas inomináveis, a fazerem genuflexões “servis” como mandam os manuais da praxe. É por isso que não andamos para a frente.

Quem tem também muitas responsabilidades são os paizinhos e as mãezinhas dos dois lados da praxe, os que mandam e os seus servos, certamente também porque muitos deles andaram já nessas andanças e pelos vistos gostaram. Claro, quando as coisas correm mal, e já correram muito mal, então protestam, mas já é tarde de mais. Eu sei bem que muitos dos praxados e praxantes já são jovens adultos, sem estarem sujeitos à autoridade paternal, mas presumo que continuam a viver com as mamãs, e à custa dos progenitores, pelo que leverage existe — mas, como tudo neste infeliz país destes dias, não é exercido. Não é exercido pelas autoridades académicas que, quando muito, olham para o lado para não verem o nojo de tão baixa função em tão alta universitas, cheia de dignidade latina e de indignidade humana. É por isso que não andamos para a frente.

Não há nada de bom nas praxes, por muito que haja uma escola de sociólogos e antropólogos que aceitam sempre justificar tudo com o fabuloso argumento dos ritos de passagem e da “integração”. Mas, em bom rigor, o que é que distingue estas exibições de autoridade do segundo ano sobre os caloiros do consentimento social da violência doméstica? E afirmam que estas brincadeiras imbecis ajudam os meninos e meninas a “integrarem-se” nas universidades. Estou mesmo a ver os praxados a correrem para os livros no dia seguinte ao fim das semanas da praxe, já muito “integrados” em todas as virtudes dos altos estudos. É por isso que não andamos para a frente.

Tenho muita honra em ter toda a vida combatido estas imbecilidades socialmente perigosas, algumas vezes de forma, digamos, mais consequente. Não conto desistir e talvez assim assegure um lugar no paraíso e possa ver, da minha branca nuvem, as actividades dos diabos. Porque de uma coisa eu tenho a certeza — para entrar no Inferno há praxes, para “integrar” os malditos no exercício da autoridade diabólica, humilhando-os fazendo-os rebolar na lama sulfurosa do Inferno. Boa praxe!» 
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15.9.17

PSD Lisboa – E o ridículo não mata



É uma «Gaiola Aberta», mas não teria lugar na do José Vilhena. 
Só na de Passos Coelho. 
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Dica (627)



Justice Deferred (Entrevista a César Cuauhtémoc García Hernández) 

«DACA only exists because young activists fought fearlessly for it. Its end would be a blow to the movement for immigration justice.» 
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E já lá vão cinco anos



O povo está agora sereno. 
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Praxar a praxe



«"O caloiro é incondicionalmente servil, obediente e resignado"; "não é um ser racional"; "não goza de qualquer direito". As citações são retiradas de um "Manual de Sobrevivência do Caloiro" que está a ser distribuído, nos últimos dias, por alunos mais velhos aos novos estudantes da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP).

Todos os anos estamos nisto, na maldita praxe. Ainda não tenho filhos na universidade mas espero que, até lá, acabem com a desgraça deste "bullying" encartado. Mas, como já fazem praxe nas escolas secundárias, não sei se ainda vão a tempo - "Ai, Quadros, mas não queres que os teus filhos conheçam as praxes?" Vamos lá ver. Não quero que exista praxe, como não quero que exista a doença dos pezinhos ou o roubo por esticão. Nenhum pai quer que o filho experimente a doença dos pezinhos durante um mês. E deixo aqui o meu apoio a quem a tem.

Aqui há tempos, vi as imagens do filme "Praxis", e fiquei cheio de vontade de ver a minha filha ali agachada com um outro caloiro a fingir que a sodomiza, com um balão pelo meio, e um idiota de óculos escuros e cabelo rapado, de traje, a gritar: "Não é assim que se papa a caloira!" Foi por isso que eu andei a juntar dinheiro para ela ir para a universidade. Se ela não tem ido para a universidade, ainda acabava nalgum bar, a ter de ouvir cenas ordinárias, de uns machos. - "Ai, mas a praxe é uma lição de vida" - se achas isso é porque não sabes o que é a vida. - "Ai, mas a praxe integra" - Também a violação colectiva e uma betoneira com todos lá dentro.

A praxe não tem lugar na universidade. Por alguma razão não existe uma cadeira de luta de cães, uma oral em arrotos, ou uma Universidade Zezé Camarinha. A praxe tem valor de aprendizagem zero. A praxe nunca devia ter saído dos quartéis. Na tropa, onde a submissão tem de ser automática, faz sentido receber os novos com praxe para os integrar naquilo. Na universidade, devia ser o oposto. Deviam ensinar os caloiros a contestar, a evitar conclusões em rebanho, e a não andarem vestidos de escaravelhos. - "Mas um aluno pode dizer que não." E depois? Ninguém devia ter de dizer se quer, ou não, passar por aquilo dentro de uma universidade. É como haver uma disciplina de religião inca com bacanal com animais no pátio da escola, mas só para quem quer. - "Ai, Quadros, mas é tradição." Errado. Com excepção de Coimbra, e é discutível, não é tradição nenhuma. É tanto tradição como o cubo mágico, o ir à picanha, ou o "blockbuster".

"Como é possível que existam universidades onde um aluno tem de assinar um termo de responsabilidade para ser praxado, como se fosse para ser operado ao coração?! "Tens de assinar este termo de responsabilidade, caso me apeteça enfiar-te um hipopótamo e dois coalas pela uretra, e apareçam os donos a reclamar."

Acabem lá com isso.»

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14.9.17

Futurismo tecnológico




E pensar que tinha 30K bytes o «monstro» com que comecei a trabalhar. E já não havia propriamente dinossauros a passear pelas ruas. 
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Dica (626)



Racistas são os outros (Afonso Camões) 

«A questão ganha acuidade quando 18 agentes da PSP estão acusados pelos crimes de tortura, discriminação racial, sequestro e injúria contra jovens de ascendência cabo-verdiana. E mais quando um dirigente da organização SOS Racismo vem acusar o Governo e a generalidade dos partidos com representação parlamentar de não apresentarem medidas eficazes que contrariem a segregação. Mais ainda quando um Comité das Nações Unidas exorta o Estado português a publicar estatísticas sobre minorias étnicas, para poder avaliar a forma "como os direitos económicos sociais e culturais vigentes se refletem nesses grupos". O próximo Censos está previsto para 2021. Até lá, enquanto o Tribunal Constitucional há de decidir se as nossas estatísticas podem incluir, ou não, a recolha de dados sobre a nossa origem étnica, o assunto permanece tabu, a conversa que evitamos. Racistas são sempre os outros. E, se pudermos, passamos adiante. Como se, ignorando a realidade e efabulando o nosso imaginário colonial, pudéssemos fugir à catarse da história.»
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Praxes e selvajaria



Se não há nenhuma lei específica que preveja penalizações para quem afirma e difunde estas bestialidades, será que não se pode aplicar a da criminalização do piropo? É tudo uma questão de habilidade de um bom advogado.


«“O caloiro é incondicionalmente servil, obediente e resignado”; “não é um ser racional”; “não goza de qualquer direito”. As citações são retiradas de um “Manual de Sobrevivência do Caloiro” que está a ser distribuído, nos últimos dias, por alunos mais velhos aos novos estudantes da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP).

No “manual” há uma página em que se elenca um conjunto de “direitos, deveres e permissões do caloiro”. “O caloiro não é um ser racional”, começa por ler-se. As considerações que diminuem a condição dos novos alunos sucedem-se: “A espécie em questão não goza de qualquer direito, salvo o da existência (até por vezes questionável) ”; “O caloiro é assexuado”, “Deve ser sempre moderado no uso da palavra (zurra, grunhe, bale e relincha só quando lhe é dada permissão)”. Mais adiante lê-se ainda: “Não é permitido pensar, opinar, gesticular, buzinar, abanar as orelhas ou pôr-se em equilíbrio nas patas anteriores”.» 
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Reductio ad Portugalum



Ricardo Araújo Pereira na Visão de hoje:


Na íntegra AQUI.
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O PS e o vazio ideológico e político


«O PS está no Governo com base num arranjo parlamentar sui generis na história portuguesa e em muita da história política europeia do pós-guerra. Sabemos que essa aliança foi resultado de um acto defensivo, e que foi de facto uma coligação negativa, para impedir os partidos do PAF de chegarem ao poder. Como solução de conveniência, ela é sólida na defensiva, mas evita discutir qualquer ofensiva, ou seja qualquer futuro. Sempre que essa questão se coloca, a coligação é frágil, como se vê pelo modo como evita discutir qualquer cenário relativo às próximas eleições legislativas. Ora essas eleições vão-se fazer num contexto diferente das de 2015, mas também na sua continuidade. Na verdade, o dilema de 2015, entre o PS, PCP e BE e os defensores do "ajustamento", PSD e CDS, não vai desaparecer de todo, embora seja natural que enfraqueça. Ora, enfraquecendo o dilema político que deu origem à coligação, enfraquecem também os laços entre os partidos PS, PCP e BE, cuja competição eleitoral nas próximas legislativas favorece a direita, muito mais unida quer pelos interesses quer pela política.

Acresce que o balanço positivo destes anos de "geringonça" tem também servido para manter a unidade das forças coligadas, mas não oculta uma contradição que está subsumida em toda a política portuguesa e que tem a ver com as baias da política do Tratado Orçamental e do Eurogrupo e as necessidades de desenvolvimento do País. Ora a conjuntura tem sido muito favorável, mas não deixa de ser conjuntura, enquanto que as imposições "europeias" são estruturais.

A euforia actual é boa para a propaganda, mas má para a cabeça. O que tem sido possível nos últimos anos, e esse é o grande mérito do Governo PS e dos seus aliados, é inverter o alvo da austeridade, permitindo alguma folga salarial, no emprego e nas reformas e pensões, particularmente nos sectores mais empobrecidos da sociedade. A mudança de discurso é igualmente relevante, e tem papel nas expectativas, e as expectativas têm um valor económico e social. Mas é mais o alívio pelo fim da política da troika, do que o fim da política da troika, que continua, a começar pela obsessão do défice zero, a melhor garantia de que um país como Portugal está condenado a longos anos de estagnação. Como Cavaco Silva e Passos Coelho admitiram, a política que apoiavam e seguiam era para décadas de "ajustamento", e tinham razão no tempo, embora estivessem completamente errados nos resultados e no menosprezo pelos factores democráticos que afectam a economia, como se viu nas eleições legislativas com o milagre da "geringonça".

Dito isto tudo, a questão é saber por que razão o PS, o partido mais interessado em discutir a actual situação e o seu desenvolvimento futuro, um partido que sempre se gabou do seu papel "intelectual", foge como o diabo da cruz a fazer essa análise e discussão. A resposta é simples e é má: o PS tornou-se um partido de poder com uma nomenclatura pouco diferente nos seus interesses da do PSD, com quem partilha esta morte "teórica". Está à espera que Costa e o seu grupo decidam ou dos aspectos mais pragmáticos das relações na coligação, e por isso não quer, como o PSD não quer, qualificar o debate político. Este é um dos factores da crise política da democracia e favorece o populismo.»

13.9.17

Grécia: lê-se e não se acredita




Isto é tão louco que li duas vezes para perceber! Fica um excerto, leia-se o texto na íntegra.

«Thousands of unemployed taxpayers with no income at all or very low one have been called to pay disproportionately high taxes between 2,000-4,500 euro. Why this? Blame the so-called deemed income criteria that calculate a fictitious tax according to living conditions and not real income.

The absurdity of this taxation measure goes back to an IMF inspired taxation law of 2013 according to which a taxpayer needs X amount per year in order to maintain a residence (whether owned or rented) and a car as wells as another X amount for personal needs incl food.» 
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Make America Great Again?




Se é isto, aos abrigos: a dita América recuou uns séculos!
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Agora, a casa de Fernando Medina



Não serei eleitora de Medina, mas considero esta politiquice da última hora, em vésperas das autárquicas, de uma baixeza inacreditável. Uma denúncia anónima e lá vai o MP ser obrigado a investigar. Um país de «poucochinhos», é o que é.


A ler, o esclarecimento feito pelo próprio: Transparência
 

Até a Europa se move!



Andamos por aqui ocupados com minudências e nem reparamos que o mapa da União Europeia já não é aquele que sempre julgámos conhecer.

Tancos furtado? Ninguém à porta



«Em recente entrevista à TSF e ao DN, o ministro da Defesa Nacional veio dizer que, após os acontecimentos de Tancos, em finais de Junho, na verdade estamos na mesma. Após o mea culpa das chefias militares, de uma inaudita conferência de imprensa das chefias dos três ramos das Forças Armadas e do poder político, capitaneado por António Costa, Azeredo Lopes veio confirmar-nos, com aparente candura, que, no essencial, continua “em branco” quanto aos gravíssimos acontecimentos de Tancos. Em qualquer democracia responsável já haveria um completo apuramento do que sucedeu e de eventuais responsáveis. No nosso sui generis regime, tudo é diferente. (…)

Não quer o ministro embandeirar em “teses de conspiração”, mas lá vai dizendo que o material guardado nos paióis pode nem sequer ter sido furtado, mas a sua falta resultar de uma ausência de controlo do que aí é conservado, podendo até ter sido utilizado em exercícios militares sem se ter procedido ao respectivo abate cadastral. Se é exacto que a responsabilidade directa, em tal hipótese, é das chefias militares, o certo é que a responsabilidade política é ministerial e Azeredo Lopes não se pode comportar como um qualquer CEO. Sei bem que cada vez mais se pretende que a gestão da coisa pública se assemelhe a uma vulgar empresa. Mas não o é. Sobretudo no que tange à Defesa nacional.

Por rectas contas, o que o ministro nos veio dizer, com um ar plácido e como se aludisse à maior normalidade do mundo, é que num episódio tão preocupante e que pode colocar armas em circuitos ilegais, numa época em que a ameaça terrorista paira sobre todas as latitudes, é normal ele ainda não saber nada. O que demonstra a nossa capacidade secular de normalizar o anormal, comunitarizando as responsabilidades até ao ponto em que elas se diluem tanto que “a culpa morre solteira”.

Como cidadãos temos o direito de saber o que sucedeu em Tancos com todos os pormenores, nos limites do segredo de Estado. (…) Um ministro que não sabe o que se passa na sua casa perde credibilidade para tudo o mais. (…) Este é, para mim, o ponto mais saliente da sua entrevista — a naturalidade com que afirma o seu desconhecimento, numa espécie de “falta de consciência da ilicitude” (política). A máxima socrática do “só sei que nada sei” é uma prova de humildade intelectual que muito prezo, mas, neste específico caso e na gestão pública, arrisca-se a ser apelidada de incompetência.

Repare-se, por fim, que as declarações em causa não foram “infelizes”, mas parecem corresponder àquilo que Azeredo Lopes efectivamente considera adequado sobre Tancos. Não foram afirmações que saíram mal, antes um credo do modo como o ministro encara as suas funções. Assim sendo, nada mais há a dizer, excepto ressaltar que, por muito que se repita que o anormal é normal, a realidade impõe-se com a certeza de que depois de segunda-feira virá a terça. Não se leia aqui qualquer apoio ao regresso de Cavaco Silva ao mundo dos vivos, mas a verificação de que a realidade política é sempre mais imaginativa que a realidade do dia-a-dia.»

12.9.17

Que cada um se situe


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Geraldo Vandré, 82 - «Quem sabe faz a hora»



Geraldo Vandré nasceu em 12 de Setembro de 1935, iniciou a carreira nos anos 60 e algumas das suas canções tornaram-se ícones da oposição ao regime militar de 1964. A mais conhecida, muito cantada em Portugal antes do 25 de Abril por razões óbvias, é certamente «Pra não dizer que não falei das flores».

Muito conhecido não será talvez este episódio:








Dica (625)




«O MP considera que manter aquelas 18 pessoas em funções é um perigo para a comunidade. Um perigo tanto maior - e estranha-se que o MP não o frise - quanto essa manutenção implica que lhes continua a ser autorizado o uso de força, e nomeadamente de força letal, através da arma de fogo que lhes é confiada. Portanto o que devemos ler nestes excertos é que há 18 pessoas com licença para matar atribuída pelo Estado que o MP considera um perigo para a comunidade, enquanto por sua vez a PSP considera que estão capacitadas para permanecer, armadas, ao seu serviço - e com a função de zelar pelo cumprimento da lei e pela segurança dos cidadãos.» 
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Macron não cede, a rua também não

O tempo das frases ocas



«Nos idos da monarquia constitucional discutia-se com vigor temas que não nos são muito estranhos. Afinal Portugal é um país de ciclos, que funciona como uma espécie de montanha-russa, em altos e baixos vertiginosos, que tiram a respiração e a sensatez a qualquer um.

Nesses tempos da década de 20 do século XIX, a que Oliveira Martins chamaria "o reinado da frase e do tiro", para lá do caos político e do fantasma sempre presente da dívida externa, seriam criadas condições para a institucionalização da apropriação do Estado e dos bens nacionais por um pequeno grupo que mudou de faces ao longo do tempo, mas não de postura. Chamavam-lhes "os devoristas". Nesses dias o jornal O Nacional escrevia que o governo seguia duas regras: "Quem pilhou, pilhou" e "quem não pilhou, pilhasse". A "escrituração do tesouro" revelava outro editorial, era feita por "partidas singelas e muito singelas" - "deve, há-de haver e Venha a Nós". A gestão do Estado no pós-25 de Abril tem seguido esse princípio: por isso engordou à conta dos interesses partidários. E não do interesse nacional. Por isso emagrecê-lo é impossível e desburocratizá-lo ainda mais.

Basta olharmos para a infeliz comédia sobre "onde pára o dinheiro" de Pedrógão, para se perceber o caos instituído que está depois ligado à incompetência e à política partidária em vésperas de autárquicas. A pobreza da campanha eleitoral para as autárquicas está a reconduzir-se a um candidato em Loures que, para ser reconhecido, vai dizendo uns dislates que contaminaram o discurso do partido que o apoia e o pedido de aeroportos para cada canto do país. Há dias assisti a um debate dos candidatos a Leiria e era fascinante ver alguém a pedir um aeroporto quando, por muito menos dinheiro, se propunha um comboio mais rápido para estar em 45 minutos em Lisboa. Tudo isto demonstra a frágil sociedade civil que vai assistindo como pode a este fogo-de-artifício. É espantoso como, depois destes fogos que destruíram parte de Portugal, muita da campanha não dedique uns segundos à forma de regular a floresta, de compreender a destruição da fauna e flora que vai desertificar ainda mais o interior, de discutir a gestão da água, que será um bem precioso. Isso parece ser irrelevante face a aeroportos para atrair o turismo.

Tudo isto tem contaminado a discussão política, muito fraca como se tem visto nos últimos meses. Com um Governo que se senta confortavelmente nos dados económicos, uma oposição que ainda não conseguiu deixar o luto de não ser Governo, e um sector de esquerda que julga que o Estado se tornou uma mina de ouro e se vai entretendo a desgastar a maior empresa industrial nacional, a Autoeuropa, por motivos de liderança partidária, que se pode esperar? O que se vê à volta: a falta de capital nacional e uma inexistência de um modelo de desenvolvimento sustentável. No tempo da monarquia constitucional, o regenerador Gomes de Castro dizia que: "Adeus, bancos, adeus, estradas, adeus, tudo, tudo, tudo." Neste tempo em que os portugueses acreditam que superaram a crise, apesar de a austeridade continuar por aqui, seria bom construir as traves do futuro. Mas esse tema parece não interessar muito neste tempo de frases ocas.»

11.9.17

Tão simples...


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Aquella mañana...



Luis Sepúlveda, hoje, no Facebook:

Algún día los jóvenes chilenos abrirán un libro de historia y leerán que, la mañana del 11 de septiembre de 1973, en el palacio de La Moneda medio en llamas y recibiendo fuego graneado de los más de dos mil soldados desplegados rodeándolo, un grupo de hombres resistía.

Leerán que eran tan jóvenes como ellos, llenos de sueños, esperanzas, planes de futuro, pero habían decidido permanecer junto al hombre que representaba esos sueños y esperanzas. Ese hombre se llamaba Salvador Allende, y los que resistían junto él eran los integrantes del GAP -Grupo de Amigos Personales- con el mismo Allende denominó a su escolta formada por militantes socialistas, y un grupo de detectives leales a la constitución chilena.

Esos jóvenes leerán que a esa hora, desde el vecino ministerio de obras públicas, otro grupo del GAP disparaba sobre las tropas golpistas con la idea de establecer un pasillo de seguridad que permitiera la salida del Compañero Presidente.

A gritos, porque no funcionaban ni los teléfonos ni los walkie talkies, los GAP comandados por "Patán" comunicaron a los defensores de LA Moneda que mantendrían fuego graneado sobre las tropas, y que necesitaban un tirador desde La Moneda para establecer fuego cruzado.

Los jóvenes de mañana leerán que en ese momento Antonio Aguirre Vásquez, GAP, se echó sobre los hombros la cinta de proyectiles e instaló la ametralladora punto 30 en uno de los balcones de La Moneda.

Los jóvenes de mañana se preguntarán tal vez por qué no salió Allende bajo la protección del fuego cruzado de los GAP, y hasta ellos llegará la voz alta y firme de otro combatiente, "Eladio": ¡El doctor dice que se quedará hasta el final.Y nosotros también! Y los jóvenes de mañana leerán que a esa hora un puñado de hombres valientes, los GAP y los detectives leales, entraron a la historia de los héroes, y se sentirán orgullosos.

¡Honor y Gloria a los combatientes de La Moneda! 
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Shame on you, Mr. Trump

Chile, 11.09.1973







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11.09.2001 – NY



One World Trade Center, com 102 andares, aberto ao público em Maio de 2015. Perto do 9/11 Memorial, nele se encontra o One World Observatory, com 360º de vista sobre NY.

Com o requinte das novas tecnologias, é possível localizar e focar, num tablet, cada edifício ou espaço importante de Manhattan e ver, em detalhe, a sua estrutura, história e funcionalidade.
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Pedrógão Grande espera



«Quase três meses depois, o dinheiro doado para ajudar as vítimas de Pedrógão Grande ainda não chegou a todos os que precisam. Entre donativos de anónimos, famosos e várias contas solidárias abertas, o valor já chega aos quinze milhões de euros. Eu acho que esta notícia tem tudo que ver com outra que marcou esta semana. A confiança dos portugueses alcançou os 82 pontos, no segundo trimestre deste ano, o valor mais alto alguma vez registado em Portugal. É impossível não associar uma à outra. É o problema da confiança dos portugueses estar a níveis nunca vistos. Estamos demasiado confiantes. Entregamos o dinheiro a qualquer pessoa e confiamos que vai mesmo para Pedrógão.

Já me pus a pensar e, se calhar, metade da massa de Pedrógão foi para o SIRESP. São os que mais precisam. Até estranho a malta do SIRESP não nos cravar leite e barras energéticas. Ou: "Tragam um cozido à portuguesa, aqui à sede do SIRESP, que os nossos quadros superiores estão cheios de larica."

Se eu fosse a Porto Editora, editava um labirinto, unissexo, com vinte páginas, onde tínhamos de ir dar com o dinheiro de Pedrógão Grande. Onde é que anda a massa? Eu começo logo a imaginar como estão as casas dos indivíduos que ficaram com a massa de Pedrógão. Aposto que têm piscina. As pessoas de Pedrógão, depois do que passaram, têm de andar atentas porque há uns focos de gatunagem? "Ai, estamos desconfiados que isto é gamanço posto."

Entretanto, o Governo já admitiu que pode estar a ser feito um aproveitamento abusivo de subsídios. Apesar de afirmar que "o risco é muito limitado", o ministro Vieira da Silva avisa que se algum problema for detectado, a justiça entrará "em campo". E depois de uma investigação, a PSP vai concluir que foi um raio que atingiu o dinheiro de Pedrógão.

Segundo li, as Misericórdias gastaram, até agora, apenas perto de 12.000 euros do fundo de 1,6 milhões e, provavelmente, foi num jantar, numa marisqueira, para combinar quando entregam o dinheiro. Sempre são três meses a render juros. Tenho a teoria de que a Cáritas anda a criar excêntricos todas as semanas.

Custa assim tanto pôr o dinheiro onde é necessário?! As Misericórdias não podiam contratar o ex-motorista do Sócrates? Três meses?! Só se é porque agora é que eles estão a ver a dificuldade de viver no interior, e estão há três meses a tentar lá chegar com o dinheiro e não conseguiram transporte.

Somos um país que demora três meses a fazer chegar 15 milhões a Pedrógão Grande mas onde, num instantinho, se põem vários milhares de milhões nas ilhas Caimão. O dinheiro dos pobres rasteja, o dos ricos voa.»

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10.9.17

Dica (624)


 


«From China to North Korea, this region is on the rise. The European Union can compete, but only by sticking together.» 
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Wishful thinking bacoco no masculino



O Expresso Economia de 08.09.2017 traz esta notícia e a lista dos 40 nomes já escolhidos depois de várias etapas de selecção. Entre eles, serão «eleitos» os 10 primeiros.

Divirtam-se com previsões destas, que já vi caírem que nem tordos, mas nem é isso que me interessa: nos 40 nomes, há apenas 5 de mulheres. Em que galáxia pensa esta gente que vai continuar a viver? 
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E quanto a Tancos, estamos (quase) conversados




E eu que disse a tanta gente que se deixasse de teorias da conspiração, penso agora que das duas, uma: ou material foi «desaparecendo», ou (hipótese defendida cada vez por mais pessoas) nunca existiu em Tancos e trata-se de compras fictícias realizadas ao longo de anos.

A ver vamos. Ou não.
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Cavaco, a realidade e o pio



«“A realidade acaba sempre por derrotar a ideologia, e isso projeta-se com uma força tal contra a retórica daqueles que no Governo querem realizar a revolução socialista que eles acabam por perder o pio. Ou fingem apenas que piam, mas são pios que não têm qualquer credibilidade porque não são mais do que jogadas partidárias.” Quem se surpreendeu com o Cavaco da Universidade de Verão do PSD deveria recordar que foi disto, e deste mesmo tom de arruaça, que se fez a maioria das suas intervenções públicas destes longos, muito longos, 21 anos de cargos políticos, especialmente os dez em que foi primeiro-ministro. Além da muita gente que ainda acredita que este tenha sido o mais institucional dos Presidentes, é o próprio Cavaco que parece andar há décadas a autoconvencer-se de que é, e foi, um homem "ponderado e sensato, com equilíbrio e racionalidade", que "não pode deixar-se arrastar por pulsões emocionais ou afetar pelas tensões" (prefácio a Roteiros VII, 2013).

O homem que de si próprio se atreveu a dizer que “para serem mais honestos do que eu tinham que nascer duas vezes” (campanha presidencial de 2011) descascou ressabiadamemte na "verborreia frenética" do atual Presidente da República sem sequer ter a frontalidade de o nomear. Cavaco — falando retroativamente de si — entende “a palavra presidencial" como "devendo ser escassa", tanto quanto a de um "Presidente Júpiter, um Deus de palavra rara no seu Olimpo” — mas, no mesmo dia e à mesma hora, descreve como "pios" a intervenção política do PCP e do BE, que, segundo ele, defendem a saída do euro, ou define como não menos que "revolução socialista" o programa "daqueles que [estão] no Governo", pelo que se deduz que se tratem dos próprios socialistas. Reformistas tão moderados como Centeno são, afinal, revolucionários, e dos mais radicais!

Valia a pena perguntarmo-nos por que se junta Cavaco àqueles que, à direita, parecem queixar-se de que PCP e BE tenham deixado de "piar". Um dia, na Autoeuropa, na PT ou na Função Pública, os comunistas são "irresponsáveis" e "extremistas"; no outro, perderam o pio. Mas quero focar-me nestes "pios" de Cavaco feitos de manipulação deliberada dos termos com que se descreve a realidade, e sobretudo com que se descreve o adversário, as suas intenções e a sua intervenção.

Já o escrevi aqui: ninguém desde a queda de Salazar encarnou melhor do que Cavaco o que é, bem lá no fundo, a direita portuguesa, por mais Marcelos, Paulos Portas, Durões e Passos que apareçam. Cavaco voltou a enunciar o essencial da sua visão do mundo: a de que a realidade é de direita (conservadora nos valores; hierárquica e desigualitária na ordem social e política; na economia, liberal nas intenções e corporativista na prática), a esquerda é que é ideológica, e a ideologia (isto é, o que Cavaco e a direita acham que ela é) é feita de “delírio e ignorância”, como voltou ele a dizer há dias. Esta é, aliás, uma das suas obsessões recorrentes sobre a natureza da mudança social em geral, e a da Revolução Portuguesa de 1974-76 em particular: para Cavaco, aquele não foi mais do que um período de "loucura política" (Autobiografia, vol. I, 2002) e "loucura ideológica", como dizia ele em 1987 sobre os movimentos sociais no Sul. É por confundir a sua própria ideologia com a realidade que a direita acha, mais do que "loucura", inútil tentar mudá-la porque ela "acaba sempre por derrotar a ideologia".

Claro que, para Cavaco, ideológico não foi o devastador "ajuste" austeritário que Passos e a troika fizeram, apesar de confrontado com uma realidade que confirmava o seu fracasso (aumento exponencial da dívida). Pelo contrário, tratou-se da necessária correção de "desequilíbrios traduzidos na vulgar expressão 'Portugal vive acima das suas possibilidades'"; se o não fizesse, "Portugal deixaria de ser um Estado que honra os seus compromissos". Com o seu próprio povo? Não: com "os Estados, as organizações internacionais" e os "investidores" (Prefácio, ...). Ideologia, isto? Não: simplesmente moral. Opor-se a privatizações ou cortes arbitrários nos salários, da mesma forma que denunciar o racismo ou o sexismo, isso é que é ideológico!»

Manuel Loff