16.5.18

Entre o xadrez e o Go



«Henry Kissinger dizia que havia uma grande diferença entre a China e o Ocidente no que se referia às relações entre Estados. A China utilizava a estratégia do Go, o Ocidente preferia a do xadrez. Não poderia ser mais incisivo. Os dois jogos têm objectivos diferentes. Como se sabe, o Go representa a luta pelo domínio territorial (e, eventualmente, a captura de pedras que podem ser utilizadas a favor do captor). Nele, cerca-se para se tomar o território em disputa. O xadrez, pelo contrário, é um jogo de tomada de poder que é representado pelo xeque-mate ao rei. Mesmo que haja domínio territorial, a partida será perdida se não for possível defender o rei. As duas concepções do jogo, e do mundo, são cada vez mais claras nos dias de hoje. A estratégia do Go vai sendo desenvolvida pela China em todos os territórios do planeta. Frente à debandada ocidental, em que Trump procura desagregar a União Europeia enquanto compra uma carapaça de Ninja Verde para proteger os EUA, Pequim vai ocupando espaço. Por isso, independentemente do preço oferecido na OPA sobre a EDP, o que está aqui em jogo é algo mais vasto. É uma questão de vitória estratégica.

A possibilidade de empresas chinesas, ligadas ao Estado, controlarem totalmente a EDP parece estar a causar um "irritante" nos EUA, em Bruxelas e mesmo na Alemanha. Já se fala na possibilidade de regras mais severas contra a entrada de capitais chineses nas empresas ocidentais. Não se entende o alvoroço destas damas ofendidas. Foi a UE que forçou os países como Portugal e a Grécia a vender ao desbarato sectores estratégicos estatais (já nem se fala da "resolução" do BES) por causa da "necessária" austeridade. Comprou quem tinha capital: os chineses. Azar. Na Grécia, essa política de garrote continua activa e mais empresas estatais irão parar a mãos chinesas. Sem visão de longo prazo, a UE empurrou países devedores como Portugal para todas as soluções de recurso. Agora critica-se Lisboa ou Atenas pelo que fez ou faz. A burrice é a política oficial de Bruxelas.»

Fernando Sobral
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